Ataques a instalações nucleares do Irã podem gerar vazamento de radiação? Entenda risco
Bombardeios israelenses contra centrais nucleares iranianas levantam preocupações sobre contaminação radiológica e química
Internacional|Do R7
Os ataques de Israel contra instalações nucleares do Irã, que vêm ocorrendo desde os bombardeios inesperados da última sexta-feira (13), acenderam um alerta global sobre os riscos de contaminação radiológica e química.
A ação, ordenada pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, tem como principal alvo a central nuclear de Natanz, o maior centro de enriquecimento de urânio do Irã, mas já atingiu também o centro de pesquisa e conversão de Isfahan.
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Israel diz que o ataque é uma medida preventiva às intenções do Irã de desenvolver armas nucleares. Teerã, por sua vez, nega a alegação há anos, afirmando que o programa nuclear do país possui somente fins pacíficos.
Os dois países trocaram ataques aéreos desde então. O Irã diz que mais de 220 pessoas morreram, incluindo mulheres e crianças. Já Israel afirma que os contra-ataques iranianos deixaram mais de 20 mortos.
A escalada militar tem gerado preocupações entre líderes globais e reguladores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que temem os impactos de um possível vazamento de substâncias perigosas.
Riscos em Natanz
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse durante uma sessão urgente do Conselho de Governadores da agência em Viena na segunda-feira (16) que os bombardeios representam um risco significativo.
Segundo ele, a instalação de Natanz sofreu danos na estrutura externa, e a interrupção de energia causada pelos ataques pode ter comprometido as cerca de 15 mil centrífugas subterrâneas que enriquecem urânio.
Essas máquinas contêm hexafluoreto de urânio, um gás altamente corrosivo e volátil que, se liberado, pode causar queimaduras na pele ou ser fatal se inalado.
“É muito provável que as centrífugas tenham sido severamente danificadas, se não completamente destruídas”, disse Grossi em entrevista à rede britânica BBC.
Apesar disso, a AIEA informou que não há indícios de danos às partes subterrâneas da instalação ou de impacto radiológico externo até o momento. “Embora os níveis de radiação fora da usina permaneçam normais, a escalada militar aumenta a chance de uma liberação radiológica”, alertou Grossi.
A chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, expressou no sábado (14) “profunda preocupação” com a escalada do conflito. “A diplomacia, não a ação militar, é o caminho para lidar com o programa nuclear iraniano”, disse, segundo a rede Al Jazeera.
Programa nuclear iraniano
Natanz, localizada a 220 km de Teerã, é peça central do programa nuclear iraniano, que tem enriquecido urânio a 60% de pureza, nível muito acima do necessário para usos civis (3% a 5%), mas abaixo dos 90% exigidos para armas nucleares.
Em maio deste ano, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) disse que o estoque iraniano de ucrânio enriquecido atingiu 9.247,6 kg, 45 vezes acima do limite permitido pelo JCPOA (Plano de Ação Integral Conjunto), plano internacional que limita a o programa nuclear do Irã.
Desse total, 408,6 kg são de urânio enriquecido a 60%. Esse montante é suficiente para produzir quase nove bombas, segundo a AIEA. Até dezembro de 2024, o país tinha capacidade para fabricar quatro.
O SIPRI (Instituto Internacional para Estudo da Paz de Estocolmo) alertou em 2021 que o salto de 60% para 90% de enriquecimento poderia ocorrer rapidamente devido à eficiência das centrífugas iranianas.
Grossi enfatizou que a AIEA não ficará “de braços cruzados” e pediu informações técnicas regulares sobre as instalações iranianas para avaliar os riscos e oferecer assistência.
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