Após semanas de tensão e troca de acusações provocadas por um atentado que matou 26 turistas na Caxemira, Índia e Paquistão anunciaram neste sábado (10) um cessar-fogo total e imediato, em acordo mediado pelos Estados Unidos. Mesmo com a trégua, o episódio reforça o papel da região como novo ponto de pressão na disputa geopolítica entre EUA e China, que apoiam lados opostos no embate entre as potências sul-asiáticas.A Índia, historicamente não alinhada, tem se aproximado dos EUA, comprando bilhões de dólares em equipamentos norte-americanos, franceses e israelenses, enquanto reduz sua dependência de armas russas, que caíram de 80% para 38% de suas importações nos últimos quatro anos.Já o Paquistão, cuja relevância para os EUA diminuiu após o fim da guerra no Afeganistão, parou de adquirir armas norte-americanas e agora depende da China para cerca de 80% de seu arsenal, segundo o SIPRI (Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo).Os EUA veem a Índia como um contrapeso estratégico à China, enquanto Pequim fortalece o Paquistão, que foi descrito como “amigo inabalável” pelo ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, de acordo com a agência de notícias Reuters.O apoio norte-americano à Índia foi evidente após o atentado na Caxemira, segundo o jornal The New York Times. O primeiro-ministro Narendra Modi recebeu imediatamente ligações do presidente Donald Trump e do vice-presidente J.D. Vance, o que foi interpretado por autoridades indianas como um aval para retaliar o Paquistão.A China, por outro lado, expressou apoio público ao Paquistão e pediu contenção. Analistas ouvidos pela Reuters dizem que Pequim busca dados sobre o desempenho de mísseis indianos, como o BrahMos, desenvolvido com a Rússia, e sistemas de defesa aérea do país.Essas informações são vitais para a China, que disputa com a Índia uma fronteira de 6.115 quilômetros no Himalaia, cenário de tensões desde a guerra de 1962.Para analistas, o atual cenário significa o fim das alianças que foram moldadas pela Guerra Fria. Durante aquele período, a Índia se aproximou da União Soviética. O Paquistão, aliado dos EUA, adquiriu caças F-16 para conter a ameaça indiana.O Paquistão recebeu bilhões em assistência militar dos EUA, mas acusações de que o país asiático abrigava líderes do grupo terrorista Talibã azedaram a relação. A China preencheu esse vácuo, tornando-se a principal fornecedora de armas paquistanesas.Autoridades norte-americanas, segundo o The New York Times, temem que o hipernacionalismo e a proximidade das forças armadas indiana e paquistanesa em um corredor aéreo restrito possam levar a erros e escaladas catastróficas.Apesar disso, o alto comissário indiano na Grã-Bretanha, Vikram Doraiswami, afirmou à emissora britânica Sky News que a parceria China-Paquistão não preocupa a Índia.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp