Doença desconhecida no Congo: mortes sobem para 60 e casos passam de mil; o que se sabe até agora
Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que intensificou investigações após surtos no norte do país
Internacional|Do R7

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse nesta quinta-feira (27) que intensificou as investigações, junto com autoridades da República Democrática do Congo, sobre a doença desconhecida, que leva à morte em poucas horas, na província de Equateur, no norte do país.
Desde o início do ano, Equateur tem registrado um aumento de casos e mortes até o momento inexplicadas. Do último relatório da OMS, divulgado na segunda-feira (24), até agora, o número de casos saltou de 419 para 1.096 e o de mortes, de 53 para 60.
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Segundo o relatório da OMS desta quinta-feira, o surto mais recente da doença ocorreu na última semana, na zona de saúde de Basankusu. Ao menos 141 pessoas adoeceram, embora não tenham sido registradas mortes.
No início deste mês, outros 158 casos e 58 mortes haviam sido relatados na mesma zona de saúde. Antes, em janeiro, na zona de saúde de Bolamba, 12 pessoas foram infectadas e oito morreram pela doença.
A OMS diz que os sintomas incluem “febre, dor de cabeça, calafrios, suor, rigidez no pescoço, dores musculares, dores em várias articulações e dores no corpo, coriza ou sangramento pelo nariz, tosse, vômito e diarreia”.
Basankusu e Bolomba ficam a cerca de 180 quilômetros de distância uma da outra e a mais de 300 quilômetros da capital provincial Mbandaka. “Esse afastamento limita o acesso a cuidados de saúde, incluindo testes e tratamento. A infraestrutura precária de estradas e telecomunicações também são grandes desafios”, diz o relatório.
O documento afirma que especialistas em emergências de saúde da OMS foram enviados às zonas de saúde afetadas para investigar a situação e fornecer tratamento para doenças como malária, febre tifoide e meningite.
Investigações
A OMS disse que amostras de 18 pacientes foram enviadas para análise no Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica, em Kinshasa, capital do país, depois dos casos do início deste mês.
A análise laboratorial inicial deu negativo para a doença do vírus Ebola e a doença do vírus Marburg. Cerca de metade das amostras testaram positivo para malária, que é comum na região.
“Mais testes serão realizados para meningite. Amostras de alimentos, água e ambiente também serão analisadas, para determinar se pode haver contaminação”, diz o órgão.
Origem da doença
A possibilidade de transmissão de animais para humanos está no centro das investigações. Em regiões onde o consumo de animais selvagens é comum, como no Congo, doenças zoonóticas têm se tornado uma preocupação crescente.
Segundo a OMS, o número de surtos desse tipo na África aumentou mais de 60% na última década, um dado destacado em um relatório divulgado pelo órgão em 2022.
Na Bacia do Congo, que abrange países como a RDC, o consumo de carne de animais selvagens é uma prática cultural profundamente enraizada e uma fonte essencial de proteína para muitas comunidades.
A ONU estima que cerca de cinco milhões de toneladas de carne de animais selvagens sejam consumidas anualmente na região. O consumo também é influenciado pela falta de infraestrutura pecuária e a pouca disponibilidade de carne no mercado local.
Crises múltiplas
O atual surto não é um caso isolado. Em 2024, outra doença misteriosa, com sintomas semelhantes aos da gripe, matou dezenas de pessoas em uma região diferente do Congo e foi associada à malária grave.
Além disso, o governo enfrenta desafios adicionais no leste, onde as instalações médicas estão sobrecarregadas por causa de um conflito armado com rebeldes que, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), invadiram o país com apoio de Ruanda para tomar posse de territórios ricos em minerais.