Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Educação

Após falas preconceituosas, aluno de medicina, filho de motoboy, desabafa: 'Meu pai vendeu a casa'

Anderson Bastos Júnior se forma em dois meses e fala das dificuldades e de todo o esforço da família para que ele estudasse

Educação|Alex Gonçalves, do R7*

Filho de motoboy, Anderson está prestes a se formar em medicina, no fim deste ano
Filho de motoboy, Anderson está prestes a se formar em medicina, no fim deste ano

Anderson Ferreira Bastos Júnior, de 23 anos, mora no município de Itaperuna, no Rio de Janeiro, e está no último período do curso de medicina na Unig (Universidade de Iguaçu), instituição privada com mensalidades que podem ultrapassar R$ 10 mil nos cursos da área da saúde. 

De origem humilde, o filho de motoboy nunca deixou de sonhar e ir em busca dos objetivos para conseguir mudar a sua trajetória de vida e o futuro da família. "Quando terminei o ensino médio no Instituto Federal Fluminense, prestei o vestibular e passei. Não sabíamos o que fazer, nem como pagar. Meu pai vendeu uma casa, um carro, e até fez um empréstimo no banco para conseguirmos manter o curso ao longo destes anos", lembra.

Leia também

O jovem explica que, havia muito tempo, o pai abriu um pequeno comércio de bebidas na cidade, e o estabelecimento cresceu, até se tornar uma distribuidora. "Ele fazia as entregas com uma bicicleta. Depois, com o passar dos anos, conseguiu comprar uma moto e até um carro, mas isso não foi da noite para o dia. Foi pelo trabalho dele, do qual tenho muito orgulho, que me ajudou com o meu estudo", destaca.

Trabalho do pai ajudou a manter o curso da graduação do filho
Trabalho do pai ajudou a manter o curso da graduação do filho

Segundo o estudante, os anos da graduação foram vividos de forma intensa e com muita angústia. "A cada renovação do semestre, era um tormento, porque nem eu nem meu pai sabíamos se conseguiríamos pagar o valor, já que na rematrícula é cobrado o valor integral da mensalidade", conta.


Juntos e com uma corrente de solidariedade feita em família, os valores foram sendo arrecadados pouco a pouco, mês a mês, e o sonho de se tornar médico já não era só de Anderson, mas sim de todos os familiares. "Sempre quis estudar medicina, mas era uma realidade distante da qual eu vivia", diz. O jovem conta que sempre se dedicou aos estudos e se destacou pelas notas de excelência no colégio. 

Durante a pandemia de Covid-19, com a ajuda de um colega, criaram o Coneuro (Congresso Online de Neurocirurgia). "Conseguimos 36 palestrantes para falar sobre neurocirurgia e neurologia, e obtive um bom retorno financeiro", lembra. O evento virtual deu tão certo que os jovens planejam a quarta edição. "É uma forma de ganhar dinheiro e ajudar a custear meus estudos", conta o universitário, que tem interesse em se especializar nas duas áreas.


Entenda o que ocorre no Intermed (Jogos Universitários de Medicina)

Um vídeo publicado nas redes sociais no último fim de semana causou revolta e muita indignação entre os internautas. As imagens, feitas por uma aluna, mostram um grupo de estudantes do curso de medicina da Unig (Universidade de Iguaçu), no estado do Rio de Janeiro, que gritam: "Sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy".

Sobre o vídeo publicado pelos colegas da universidade, o jovem admite que ficou surpreso. "Soube pelo Twitter, e fiquei muito indignado, porque essa fala não me representa", conta. Ainda segundo o estudante, naquela noite, ele não conseguiu dormir. "O assunto tomou proporções enormes e rápidas e já estava em todas as mídias, de uma forma generalizada. Tenho colegas que passam por lutas iguais às minhas para conseguir pagar a faculdade. Esses estudantes que aparecem e cantam no vídeo não nos representam", diz.


Ele espera que a postura infeliz dos jovens possa servir de lição e reflexão. No Twitter, Anderson publicou um vídeo em resposta à atitude preconceituosa de seus colegas. Assista:

Ele ainda esclarece que não estava presente no Intermed. "Estou me preparando para as provas da minha residência, que acontecem já no próximo mês. Tenho me preparado há muito tempo para isso. Desde que ingressei na faculdade, nunca participei dos jogos universitários, pois os ingressos são caros, e o evento nunca foi o meu foco", conclui.

Em nota, a instituição de ensino esclareceu "ser contra e repudiar veementemente qualquer tipo de discriminação, inclusive por classe social ou condição financeira, e que lamenta profundamente o episódio". Na quarta-feira (12), o prefeito Severino Dias, da cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro, se manifestou pelo Instagram e pediu a expulsão dos alunos dos jogos universitários no município, além de uma aplicação de multa para a instituição.

* Estagiário do R7, sob supervisão de Karla Dunder

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.