Ratos gigantes: a mais nova arma contra o tráfico ilegal de animais
Cientistas treinam roedores para detectar produtos de vida selvagem traficados, oferecendo uma alternativa inovadora e econômica para combater a caça ilegal
Hora 7|André Naef
A luta contra o tráfico ilegal de vida selvagem acaba de ganhar um novo e improvável aliado: os ratos gigantes africanos. Com um olfato apurado e habilidades de aprendizado rápido, esses roedores, que podem chegar a impressionantes 70 centímetros, estão sendo treinados para detectar produtos como chifres de rinoceronte, marfim de elefante, escamas de pangolim e até mesmo certos tipos de madeira, itens comumente traficados e escondidos em cargas camufladas. Esse treinamento representa uma inovação com alto potencial de ajudar no combate ao comércio ilegal de animais, que ameaça a biodiversidade e contribui para crimes ambientais globais.
Desenvolvido pela organização sem fins lucrativos APOPO, com sede na Tanzânia, o projeto utilizou apenas 11 ratos. O treinamento envolveu expor os ratos aos aromas dos produtos traficados e recompensá-los ao reconheceram os cheiros corretos. Além disso, os ratos foram treinados a ignorar cheiros usados para mascarar o odor dos produtos ilegais, como pó de café e cabos elétricos. O método teve bastante sucesso, resultando em 8 dos 11 ratos aprendendo a diferencias os cheiros específicos entre outras 146 substâncias.
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Em um estágio avançado do treinamento, os ratos começaram a usar um colete vermelho com uma pequena bola. Quando detectavam um cheiro-alvo, os ratos puxavam a bola com as patas, acionando um sinal sonoro que alertava seus treinadores. Esse sistema inteligente de alerta é um dos aspectos mais inovadores e importantes do projeto, proporcionando precisão e facilitando a comunicação entre os roedores e seus manipuladores em uma eventual situação de busca real.
O uso desses ratos pode oferecer uma solução mais econômica e versátil em comparação aos cães farejadores, que requerem custos mais altos de transporte, alimentação e manutenção. Além disso, os ratos conseguem acessar espaços menores, como contêineres de carga cheios, locais onde cães de porte grande, como pastores-alemães e labradores, raças comumente usadas para essa finalidade, teriam muita dificuldade. O potencial maior dessa operação está no custo-benefício, considerando que muitos países afetados pelo tráfico de vida selvagem têm recursos limitados para combater esse tipo de crime.
O tráfico ilegal de animais é um dos maiores mercados ilícitos do mundo, estimado entre 7 e 10 bilhões de dólares por ano, segundo o departamento de segurança americano. Além do impacto ambiental devastador, o comércio ilegal alimenta redes de crime organizado, que frequentemente também se envolvem em outros tipos de atividades ilegais como tráfico de drogas e armas. Iniciativas diferentes como essa poderiam fortalecer a capacidade de fiscalização de portos e aeroportos, locais estratégicos para o contrabando de produtos ilícitos.
Embora o projeto ainda esteja em fase de testes, os pesquisadores esperam que, no futuro, esse roedores possam ser integrados em larga escala de forma efetiva não apenas na fiscalização contra o tráfico de animais selvagens, mas também no tráfico de drogas e armas.