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O paradoxo que está atrasando a revolução da energia limpa

Segundo pesquisas, quanto mais eficiente a produção energética, maior o desperdício — o que pode ser um sinal do nosso futuro

Economia|Do R7

Com um milhão e duzentas mil luzes de LED brilhando intensamente na noite de Las Vegas, a Sphere pode muito bem ser o símbolo máximo do excesso dos anos 2020. Mas esse gigantesco espaço de entretenimento – que é também a maior tela do mundo – é mais do que isso: é um símbolo da próxima colisão entre nossas metas climáticas e nosso apetite de consumo aparentemente insaciável.

Na década de 1990, quando as luzes de LED multicoloridas foram inventadas por cientistas japoneses depois de décadas de pesquisa, a esperança era que ajudassem a evitar a catástrofe climática, reduzindo muito a quantidade de eletricidade que usamos. Parecia algo perfeitamente intuitivo. Afinal de contas, as lâmpadas de LED consomem 90 por cento menos energia e duram cerca de 18 vezes mais do que as lâmpadas incandescentes.

Charles Desmarais/The New York Times

No entanto, a quantidade de eletricidade que consumimos para iluminação no mundo inteiro é praticamente a mesma hoje do que em 2010. Isso se deve em parte ao crescimento populacional e econômico no mundo em desenvolvimento, mas outro grande motivo está na Las Vegas Strip: em vez de simplesmente substituir as lâmpadas existentes por alternativas de LED, criamos usos cada vez mais extravagantes para essas luzes cada vez mais baratas, desde LEDs imersivos e carpetes que brilham até quadras de basquete que podem reproduzir vídeos. Com o avanço da tecnologia, nosso desperdício só aumentou.

Há um termo econômico para isso: o Paradoxo de Jevons, batizado em homenagem ao economista inglês do século XIX William Stanley Jevons, que percebeu que, à medida que os motores a vapor se tornavam cada vez mais eficientes, o apetite britânico por carvão aumentava em vez de diminuir.


Conhecemos o Paradoxo de Jevons há anos, mas ele está se tornando um problema mais preocupante agora que os governos se comprometeram a eliminar suas emissões líquidas de carbono para desacelerar o aquecimento global. Espera-se que uma parte significativa dessa redução de carbono venha do uso de produtos mais eficientes, sejam eles motores elétricos em substituição aos motores de combustão interna, sejam lâmpadas de LED em lugar das lâmpadas tradicionais. Mas a lógica de Jevons é que, em vez de armazenar a economia de eficiência que obtemos com o avanço da tecnologia, nossa tendência é gastá-la.

Os ativistas climáticos estão preocupados com o Paradoxo de Jevons, uma vez que as empresas de combustíveis fósseis o invocam como desculpa para continuar escavando e perfurando. Mas é pouco provável que consigamos atingir nossas metas climáticas enquanto não reconhecermos essa característica da natureza humana e trabalharmos com ela.


Hoje, é possível identificar exemplos desse paradoxo em toda parte. Os servidores que operam a internet estão consumindo menos energia, mas seu uso disparou. Nos últimos anos, as geladeiras se tornaram incrivelmente eficientes (sobretudo por causa de compressores inteligentes) – tanto que o consumo total de energia da refrigeração caiu pela metade desde o início da década de 1980, mesmo com o uso de geladeiras cada vez maiores.

Mas esses mesmos compressores inteligentes e eficientes também são usados em condicionadores de ar, e a demanda de energia desses aparelhos em residências, carros, escritórios e farms de servidores aumentou nesse período. O resultado é que o consumo total de energia para resfriamento, de maneira geral, permaneceu estável.


Há alguns anos, economistas da Universidade de Cambridge descobriram que, quando os moradores da Inglaterra e do País de Gales passaram a aplicar isolantes térmicos em casa, a demanda geral de energia para aquecimento logo se recuperou, chegando ao mesmo nível de antes: aparentemente, os moradores optaram por aumentar a temperatura dos aquecedores e viver em uma residência mais quente.

