O que fazer para conseguir escola para filho com deficiência auditiva?
Fonoaudióloga Cilmara Levy, diretora da ONG Casa Amarela, explica como a lei garante o direito da criança surda à educação e outros serviços
Educação|Daniela Salerno, da Record TV
O que os pais de uma criança deficiente auditiva podem fazer se a escola não aceita o filho? A repórter Daniela Salerno conversou com a fonoaudióloga Cilmara Levy, diretora da ONG Casa Amarela (Associação de Apoio Educacional ao Deficiente Auditivo).
Doutora explica pra gente, primeiro, além de tudo, tem uma lei de 2002, que garante o direito ao ensino em libras também, conta um pouquinho dessa lei pra gente.
Cilmara Levy - Isso, então, essa lei (Lei 10.436 – que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências) foi um grande ganho da comunidade surda, eu acho que a gente tem de deixar cada vez mais clara a necessidade dos surdos, que precisam de libras, para que eles tenham os intérpretes. Então o intérprete não é só no dia a dia, pra uma necessidade específica. É na escola e em todas as atividades que ele tiver necessidade de ser entendido, e compreendido, então: em postos de saúde, bancos e em todos os lugares que ele necessite de informações claras. A lei existe (veja aqui), e a gente tem de correr atrás dela urgentemente.
Além disso, doutora, a gente tá vendo aí a dificuldade dos pais de crianças surdas. O que eles tem de fazer? Há vários graus de surdez, e o que esses pais podem fazer agora, se eles não estão sendo atendidos como deveriam?
A primeira coisa que a gente precisa garantir e entender, a sociedade precisa entender que todos que tem necessidades especiais precisam ser atendidos nas suas modalidades. Então, o surdo, ele pode precisar de libras, e essa família precisa ir atrás dos intérpretes e ela também aprender libras. Não adianta a gente ter só a criança falando com seu intérprete. Os pais precisam estar envolvidos no desenvolvimento das habilidades desta linguagem. A família também precisa entender que existem graus de surdez diferentes, e modalidades diferentes de aprendizado de línguas. Um surdo com perda profunda, mas que fez o implante coclear e tem uma boa linguagem oral, ele não vai precisar de libras. Então é entender e reconhecer que a diversidade, dentro da própria perda de audição, é grande. As famílias precisam se unir para conseguir que os direitos de seus filhos sejam atendidos.

Tem surdo que só precisa da linguagem orofacial e tem surdo que precisa de libras, queria que a gente comentasse, mesmo que brevemente, sobre essas diferenças, e, quando você fala de procurar seus direitos é começar o quê? Vai no Ministério Público? Tem alguma orientação nesse sentido?
Então, se a gente for pensar em escola, a família tem de começar pela unidade da escola que a criança está sendo atendida. Depois, se nessa escola não deu certo, vai ao Ministério Público. A gente precisa saber onde a criança não está conseguindo o atendimento. Por que o difícil é saber isso “ah, quem barrou?”. Foi o município? Foi a Secretaria de Educação? Quem barrou a sua solicitação? Isso é importante a gente pensar. E a sua outra pergunta é extremamente importante: a gente tem de entender que as necessidades de cada criança vão depender, não só, dos dispositivos eletrônicos que ela tem. É muito importante que a gente saiba que cada criança que tem uma perda de audição, ela pode funcionar de formas diferentes. Então o que a gente precisa lembrar é que uma perda de audição de grau profundo, por exemplo, mas que a criança fez o implante coclear pequenininha, e adquiriu a linguagem oral, ela vai precisar sempre ter o dispositivo em ordem. A gente sabe que é lei que o governo forneça os aparelhos de amplificação sonora e o implante coclear, mas que dêa assistência para a reabilitação dessas crianças. O fato de ter um aparelho auditivo, ou um implante coclear, não garante, cem por cento, que a criança está ouvindo bem e entendendo o que está sendo dito. Então ela vai precisar de uma boa leitura orofacial, ela vai precisar de pistas, pra poder melhorar suas habilidades de aquisição de lingugem.

E se for severo, libras, né?
Se for severo, libras, e se ela não tiver os dispositivos eletrônicos, por que ela pode ter uma perda profunda, e usar o implante, ela não precisa ter aprendido libras, por que ela aprendeu a linguagem oral. Então é importante a gente lembrar: o implante coclear ele só é feito para perdas severas, mas se eu fizer isso muito tardiamente, eu não vou conseguir ter a habilidade de linguagem oral tão desenvolvida.