Especialistas e entidades defendem diálogo político entre países para definir tarifas
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Economia|Do R7, em Brasília

Com o anúncio do presidente Donald Trump de uma tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros, especialistas em comércio exterior recomendam cautela na resposta do Brasil.
A avaliação predominante é de que o cenário atual exige reforço nas frentes diplomáticas, sobretudo diante da instabilidade tributária e tarifária, com potencial de prejuízos relevantes para setores ligados ao comércio internacional.
Em entrevista à RECORD nessa quinta-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil vai priorizar a negociação em um primeiro momento, mas não descartou retaliar os Estados Unidos com a mesma tarifa de 50%.
“O que mais vai valer é o seguinte: nós temos a lei da reciprocidade, que foi aprovada no Congresso Nacional. E não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas se não tiver negociação, a lei da reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50 de nós, nós vamos cobrar 50 deles.”
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Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos beneficia amplamente os norte-americanos. Ele diz que “o Brasil precisa evitar retaliações precipitadas”.
“A diplomacia representa o caminho mais sensato. Menor integração comercial entre os dois países significa menor crescimento — e o prejuízo recai principalmente sobre setores expostos ao mercado externo. O impacto no PIB pode variar de 0,3% a 1,2%, considerando efeitos indiretos”, afirma.
Bancada ruralista
A FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), que representa a bancada ruralista no Congresso, compartilha da mesma leitura. Para a entidade, a medida compromete diretamente o agronegócio nacional, pressionando o câmbio, encarecendo insumos e reduzindo a competitividade das exportações.
“É hora de cautela, diplomacia afiada e atuação firme do Brasil nas negociações. O diálogo diplomático continua sendo a via mais estratégica para restabelecer entendimento”, destacou a FPA.
Eyng acrescenta que, embora severa, a decisão segue um padrão conhecido. Trump costuma anunciar tarifas elevadas, que posteriormente entram em processo de revisão.
“O momento requer atenção segmentada, não alarmismo. O mercado tende a se ajustar. Cadeias produtivas consolidadas buscam alternativas, e o Brasil possui capacidade para reorganizar seus fluxos”, avalia.
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Primeiros impactados
Para Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, o agronegócio e a indústria exportadora devem sentir os primeiros impactos. Ele chama atenção também para os efeitos indiretos sobre cadeias globais, principalmente nos segmentos de alimentos, minérios e insumos industriais.
“A resposta brasileira passa por reforçar a diplomacia econômica e acelerar a diversificação de destinos comerciais. Reavaliar políticas industriais e ampliar incentivos à inovação, sobretudo em áreas como energia renovável e descarbonização, pode reposicionar o país no cenário global”, observa.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil também enfatizou a importância do diálogo e do equilíbrio institucional, classificando a decisão americana como “um ataque sem precedentes ao Brasil no comércio internacional”.
João Kepler, CEO da Equity Group, defende reação estratégica e inteligente.
“O país precisa ampliar acordos com outras economias e fortalecer o ecossistema interno. Tarifas agressivas demandam mais do que reação política — exigem medidas econômicas ancoradas em inovação, diversidade de mercados e protagonismo internacional”, argumenta.
Falta de diálogo
A Fecomércio-SP criticou a falta de diálogo e lamentou que medidas com alto impacto tenham sido tomadas sem consulta prévia.
“A entidade reafirma a convicção de que o desenvolvimento sustentável depende da abertura de mercados, do respeito às normas internacionais e do fortalecimento das vias diplomáticas. Relações comerciais duradouras se constroem com previsibilidade, entendimento mútuo e políticas que promovam equilíbrio e prosperidade”, declarou a entidade.
Na avaliação de Alessandra Brandão, advogada tributarista e sócia do MTA, o aumento tarifário eleva toda a cadeia de tributos relacionados à importação.
“Se um produto custa 100 e recebe tarifa de 50%, a base de cálculo salta para 150. Esse efeito cascata impacta inclusive os insumos usados em outros processos produtivos, elevando os custos e, por consequência, os preços ao consumidor”, explica.
Segundo ela, o caminho das negociações é complexo, mas a expectativa recai sobre uma atuação técnica e política coordenada, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
“O momento exige diplomacia, mas também firmeza na defesa da soberania nacional e da segurança jurídica nas decisões internas”, conclui.
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