Péricles: ‘Para muitos, sou uma referência na música, mas isso só eleva minha responsabilidade’
Cantor, que acaba de gravar a edição 2025 do ‘Pagode do Pericão’ em SP, refletiu sobre os 40 anos de carreira e o legado para nova geração
Entrevista|Camila Juliotti, do R7

Uma das maiores referências quando o assunto é samba, Péricles, 55 anos, celebra o Pagode do Pericão, que virou um sucesso desde o lançamento em 2019, quando ainda era apenas um álbum ao vivo. O artista tem rodado o país com o projeto e a última apresentação foi em São Paulo, em janeiro de 2025, com a participação especial de ninguém menos do que Seu Jorge, Maria Rita e Thiaguinho.
“Foi um showzão. Tinha em torno de 20 mil pessoas, gente feliz, cantando samba... Tivemos Seu Jorge, Thiaguinho, Maria Rita, todo mundo cantando de peito aberto. Chama Pagode do Pericão, mas ele é nosso”, contou Péricles em entrevista ao R7.
O artista também comentou sobre as parcerias com outros cantores, inclusive, de outros gêneros musicais que têm apostado em trabalhos focados no samba.
“A gente faz parte de um grande universo, universo da música, que tem que ser valorizado. E, aí, a gente escolhe gente que pensa mais ou menos da mesma forma, e musicalmente vai fazer com que os caminhos se cruzem”, afirmou.
“Eu tenho ouvido muitos outros artistas que têm feito trabalhos focados no pagode. Pagode é uma reunião para se cantar samba. Eu acho muito válida essa tendência. Particularmente sonhei com isso e estou vendo ser realizado”, completou.
Com 40 anos de carreira, o artista comentou sobre sua trajetória e refletiu sobre o legado que está deixando para as novas gerações.
“Para muitos, eu me tornei uma referência, mas isso só aumenta a minha responsabilidade, né? Cada vez que eu me deparo com tudo o que foi feito, agradeço muito. Saber que a nossa trajetória está dando certo. Nós somos o resultado e o sonho de muita gente que sonhou a gente estar aqui.”
Leia a entrevista na íntegra:
R7 — O ‘Pagode do Pericão’ começou como um álbum ao vivo e virou uma referência em projetos de pagode dos anos 1980 e 1990. Como você define este trabalho?
Péricles — A nossa intenção foi sempre tentar mostrar as coisas bacanas que a gente aprendeu e tudo mais, enaltecer não só os contemporâneos, mas quem chegou primeiro. E quando a gente vê esse projeto tomando essa proporção tão grande, servindo como uma semente, um ponto de partida para que a gente possa estudar sobre o assunto, eu fico muito feliz, como todos os projetos que a gente fez e está fazendo. Ele está cumprindo o seu dever e, para nós, é uma felicidade muito grande.
R7 — Com várias edições desde 2019, você percorreu o Brasil com este projeto que foi abraçado pelo público. A que você atribui o sucesso do ‘Pagode do Pericão’? Acha que esse tom de nostalgia acaba mexendo com o público?
Péricles — Como o projeto vem desde 2019, a gente não tinha sequer ideia que passaria por esse período de pandemia, que potencializaria ainda mais essa questão de nostalgia e saudade. O projeto veio somente com a ideia de fazermos homenagens e as homenagens foram feitas e estão sendo feitas cada vez que a gente relembra o que cada artista fez. Cada um com suas histórias, as suas declarações de amor... Então, estou muito feliz com o resultado, né?
E o tom de nostalgia, cada vez mais necessário e mais aguçado, a gente vai mostrando para muita gente o que é uma roda de samba, para quem já viveu, para quem ainda não viveu. Essa é a nossa função.
R7 — O último evento, em São Paulo, contou com participação de grandes artistas (mais uma vez): Maria Rita, Seu Jorge e Thiaguinho. Como foi este encontro especial entre amigos no palco?
Péricles — Bom, encontrar pessoas, seja em qualquer lugar, mas principalmente num evento como esse de São Paulo... Foi maravilhoso. A gente pode ter Maria Rita, Seu Jorge e Thiaguinho, que não pode faltar. Ele é um idealizador dessas rodas de samba, né? O Tardezinha, projeto dele, é um sucesso porque nós pensamos juntos, lá no começo, e ele virou uma grande realidade, junto com o Rafael Zulu e amigos que estavam próximos. Com a iniciativa de ter uma roda de samba para a gente cantar as nossas alegrias, tristezas, as saudades. Essa é a função da roda de samba, estar entre amigos, cantar as alegrias e as saudades e fazer samba que é o mais gostoso.

