Foguetes de longo alcance: a mudança de jogo que a Ucrânia espera na guerra contra a Rússia
GLSDB é um armamento produzido em conjunto pela americana Boeing e pela sueca Saab e pode atingir alvos distantes até 150 km
Internacional|Do R7
Os foguetes americanos de longo alcance que a Rússia afirma ter identificado no campo de batalha na Ucrânia podem se tornar um recurso estratégico para Kiev nos próximos meses, apontam especialistas.
A Rússia disse nesta terça-feira (28) que havia derrubado um foguete GLSDB, de pequeno diâmetro, alta precisão e alcance de 150 km, fabricado pela companhia americana Boeing e pela sueca Saab.
Mais longe
Os lançadores de foguete múltiplos americanos dos quais os ucranianos dispunham até agora somente alcançam até 80 km além das linhas russas.
"Os Himars [lançadores de foguetes] já haviam forçado os russos a reorganizar seu comando e logística, tornando-os mais discretos perto do front ou forçando-os a recuar além de 80 km do front", explica à AFP Léo Péria-Peigné, do IFRI (Instituto Francês de Relações Internacionais).
Agora, com os GLSDB móveis montados sobre caminhões ou "lagartas", "os russos terão que encontrar outras soluções", especialmente duplicar as distâncias "com uma frota de veículos já limitada".
A costa do Mar Negro controlada pelos russos também se torna acessível aos ataques, o que dificulta os abastecimentos russos por barco.
Os Estados Unidos anunciaram em fevereiro que entregariam os novos foguetes à Ucrânia, sem especificar um prazo, mas o governo de Kiev, no entanto, não confirmou. Na segunda-feira (27), o Ministério da Defesa britânico informou 14 ataques desde 21 de fevereiro em torno da cidade de Mariupol (sob controle russo, sudeste), a mais de 80 km do front.
"É provável que a Rússia se preocupe que estejam produzindo explosões inexplicáveis em uma zona que provavelmente antes era considerada fora do alcance da capacidade de ataque ucraniana", disse a mesma fonte.
Qual será o impacto?
O impacto militar está por vir. Cada nova arma entregue aos ucranianos traz uma diversidade de dúvidas sobre eficácia. Os foguetes não são exceção, e este modelo foi testado pela primeira vez na Suécia em 2015, segundo o site da Boeing.
"Este será o primeiro uso real e massivo desta arma que colocará à prova seu desempenho, especialmente em termos de precisão", afirma Léo Péria-Peigné. Segundo os fabricantes, tem uma precisão de ataque de 1 m.
A Rússia anunciou a derrubada de um foguete GLSDB logo depois da confirmação de entrega de tanques britânicos, americanos e alemães à Ucrânia, fundamentais, segundo o governo de Kiev, para os objetivos de reconquista militar.
"Cinquenta tanques, ainda que sejam os melhores do mundo, dificilmente podem ter um efeito estratégico, ao contrário de 10 mil GLSDB, se estes sistemas cumprirem suas promessas", declarou o especialista francês.
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Ivan Klyszcz, investigador do Centro Internacional de Defesa e Segurança (ICDS, na sigla em inglês), com sede na Estônia, afirma que "a introdução de novos sistemas pode mudar a dinâmica do front".
Mas, por enquanto, "o esforço de guerra se baseia em homens e obuses", assegura.
A entrega desses novos foguetes também mostra que, ainda que os ocidentais frequentemente hesitem antes de entregar novas armas, em muitos casos acabam por fazê-lo.
Segundo Ivan Klyszcz, a lentidão é explicada pelas dificuldades dos aliados em concordar sobre uma estratégia comum, mas também pelo temor de atrair a ira da Rússia, ou de irritar as opiniões públicas ocidentais cansadas pelo esforço bélico.
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