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A "hisba", polícia dos jihadistas, impõe sua versão de lei e ordem na Síria

Internacional|Do R7

Susana Samhan. Beirute, 29 dez (EFE).- O mero ato de acender um charuto na rua pode representar um castigo de 60 chibatadas em algumas partes da Síria controladas pelo Estado Islâmico (EI), que se dotou de um corpo parapolicial conhecido como "hisba" e de um sistema judiciário para impor sua particular visão do mundo de lei e ordem. As patrulhas dos jihadistas, com quatro membros por veículo, percorrem as ruas da província de Deir al Zur e de outras partes do território sírio em busca de infratores. O ativista Enmar al Turkmani, de Deir al Zur, contou à Agência Efe que a "hisba" do EI funciona como uma espécie de corpo policial e de inteligência. Este termo era usado antigamente para nomear o posto do supervisor de assuntos gerais e que controlava os aumentos de preços. Os tempos mudaram e atualmente "hisba" é utilizada para se referir à "polícia religiosa" que atua sob o lema de "impor a lei e evitar que se vicie". Na Síria, o EI tem filiais da "hisba", com duas salas de operações principais, localizadas em Al Bukamal, na fronteira entre Deir al Zur e Iraque, e em Al Raqqah, principal bastião dos extremistas. Todos os dias, nos horários das orações, os "agentes" do EI vão a lojas e mercados para chamar aos fiéis para a reza. "Os membros das patrulhas costumam ser árabes não sírios, enquanto 'a polícia secreta' e os informantes são sírios", explicou Turkmani, que acrescentou que os estrangeiros de outras nacionalidades se dedicam a tarefas militares. Dentro da polícia, há também mulheres que vigiam o que outras mulheres vestem para que esteja de acordo com o código de vestuário islâmico ditado pelo EI, ou seja, com o "niqab", véu que tapa todo o corpo menos os olhos. As infratoras podem sofrer penas de até 60 chibatadas e multa de 2.500 libras sírias (R$ 38). Não ir à mesquita rezar é passível de 100 chicotadas e o pagamento de 2.000 libras sírias (R$ 30), enquanto roubo é penalizado com a amputação das mãos e o adultério com o apedrejamento até a morte. Mas o EI não é a única organização que tem uma polícia religiosa, porque seu rival, a Frente al Nusra, filial da Al Qaeda na Síria, também tem uma "hisba" em seus domínios. Um desses lugares é a periferia ocidental de Aleppo, onde a Frente criou Cortes Islâmicas. Nessa região vive o ativista da Rede Sham, Mohammed al Najjar. "A polícia da Frente al Nusra vigia os mercados para que não subam os preços; convoca as pessoas para rezar e evita os roubos", detalhou. Para este ativista, a "hisba" do EI é mais efetiva que a da Frente al Nusra, porque nos lugares que estão nas mãos do grupo de Abu Bakr al-Baghdadi "as pessoas podem deixar seus comércios abertos para ir orar e depois retornar sem ter medo de ser roubado", o que não acontece na área de atuação do ramo da Al Qaeda. Na parte ocidental de Aleppo existe uma corte da Frente al Nusra que resolve casos de acordo com a "sharia", a lei islâmica, "embora penas como a amputação das mãos e o apedrejamento não sejam aplicados", explicou Najjar à Agência Efe pela internet. Também há patrulhas, mas não são tantas nem estão tão implantadas como nos territórios do Estado Islâmico. Na opinião da diretora do Centro de estudos Carnegie do Oriente Médio de Beirute, Lina Jatib, o estabelecimento de uma polícia e de um sistema judiciário por jihadistas como o EI responde a uma estratégia para ter um marco legal a fim de impor seu sentido de lei e ordem e legitimar suas próprias instituições. "O EI emprega este sistema judiciário para se justificar para a população e para seus próprios combatentes", refletiu Jatib. A analista comparou o corpo policial dos radicais com os modelos de polícias religiosas de regimes islâmicos como Irã e Arábia Saudita. "A diferença é que no caso do EI a lei é aplicada de forma inconsistente, é muito arbitrária", indicou. Aí também radica a principal divergência com os tribunais da Frente al Nusra, que segundo a especialista, são mais "consistentes". O Estado Islâmico pode ser às vezes totalmente imprevisível, já que castigos diferentes às vezes são aplicados para um mesmo delito. O único denominador comum são suas práticas brutais, que por sua vez servem de propaganda e como meio de aterrorizar os moradores de seu autoproclamado califado. EFE ssa/cd/rsd

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