Dólar supera R$ 5,40 e Ibovespa cai após fala de Haddad a banqueiros
Mercado reage à percepção de que ele é o favorito ao cargo de ministro da Fazenda, sem sinalizar sobre a política fiscal
Economia|Do R7
O dólar disparou nesta sexta-feira (25), superando os R$ 5,40, o maior patamar em quatro meses, após o discurso do ex-ministro Fernando Haddad num evento da Febraban, em meio à percepção de que ele é o favorito ao cargo de ministro da Fazenda do novo governo. No entanto, ele não deu sinalizações concretas sobre a política fiscal do novo governo ao falar em nome do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A moeda americana à vista saltou 1,84%, indo a R$ 5,4079. Foi sua maior valorização percentual diária desde o último dia 10 (+4,10%) e o patamar de encerramento mais alto desde 22 de julho passado (R$ 5,4976). Na semana, o dólar avançou 0,61%, a terceira seguida de ganhos.
Já o Ibovespa encerrou a última sessão da semana em forte queda, com agentes financeiros reagindo a incertezas sobre o rumo fiscal do país. O índice de referência do mercado acionário brasileiro caiu 2,55%, fechando a 108.976,70 pontos.
O volume financeiro somou R$ 20 bilhões, afetado pelo fechamento antecipado de Wall Street, ainda em razão do feriado do Dia de Ação de Graças, que voltou a reduzir a liquidez na bolsa paulista.
Na semana, porém, o Ibovespa contabilizou um acréscimo de 0,1%, endossado particularmente pela alta de 2,7% na quinta-feira (24), marcada pelo giro financeiro enxuto com o feriado nos Estados Unidos e pela estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo.
Haddad defendeu nesta sexta-feira a melhora da qualidade do gasto público, mas não mencionou nenhum mecanismo de controle de despesas, ressaltando que estava no evento para falar em nome do presidente eleito.
O comentário entre investidores é de que Haddad não deu muitos detalhes de como será a postura fiscal do governo Lula, nem sanou dúvidas sobre como será o desenho final da PEC do estouro.
Além disso, a participação do ex-prefeito de São Paulo no evento foi entendida como mais uma evidência de que Haddad será nomeado ao cargo de ministro da Fazenda, embora ele tenha driblado perguntas diretas sobre essa possibilidade e afirmado que não foi convidado para o cargo até o momento.
"Haddad é cotado como ministro, mas não deu nenhuma sinalização mais concreta, e Lula também não deu. Isso gerou certa instabilidade no mercado. A gente pode ver o câmbio se desvalorizando, mas muito mais pelas faltas de certezas; acho que é o grande ponto", disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Aos olhos de investidores, Haddad não tem um perfil muito técnico e provavelmente será inclinado a flexibilizações das regras fiscais do país caso assuma a pasta econômica do governo eleito.
Anilson Moretti, chefe de câmbio da HCI Invest e planejador financeiro da Planejar, também citou preocupações com a PEC da estouro, notando o amplo esforço da ala petista do governo eleito para aprovar gastos extrateto por tempo estendido. A proposta inicial da PEC embute gastos de quase 200 bilhões de reais fora das regras fiscais do Brasil, por período indeterminado.
Além disso, as dificuldades de articulação do governo eleito com o atual Congresso levaram alguns parlamentares a ressuscitar a ideia de deixar de lado a PEC e optar por uma medida provisória para liberar créditos extraordinários, no caso de não se conseguir negociar o extrateto para o programa Bolsa Família para mais de um ano — o que Moretti citou como mais uma incerteza.
"Se acontecer algo de muito ruim para o teto fiscal, o dólar vai lá para cima", alertou o especialista, acrescentando que, se a moeda americana romper de forma sustentada as barreiras técnicas de R$ 5,40 a R$ 5,45, pode chegar a transitar em níveis ainda mais altos ao longo dos próximos meses, acima de R$ 5,70.
Enquanto isso, no exterior, o dólar tinha alta bem tímida contra uma cesta de seis pares fortes nesta sexta-feira, em sessão de liquidez reduzida devido ao feriado do Dia de Ação de Graças da véspera.
Moretti disse que a semana que vem promete ser de "fortes emoções", já que trará dados de emprego americanos e volatilidade adicional aos negócios, devido ao fim do mês.