Em ata, Copom prevê alta menor de juros na próxima reunião em meio a ‘cenário adverso’
Banco Central avalia que aperto monetário foi necessário para convergência da inflação à meta em cenário de ‘elevada incerteza’
Economia|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulgou nesta terça-feira (25) a ata da reunião da semana passada, quando aumentou em 1 ponto percentual a taxa de juros, para 14,25%.
A decisão foi unânime e contou com o apoio de Gabriel Galípolo, presidente da autoridade monetária. No documento, o BC avalia que, na próxima reunião, em maio, deve haver um novo aumento da Selic, mas de menor magnitude.
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“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”, diz o texto.
Segundo o Copom, o aperto monetário foi necessário para a convergência da inflação à meta em um cenário marcado por “expectativas desancoradas, projeções elevadas de inflação e resiliência na atividade”.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, informou.
Para além da próxima reunião, o comitê reforçou que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Na reunião da semana passada, o BC aumentou a Selic para 14,25% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2016. A alta foi a quinta consecutiva desde setembro do ano passado.
A nova taxa valerá ao menos pelos próximos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional.
Entre os pontos analisados pelo grupo, estão o “ambiente externo desafiador” em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos.
Análise do cenário econômico
No entendimento do Copom, o cenário gera mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed (banco central norte-americano) e acerca do ritmo de crescimento nos demais países.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, disse o comunicado.
No âmbito nacional, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm apresentado dinamismo, “ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento”.
Inflação
O Comitê chama a atenção para a inflação brasileira acima da meta e crescimento nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2025 e 2026, apuradas pela pesquisa Focus, aumentaram de forma relevante e situam-se em 5,7% e 4,5%, respectivamente.
“As expectativas de inflação elevaram-se novamente em todos os prazos, indicando desancoragem adicional e tornando assim o cenário de inflação mais adverso. A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, ressalta o documento.
Políticas fiscais
O Copom também evidencia, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas.
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, aponta.
Preço dos alimentos
Para o Comitê, o cenário de inflação a curto prazo segue “adverso”. Um dos principais pontos são os preços dos alimentos, que mantêm-se elevados e tendem a se propagar para outros preços no médio prazo em virtude da presença de “importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
Além disso, segundo o Copom, a inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima do limite superior nos próximos seis meses consecutivos, contados desde janeiro deste ano. “Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia o descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, destaca.
Última reunião
Em um comunicado liberado logo após o término da última reunião, no dia 19 de março, o comitê explicou que a decisão implica uma “suavização das flutuações” do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
“O cenário interno da economia, marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, exige uma política monetária mais contracionista, o que justifica a alta da Selic”, informou o BC.
