Cientistas descobrem a canção de amor que o caranguejo-violinista cria para namorar; ouça
Estudo mostra que as ‘batucadas’ compostas por estes animais são importantes para atrair uma fêmea
Internacional|Do R7

Um caranguejo-violinista começa a puxar uma ‘batucada’ como se fosse uma música bastante popular. A canção pode não ter qualquer significado para os humanos, e o som ritmado pode ser imperceptível aos nossos ouvidos. Pelo menos até agora. Cientistas gravaram os sons e descobriram que eles são demonstrações de um macho tentando conquistar uma fêmea da espécie.
Pela primeira vez, um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Oxford “escutou” as demonstrações de paquera dos caranguejos-violinistas usando geofones, aparelhos que servem para escutar ruídos na terra.
Para os caranguejos-violinistas machos, os sinais vibratórios são uma parte essencial de suas rotinas de conquista amorosa. Esses sinais são produzidos ao bater no chão com suas garras enormes ou ao bater no chão com suas conchas.
Mas ainda não estava claro com que eficácia esses sinais transmitiam informações nas regiões intermareais –que ficam entre os níveis da maré baixa e alta–, que são bastante caóticas em termos sonoros, com uma multiplicidade de sons se misturando à batucada do caranguejo.
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Como a pesquisa foi feita
Pesquisadores do Laboratório de Vibração Animal da Universidade de Oxford avaliaram o comportamento de cortejo do caranguejo-violinista (Afruca tangeri), que habita os bancos de lama do sul da Península Ibérica.
Eles usaram câmeras e geofones, que registram com precisão as vibrações acústicas.
Uma questão fundamental era como os sinais sísmicos são afetados pelo tamanho do sinalizador – e, portanto, com que “honestidade” eles transmitem informações sobre a aptidão do macho como parceiro.
Os pesquisadores observaram que os caranguejos machos realizavam uma rotina repetitiva de cortejo, composta por quatro etapas:
- Começando com um leve aceno de suas garras gigantescas;
- Seguido por acenos sequenciais e quedas do corpo para produzir um sinal vibratório;
- Depois movimentos simultâneos e;
- Uma exibição de tamborilar subterrâneo caso a fêmea se aproximasse da toca.
A cada etapa, a energia sísmica se intensifica.
O que os pesquisadores descobriram
Ao medir mais de 8.000 gravações de sinais sísmicos percussivos, os pesquisadores demonstraram que a morfologia do macho foi o fator crítico na determinação das características do sinal. Em particular, machos com garras maiores produziram sinais sísmicos de maior energia, com picos de percussão de maior amplitude.
Isso parece evitar que o macho seja desonesto quanto ao seu tamanho, permitindo que as fêmeas avaliem a qualidade do macho e o tamanho das garras à distância.
“Parece que os machos não conseguem ‘mentir’ sobre seu tamanho físico. As fêmeas podem confiar na intensidade dos sinais sísmicos para avaliar honestamente a qualidade de um parceiro em potencial, tudo isso sem precisar vê-lo”, diz o principal autor do estudo, Tom Mulder, do Departamento de Biologia da Universidade de Oxford.
Além disso, os pesquisadores descobriram que, embora a frequência das vibrações permanecesse constante, a duração, o ritmo e a intensidade dos sinais variavam dependendo do comportamento de cortejo. Isso significava que era possível distinguir diferentes comportamentos (por exemplo, queda de corpos versus percussão subterrânea) apenas com base em registros sísmicos.
Ferramentas de comunicação sísmica percussivas, em vez de vocais, são vantajosas nas paisagens que esses caranguejos-violinistas chamam de lar, e mudar o volume e a taxa de repetição dos sinais, embora simples, é um meio eficaz para pequenos animais se comunicarem nesses ambientes barulhentos.
“Garras maiores têm a vantagem de superar o ruído sísmico, permitindo que sinalizem para fêmeas mais distantes, o que as fará demonstrar mais interesse. No entanto, as vantagens são observadas apenas em sinais de percussão, como tamborilar, e, felizmente, para caranguejos com garras menores, estes são apenas parte da rotina da conquista”, diz a autora correspondente, Beth Mortimer, também do Departamento de Biologia.
A pesquisa foi divulgada revista científica Journal of Experimental Biology.