Saiba como está a vida da família de Eduardo Campos 30 dias após sua morte
Renata faz sozinha o que sempre fez com o marido, como ir a uma reunião na escola do filho
Eleições 2014|Ana Cláudia Barros, do R7

No Dois Irmãos, bairro de classe média alta na zona norte da capital pernambucana, um jantar na noite desta terça (9) reuniu filhos, netos e afilhados de Rejane, mãe de Renata Campos, viúva do postulante ao Planalto Eduardo Campos. A morte precoce do presidenciável após a queda de um avião no último dia 13 de agosto, em Santos, no litoral paulista, tirou do encontro o tom de celebração pelos 81 anos de Rejane. Foi uma recepção íntima, apenas para não deixar a data passar em branco, bem diferente da grande festa dada no ano anterior.
A tradicional comemoração foi substituída pela união. Renata, que passou boa parte do tempo com o filho Miguel, de sete meses, no colo, recebeu o apoio e o carinho dos familiares. A casa onde ela mora com os cinco filhos fica a poucos metros da residência da mãe e tem até um terreno em comum.
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Pernambuco, Marcos Loreto, primo da ex-primeira-dama do Estado e amigo de Eduardo Campos, foi um dos presentes no jantar.
— No momento de dor, a família gosta de se ver, de estar junto.
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Em entrevista ao R7, ele revelou que a prima e os filhos, aos poucos, estão retomando a rotina de antes da tragédia, que completa um mês neste sábado (13). José, de nove anos, já vai novamente para a escola. Maria Eduarda (22), estudante de arquitetura, e João (20) e Pedro (18), que cursam engenharia, frequentam as aulas na Universidade Federal de Pernambuco.
Nesta semana, a ausência de Campos foi sentida de forma ainda mais profunda. Segundo Loreto, Renata foi à primeira reunião de pais e mestres do colégio de José sem a companhia do marido, que foi seu primeiro e único namorado. Os dois começaram a se relacionar ainda na adolescência, quando ela tinha 14 anos e ele, 16.
— Eduardo ia para todas as reuniões de pais e mestres. Não sei se foi ontem ou anteontem que teve a primeira reunião de pais e mestres em que Renata foi só [...] Todos estão fazendo um esforço para voltar à vida normal, para continuar as coisas como seriam com Eduardo.
Loreto contou que a “família está presente o tempo todo” e acrescentou que a preocupação de Renata é se manter firme pelo bem dos filhos.
— É isso [união dos familiares] que faz também com que dê forças para aguentar esse momento. Não digo nem superar, porque superar só com o tempo e a vida mesmo [...] Na minha visão, esta força dela é para manter os filhos bem, com a cabeça boa. Esta força dela é também por conta dos filhos. Ela está com o bebezinho [Miguel, nascido no final de janeiro], que tem síndrome de Down, que não larga do colo.
Formada em economia, Renata é auditora do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco e está de férias até o próximo dia 25. Após essa data, ela iniciará licença prêmio de três meses, direito previsto no artigo 112 do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Pernambuco (Lei 6.123/68), conforme informou ao R7 a assessoria de comunicação do órgão.
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Servidora do TCE desde dezembro de 1991, a ex-primeira dama foi cedida ao governo do Estado entre fevereiro de 2007 e abril de 2014, período em que Eduardo Campos ocupou o cargo de chefe do Executivo de Pernambuco. Ainda em abril, retornou ao Tribunal, já em licença gestante de 28 de janeiro a 26 de julho de 2014. De 28 de julho a 26 de agosto, tirou férias referentes a 2013.
Legado vivo
Loreto disse que uma das motivações da família é manter vivo o legado deixado por Eduardo Campos. Um dia após o sepultamento do presidenciável, Renata e os filhos estiveram em um ato de campanha do candidato ao governo de Pernambuco pelo PSB, Paulo Câmara.
— Renata, quando manteve a reunião na segunda-feira posterior ao enterro [realizado no domingo], eu me lembro claramente de ela dizer: “Era o que Eduardo queria”, “Era o que Eduardo faria”.
Nesta terça-feira, João e Pedro participaram de uma caminhada para promover a campanha de Câmara. João usava uma camiseta com o rosto do pai estampado e a frase “Não vamos desistir do Brasil”, dita por Campos em sua última entrevista, um dia antes do acidente.

Segundo Marcos Loreto, seguir os ideais do pai é o que move os filhos do ex-governador de Pernambuco.
— Ontem [terça-feira], foi a primeira participação efetiva deles. Fora aquela no dia seguinte ao sepultamento, em que Renata foi com todos os filhos e pediu para que o povo continuasse na luta, porque era isso que Eduardo queria.
Câmara, que saiu atrás do candidato da oposição Armando Monteiro Neto (PTB) na corrida eleitoral, avançou nas pesquisas de intenção de voto após a morte de Eduardo Campos. De acordo com a última sondagem do Datafolha, divulgada nesta quarta-feira (10), ele assumiu a liderança com 39% da preferência do eleitorado, enquanto Monteiro aparecia com 33%.
A rápida ascensão do pessebista já havia sido observada na pesquisa anterior, apresentada pelo instituto no dia 4 deste mês. Naquela ocasião, Câmara havia subido 23 pontos percentuais e atingido 36%, empatando com Monteiro, que chegou a liderar com 47%.
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Convicção
Loreto revelou que Eduardo Campos estava confiante e acreditava que iria crescer na disputa presidencial.
— Para Eduardo, não tinha esse negócio de 2018. Era para agora. Ele tinha essa certeza. Quem conversava com ele, saía da conversa achando que ele iria ganhar no primeiro turno. Ele passava essa certeza.

Na análise dele, a tragédia que vitimou Campos, o assessor de imprensa Carlos Augusto Ramos Leal Filho (Carlos Percol), o assessor Pedro Almeida Valadares Neto, o fotógrafo Alexandre Severo Gomes e Silva, o cinegrafista Marcelo de Oliveira Lyra e os pilotos Marcos Martins e Geraldo da Cunha deixou “todo mundo órfão”.
— Fui a São Paulo logo depois da morte, porque fui acompanhar os últimos momentos. Eu me lembro que estava descendo o elevador do hotel e uma pessoa, uma senhora de uns 60 anos, ouviu o meu sotaque e perguntou se eu era de Pernambuco. E ela começou a chorar no elevador. Realmente, foi uma coisa que tocou as pessoas.