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EUA vão controlar única mina de terras raras do país em meio à disputa com China; entenda

Governo se torna maior acionista da mina de Mountain Pass em estratégia para reduzir dependência de importações chinesas

Internacional|Do R7

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Vista aérea do Pentágono, nos Estados Unidos Divulgação/Departamento de Defesa dos EUA

O governo dos Estados Unidos anunciou um acordo estratégico para se tornar o maior acionista da MP Materials, empresa que opera a única mina de terras raras em funcionamento no país, localizada em Mountain Pass, na Califórnia.

A iniciativa, liderada pelo Departamento de Defesa, procura reduzir a dependência norte-americana sobre importações chinesas de terras raras, termo dado a minerais cruciais para tecnologias modernas, como carros elétricos, turbinas eólicas, smartphones e até armamentos militares.


RESUMO DA NOTÍCIA

  • O governo dos EUA se torna maior acionista da mina de terras raras MP Materials, na Califórnia.
  • A medida visa reduzir a dependência de importações chinesas, essenciais para várias tecnologias modernas.
  • O Pentágono investirá US$ 400 milhões e garantirá um preço mínimo por quilo de óxido de neodímio-praseodímio produzido.
  • A estratégia é parte de um esforço maior para fortalecer a cadeia de suprimentos dos EUA e combater a influência da China no setor.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos, descobertos na Suécia no final do século 18, com propriedades únicas que os tornam indispensáveis para a economia global.

Esses minerais são fundamentais para a fabricação de ímãs permanentes, usados em motores elétricos, scanners de ressonância magnética, drones, submarinos e outros equipamentos de alta tecnologia.


Dois dos elementos mais valiosos, o neodímio e o praseodímio (NdPr), estão no centro do acordo entre o governo americano e a MP Materials.

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A China domina o mercado global de terras raras, controlando cerca de 70% da mineração e 90% da capacidade de refino, de acordo com a rede britânica BBC.


Esse domínio, construído com anos de apoio governamental, permite que Pequim influencie preços e ameace a competitividade de empresas estrangeiras, o que tem gerado preocupações nos EUA, especialmente em meio à guerra comercial entre os dois países.

Detalhes do acordo

O Departamento de Defesa dos EUA investirá US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões) em ações preferenciais conversíveis da MP Materials, tornando-se o maior acionista da empresa, com uma participação de aproximadamente 15%, segundo o canal norte-americano CNBC.


Além disso, o Pentágono garantirá um preço mínimo de US$ 110 por quilo para o óxido de neodímio-praseodímio produzido pela MP Materials pelos próximos 10 anos. Caso o preço de mercado caia abaixo desse valor, o governo pagará a diferença à empresa em pagamentos trimestrais.

Em contrapartida, quando o preço ultrapassar US$ 110 por quilo, o Pentágono receberá 30% do valor excedente, conforme informou James Litinsky, CEO da MP Materials, em entrevista à CNBC.

O investimento também financiará a construção de uma nova unidade de fabricação de ímãs nos EUA, com início de operações previsto para 2028. A localização ainda não foi definida, mas a planta, chamada 10X, terá capacidade para produzir 10.000 toneladas métricas de ímãs por ano, suficientes para atender tanto a clientes comerciais quanto às necessidades de defesa dos EUA, segundo Litinsky.

Impactos na geopolítica

A iniciativa é parte de um esforço do governo do presidente Donald Trump para fortalecer a independência da cadeia de suprimentos norte-americana, especialmente após tensões comerciais com a China.

Nos últimos anos, Pequim impôs tarifas de até 125% sobre produtos norte-americanos, enquanto os EUA responderam com tarifas de até 145% sobre importações chinesas, tornando inviável o envio de terras raras de Mountain Pass para refino na China, como ocorria anteriormente.

Até recentemente, a Shenghe Resources, uma empresa parcialmente controlada pelo governo chinês, era a maior cliente da MP Materials e uma de suas principais acionistas. Com as tarifas e a nova estratégia norte-americana, a empresa decidiu interromper o envio de sua produção para a China, alinhando-se aos interesses nacionais dos EUA.

James Litinsky, CEO da MP Materials, disse que o acordo não representa uma nacionalização, mas uma parceria público-privada que preserva o controle da empresa por seus acionistas.

Ele descreveu a iniciativa como uma forma de combater o “mercantilismo chinês” e acelerar a construção de uma cadeia de suprimentos de terras raras nos EUA. “É uma nova maneira de acelerar o livre mercado”, afirmou.

O Pentágono também planeja conceder um empréstimo de US$ 150 milhões à MP Materials em até 30 dias para expandir a capacidade de separação de terras raras em Mountain Pass.

Contexto da disputa com a China

A dependência dos EUA de terras raras importadas, que em 2023 vieram quase exclusivamente da China, segundo o Serviço Geológico dos EUA, é um ponto crítico nas negociações comerciais entre os dois países.

O presidente Trump incluiu os minerais estratégicos em acordos recentes, como o pacote de ajuda à Ucrânia, e nas discussões comerciais com Pequim, de acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP).

O secretário do Interior, Doug Burgum, afirmou em abril que o governo norte-americano planeja fazer investimentos diretos em empresas de mineração para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros.

A China, que detém o controle quase exclusivo da produção mundial de samário, um metal de terras-raras essencial para ímãs resistentes ao calor, impôs restrições severas à sua exportação, o que tem gerado preocupação às forças militares dos Estados Unidos e aliados.

Isso porque esses ímãs, capazes de suportar temperaturas altas o suficiente para derreter chumbo sem perder propriedades magnéticas, são cruciais para equipamentos militares, como mísseis, caças e bombas inteligentes, e motores elétricos de alta velocidade em espaços reduzidos, como os cones de nariz de mísseis.

De acordo com o jornal The New York Times, a interrupção das exportações de samário, iniciada em 4 de abril, expôs uma vulnerabilidade crítica na cadeia de suprimentos militar dos EUA e da Europa.

A China justificou a medida como necessária para “salvaguardar a segurança nacional” e “cumprir obrigações internacionais, como a não proliferação”.

Desde então, o país asiático passou a exigir licenças especiais para exportações de sete tipos de metais de terras-raras, incluindo o samário, que possui poucas aplicações civis, como o uso de seu radioisótopo Samário-153 no tratamento de metástases ósseas de câncer.

A dependência do samário chinês é particularmente crítica para empresas como a Lockheed Martin, que utiliza cerca de 23 quilos de ímãs de samário em cada caça F-35, um dos mais modernos da frota norte-americana.

Por mais de uma década, os Estados Unidos não conseguiram desenvolver uma alternativa ao fornecimento chinês de samário, apesar de possuírem depósitos do mineral, inclusive na Mountain Pass, na Califórnia, segundo o Times.

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