R7 — No dia do show, inclusive, Thiaguinho disse em uma entrevista que você é a realeza do samba… Acha que cabe o apelido?
Péricles — Ah, eu fico muito feliz, muito lisonjeado e quando ouço essas coisas fico realmente muito feliz. Mas achar se cabe ou não, quem tem que dizer é o nosso público, né? As pessoas que nos amam, que nos abraçam todo dia. Se eu for isso para elas, tô realizado.
R7 — O que dá para contar do que rolou no show para os fãs que não puderam estar lá e não vivenciaram esse momento?
Péricles — Bom, primeira coisa que eu vou dizer, quem não foi perdeu um showzão. Tinha em torno de 20 mil pessoas, todas reunidas num lugar muito bem decorado, climatizado, bebida boa, gente boa, gente feliz, cantando samba, se alegrando, se emocionando... Tivemos Seu Jorge, Thiaguinho, Maria Rita... Todo mundo cantando de peito aberto. Chama Pagode do Pericão, mas ele é nosso. Você perdeu isso. É o que eu poderia dizer para quem não foi.
R7 — O show foi gravado para virar seu novo DVD, certo? Como foi a preparação nos bastidores antes de subir ao palco? Você segue algum ritual, por exemplo?
Péricles — Assim como o show de Brasília, o show de São Paulo também foi preparado para ser parte desse grande projeto que é o Pagode do Pericão, que começamos lá em 2019 e agora estamos aqui em 2025, gravando mais uma etapa. Gravamos em 2019, em 2022 e, agora, em 2025. A primeira parte em Brasília, que tem a participação do Ferrugem, do Israel e Rodolfo, e do Xanddy Harmonia. E, agora em São Paulo. É uma nova etapa desse novo projeto que a gente está fazendo, levando essa roda de samba para muita gente que gostaria de estar e não pode. Então, essa é a ideia desse projeto.
Sempre antes de subir ao palco, eu mentalizo, agradeço, faço uma reunião com todos. A gente procura emanar energias positivas para que tudo dê certo com orações, com pensamentos positivos e aí é golaço. É receber o carinho da galera, devolver o carinho que a gente recebe deles e ir pra cima.
R7 — Ao longo da carreira, você gravou parcerias com músicos dos mais diversos gêneros. Como é a escolha dos convidados que vão participar do projeto?
Péricles — Durante a minha trajetória, eu gravei com gente de vários gêneros, mas a particularidade em comum é que eles têm a ver comigo, com a minha maneira de pensar, com a minha maneira de ver a música e dá muito certo. Tem dado muito certo. Eu fico realmente muito feliz quando a gente alcança esses resultados, porque eu procuro mostrar todo dia que não existem mais barreiras, não cabem mais barreiras. A gente faz parte de um grande universo, universo da música, que tem que ser valorizado. E, aí, a gente escolhe gente que pensa mais ou menos da mesma forma e musicalmente vai fazer com que os caminhos se cruzem também.
R7 — Como foi a escolha de Seu Jorge para dividir os vocais com você em ‘Boca Louca’, lançada neste mês?
Péricles — Analisando a música não poderia ter uma outra voz que representasse tanto o que a gente imaginou da música e para música como a voz do Seu Jorge, que é única. Ele é uma figura única, um artista único nesse país e nos deu a honra de participar da roda de samba do Pagode do Pericão com muita alegria. Como também Maria Rita, cantando do jeito que cantou e canta maravilhosamente. As músicas escolhidas para cada um foram muito bem escolhidas. Com o Thiaguinho, não preciso nem dizer, são músicas que a gente canta há pelo menos 20 anos, todos os dias. Então, não precisou nada, só chegamos. O ensaio já foi feito antes e deu muito certo.
R7 — Você é uma referência na música para artistas de outras gerações e com alguns deles, inclusive, já dividiu o palco. Qual o tamanho da responsabilidade dessa influência? Dá pra dizer que a sensação é de missão cumprida?
Péricles — Pra muitos, eu me tornei uma referência, mas isso só aumenta a minha responsabilidade, né? Eu ainda não posso dizer que a missão está cumprida, porque eu estou ainda no processo, ainda faz parte de um processo muito maior quebrar esses muros. As pessoas estão começando a entender isso agora. E, com certeza, lá no final, a missão estará cumprida. Se não, tem outras pessoas que vão pegar essa corda e levar isso à frente.
R7 — São 40 anos de carreira e um legado na música brasileira. Que reflexão você faz quando olha para trás e vê tudo que conquistou até aqui?
Péricles — Cada vez que eu me deparo com tudo o que foi feito, agradeço muito. Cada um de nós que está aqui é um grande milagre, e quando a gente consegue ainda mais além dos milagres, botar os dons para dar frutos, isso me deixa mais feliz ainda. Saber que a nossa trajetória está dando certo. Nós somos o resultado e o sonho de muita gente que sonhou a gente estar aqui. Então, a minha reflexão é essa, quando eu olho para trás, sei que tenho muito a fazer, mas sou grato pela chance de poder estar aqui realizando algo.
R7 — Tem alguma coisa que faltou fazer ou que você se arrepende?
Péricles — Ah, sempre falta alguma coisa a fazer, sempre vai faltar. E, não, não me arrependo de nada. Eu me arrependeria se tivesse feito algo muito errado, mas não fiz. E, às vezes, também o que a gente faz de errado nos serve de ensinamento, serve para que a gente não erre novamente, que a gente possa trilhar novos caminhos. Não dá tempo da gente se arrepender, não dá tempo de errar. E quando a gente erra, a gente faz na função de acertar e buscar sempre o melhor, não só para nós, mas para os nossos também.
R7 — Muitos artistas de outros gêneros musicais têm feitos trabalhos focados no pagode/samba. O que acha desta tendência? Gosta e escuta algum?
Péricles — Olha, eu tenho ouvido muitos outros artistas que têm feito trabalhos focados no pagode. Pagode é uma reunião para se cantar samba. Eu acho muito válida essa tendência, porque o samba, sim, é a música do brasileiro. Eu ouço todos eles, mando mensagens para todos eles e fico muito feliz, porque é isso o que eu particularmente sonhei e estou vendo ser realizado.

R7 — Você acha que o pagode/samba voltou à moda... Ou nunca saiu?
Péricles — O samba nunca sai de moda. O que acontece, às vezes, é uma atenção maior de alguns setores, da mídia, posso dizer assim, para outros gêneros. E está tudo bem também. O samba nunca deixou de ser relevante. É o que eu vejo, é o que a gente vê em outras músicas, elementos, células, andamentos... O samba está sempre em alta, na cabeça e no coração das pessoas. Essa é a minha alegria.
R7 — E você, pensa em gravar projeto em outro estilo musical?
Péricles — Olha, eu já pensei algumas vezes em gravar outros projetos com outros estilos musicais, mas se tiver samba no meio é melhor, né?