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Brasileira relembra massacre de Tiananmen, 30 anos depois

Filha do embaixador brasileiro em Pequim na época do massacre da Praça da Paz Celestial relembra um dos acontecimentos mais importantes do século 20

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Foto mostra multidão tentando barrar caminhões do Exército chinês
Foto mostra multidão tentando barrar caminhões do Exército chinês

Adriana Abdenur ainda se lembra do estrondo dos tiros do Exército chinês durante o massacre de Tiananmen, a Praça da Paz Celestial, mesmo 30 anos depois. Seu pai, Roberto, era o embaixador brasileiro em Pequim e eles estavam presos na embaixada enquanto o confronto acontecia a cerca de 1 km dali.

Nos dias anteriores, fileiras de soldados, caminhões e tanques passaram pela frente da embaixada rumo à praça onde milhares de estudantes e trabalhadores protestavam por aberturas no regime chinês. Adriana publicou algumas fotos e lembranças da primeira semana de junho de 1989 em seu perfil no Twitter.

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"Passei toda a minha adolescência, e parte da faculdade, em Pequim", explica ela. Adriana tinha 13 anos e estudava em uma escola da capital chinesa que aceitava estudantes estrangeiros, filhos dos diplomatas que viviam lá, e também alunos chineses.

A brasileira, hoje doutora em sociologia urbana pela Universidade de Princeton e coordenadora da área de Paz e Segurança Internacional, viu quando os comboios do exército passaram, testemunhou quando moradores de Pequim tentaram impedir o avanço das tropas, escutou os barulhos do massacre e viu, no dia seguinte, a fumaça que subia da praça.


"Durante a noite inteira o estrondo de canhões estremecia as janelas da nossa casa. Passei aquela noite segurando a mão de uma amiga cuja família havia se alojado na embaixada. Na manhã seguinte víamos colunas de fumaça vindo da direção da praça. Estavam cremando os corpos", escreveu ela.

No dia seguinte ao massacre, 5 de junho de 1989, foi registrada a imagem de um homem anônimo carregando uma sacola e que parou na frente de uma coluna de tanques, impedindo sua passagem. O chinês, que jamais teve sua identidade revelada, se tornou um símbolo do fim do século 20.


Mas, segundo o relato de Adriana, não foi o único: "Sobre a famosa foto do “homem de Tiananmen,” impedindo um tanque de avançar rumo à praça: o momento é emblemático não por ser um ato isolado e sim porque representa a coragem de muitos. Vejam essa foto (também do nosso arquivo; minha mãe tirou)"

Na mensagem seguinte, a brasileira explica que as fotos mostram caminhões do Exército Popular de Libertação tentando chegar em Tiananmen. Um veículo que aparece à direita da foto tinha sido incendiado. A multidão rodeou os soldados para que não avançassem e alguns tentaram dialogar com os soldados.


Não adiantou. Em muitos trechos, o exército abriu fogo contra a própria população e avançou rumo à Praça da Paz Celestial, onde centenas, possivelmente milhares de manifestantes, acabaram sendo mortos ou presos pelas forças de segurança.

O governo chinês, comandado pelo Partido Comunista, busca até hoje apagar o massacre, suas vítimas e imagens. As fotos do 'rebelde desconhecido' e de dezenas de outros anônimos são proibidas na internet chinesa. Mas o resto do mundo, como os poucos brasileiros que estavam no país, ainda lembram.

O embaixador Roberto Abdenur, pai de Adriana, juntamente com outros diplomatas brasileiros passou os dias seguintes buscando os pouco mais de 30 cidadãos do país que estavam em Pequim e levando-os para a embaixada, especialmente os que estudavam na universidade da capital.

O governo do Brasil nem mesmo mandou um avião da FAB para resgatá-los. Adriana, a mãe e os irmãos conseguiram sair para o Japão em um voo da Pakistani Airlines. Roberto ficou em Pequim para acompanhar o desenrolar dos fatos. A família voltou para a capital chinesa algum tempo depois e morou lá até 1993.

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