A boa notícia é que, em alguns casos, os ganhos de eficiência são tão grandes que nem mesmo nosso apetite insaciável por novidades é capaz de anulá-los completamente. Os LEDs estão melhorando a uma velocidade tal que, apesar de estruturas como a Sphere, a demanda energética decorrente da iluminação comercial nos Estados Unidos continua menor do que há uma década. Os motores dos carros atuais requerem tão pouco combustível em comparação com seus antecessores que, embora os americanos, em média, agora dirijam distâncias maiores em carros mais pesados, seu consumo de gasolina diminuiu.

Em outras palavras, o aumento do consumo nem sempre anula os avanços tecnológicos, como era o caso na época de Jevons. De fato, há provas de que, à medida que os países se tornam mais ricos, há menos desse "efeito rebote", como os economistas às vezes chamam esses saltos no consumo. Tomemos como exemplo o aço e o cobre que nos rodeiam, nos carros que dirigimos e nos fios de nossos edifícios. Durante séculos, nosso apetite por esses metais aumentou rapidamente, mas, nos últimos anos, o uso de aço e cobre per capita na maioria dos países ricos parece ter se estabilizado, conforme reciclamos mais e buscamos menos expansão. Em algum momento, "o suficiente" de fato é suficiente – ou quase.

A má notícia é que o Paradoxo de Jevons parece ser algo intrínseco a nós. Há poucos exemplos ao longo da história de pessoas que consomem voluntariamente menos energia – por motivos morais ou ambientais.

Isso nos conduz ao maior problema de todos. Quase todos os caminhos para combater a mudança climática e reduzir as emissões globais de carbono pressupõem não apenas a transição para combustíveis mais limpos, mas também que a demanda global de energia realmente diminua, e essa é a parte crucial. Não é só algo incrivelmente ambicioso; é sem precedentes.

Alguns consideram que a solução é óbvia: os governos devem se empenhar mais para restringir nosso consumo de energia, talvez por meio de regulamentações ou impostos. Um imposto global sobre o carbono ajudaria, embora as chances de instituí-lo continuem pequenas.

Uma resposta mais engenhosa foi fornecida por Rob West, fundador e CEO de uma empresa independente de consultoria energética, a Thunder Said Energy. Depois de passar anos documentando o paradoxo de Jevons e descobrindo que o fenômeno é muito mais prevalente do que os economistas previam, ele acredita que a melhor esperança que temos é combater Jevons com Jevons, segundo me disse.

Isso significa aplicar à nossa produção de energia a ideia de que o consumo aumenta à medida que os bens se tornam mais baratos e mais eficientes. Em outras palavras, o futuro não está no racionamento de energia e na esperança de que os seres humanos mudem repentinamente seu comportamento, mas em garantir que qualquer energia que usemos seja a mais ecológica e atraente possível.

Isso é viável por meio do aprimoramento da produção de energias renováveis, desde painéis solares e turbinas eólicas até baterias, de modo que elas se tornem realmente competitivas em matéria de preço com energias poluentes, inclusive o gás natural. Ao contrário do que afirmam alguns otimistas, ainda não chegamos lá. (A energia solar e a eólica parecem mais baratas do que os combustíveis fósseis apenas quando se ignora o fato de que nem sempre se pode contar com eles para gerar energia.) Mas essa lacuna está diminuindo rapidamente.

Em algum lugar – talvez em uma universidade nos Estados Unidos, no Japão ou, mais provavelmente, na China –, alguém está desenvolvendo a tecnologia de semicondutores que poderá tornar os painéis solares ou a captura de carbono muito mais eficientes do que atualmente. Assim como os cientistas que inventaram o LED depois de anos de testes fracassados, o sucesso acabará ocorrendo. Esses pesquisadores representam nossa melhor chance de superar o Paradoxo de Jevons e eliminar completamente nossas emissões.

(Ed Conway é editor de economia e dados da Sky News e autor de "Material World: The Six Raw Materials That Shape Modern Civilization". Nota sobre a arte: esta matéria é acompanhada por uma ilustração de Charles Desmarais, disponível gratuitamente para clientes do serviço de opinião do "The New York Times".)

c. 2024 The New York Times Company

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