Prato feito sobe 23,5% nos últimos 12 meses e supera a inflação
O item que mais aumentou foi o tomate, que registrou alta de 126% no período; arroz e feijão diminuíram
Economia|Vinicius Primazzi*, do R7
![A batata também pressionou o preço do PF, com alta de 44%](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/IV4BFAIAKVMAXEZ2HBOPC26KUA.jpg?auth=7574fb201a5b4322478f2aa6c6b2db91caf7b1f393ed35d7ac20a9dae2dd943e&width=585&height=388)
O prato feito, geralmente composto de carne, arroz, feijão, batata e salada, sofreu alta de 23,5% nos últimos 12 meses. Segundo estudo do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), o PF, como é conhecido popularmente, aumentou bem mais que a inflação medida no mesmo período, que foi de 10,3% pelo IPC-M (Índice de Preço ao Consumidor – Mercado) e de 12% pelo IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo).
O estudo é realizado com base na avaliação de dez itens básicos: arroz, feijão-carioca, feijão-preto, alface, batata-inglesa, cebola, tomate, frango em pedaços, ovos e carnes bovinas. De todos eles, o que mais aumentou foi o tomate (126%).
Dos dez itens, apenas o arroz (-10,5%) e o feijão (-3,4%) sofreram deflação, ou seja, queda nos preços. Segundo Matheus Peçanha, economista do Ibre, esses grãos estavam com o preço inflacionado por causa da seca provocada pelo fenômeno natural La Niña, que ocorreu no último ano. “Passado esse problema, o regime de chuvas voltou ao normal, ou até em excesso, e então a produção também normalizou”, explica.
Os preços do arroz e do feijão, apesar da deflação registrada nos últimos 12 meses, ainda estão mais altos do que antes, no período pré-pandemia, em 2019. “Se comparar os 24 meses, a deflação não é suficiente para chegar no período pré-pandemia, então feijão e arroz ainda estão mais caros. Mas, como existem muitas safras em um ano só, é normal que o preço volte ao patamar mais justo.”
Nos 12 meses imediatamente anteriores, de maio de 2020 a abril de 2021, o arroz havia subido 55%, e o feijão, 61%, sobretudo pelo problema da seca.
Sobre a alta do tomate, que mais que dobrou de preço, o economista explica que “os hortifrútis sofrem [com o regime de chuvas] de um modo geral. A cenoura [200%] e o tomate são a bandeira dessa inflação. Esse regime de chuvas afetou as regiões que produzem os hortifrútis, como a da mata mineira”.
Ele diz que esses produtos, por terem safras muito rápidas, têm suas ofertas alteradas em prazos muito curtos e acabam desestabilizando os preços. O mesmo deve acontecer, ainda que em menor ritmo, quando o regime de chuvas se estabilizar, o que deve acontecer a partir do inverno.
As proteínas, como o frango e a carne bovina, demoram um pouco mais para sentir mudanças na oferta, o que pode explicar, segundo Peçanha, a desaceleração da carne em relação ao frango. “Aquela seca afetou mais o gado bovino porque se alimenta de pastagem. Com a melhoria da seca, a questão do gado melhorou, mas, no geral, os impactos desse clima demoram mais para chegar nas proteínas. Além disso, [a desaceleração] pode estar ligada aos embargos da China à carne brasileira, ainda no ano passado, já que os dados são dos últimos 12 meses.”
![](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/6DMTNHXKFRKQRCXQLXHGO372MY.jpg?auth=8bf08f5e6a250d211be26c9dc0e3d989ff5dd7c036faf75135426e61e327a8cb&width=771&height=1222)
As perspectivas de melhora da inflação dos produtos relacionados ao prato feito são boas, já que, a partir do inverno, o regime pluvial deve se normalizar, ainda que haja a preocupação com o estoque de fertilizantes e adubo, devido à guerra entre Ucrânia e Rússia. “Apesar de o Ministério da Agricultura ter garantido que temos estoque, esse problema [da inflação] pode acontecer via escassez de fertilizante e adubo”, conclui.
O IPCA do mês de abril, índice que mede a inflação oficial, sai nesta quarta-feira (11) e será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O IPCA-15, que mede a prévia da inflação, saiu em 27 de abril e registrou 1,73%, a maior taxa para o mês em 27 anos. Nos últimos 12 meses, a inflação superou os 12%, ainda segundo o IBGE.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Lúcia Vinhas