O governo da Coreia do Norte ordenou que os pais escolham nomes para os filhos que reflitam o ‘espírito revolucionário do país’, além de, em alguns casos, solicitar que pessoas mudem seus nomes caso soem muito sul-coreanos. As informações são da Rádio Free Asia (RFA). A medida é mais um reflexo da resistência de Pyongyang contra a suposta infiltração da cultura capitalista, vinda principalmente da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, rivais diplomáticos da ditadura de Kim Jong-un. A decisão também reforça declarações recentes das autoridades norte-coreanas de que a Coreia do Sul não é mais parte do mesmo país e de que os sul-coreanos não pertencem mais à ‘mesma raça’, conforme relatos de moradores à RFA.Na Coreia do Sul, os pais têm liberdade para escolher qualquer nome para seus filhos sem interferência do Estado. No Norte, no entanto, o governo prefere que os nomes transmitam lealdade ao regime, tenham conotação militarista ou expressem virtudes pessoais.Nos últimos anos, tornou-se comum na Coreia do Norte dar às crianças nomes mais fáceis de pronunciar e com significados positivos. Para meninas, nomes como Su Bin (brilho extraordinário), Da On (todas as coisas boas estão por vir), A Ri (nobre e preciosa) e Si A (caráter justo e puro) ganharam popularidade. Para meninos, Do Yun (força interior), Ha Yul (a palavra de Deus), Ji U (amigo próximo, de mentalidade semelhante) e Min So (bom cidadão) foram amplamente escolhidos.Contudo, a repressão de Kim Jong-un passou a desestimular essas escolhas sob a justificativa de que poderiam soar sul-coreanas. Em seu lugar, o governo recomenda nomes que expressem o amor eterno do partido pelo povo, como Eun Hye (graça), Eun Dok (benevolência) e Haeng Bok (felicidade), ou que transmitam lealdade ao regime, como Chung Song (lealdade), Chung Sil (sinceridade) e Chung Bok (devoção). As novas diretrizes fazem parte de uma estratégia para “reforçar o comprometimento com a revolução”, segundo um morador.“A diretriz do partido é dar nomes às crianças de forma que preservem a ideologia Juche e a identidade nacional. Isso significa que os nomes nunca devem permitir que os fantoches sul-coreanos sejam considerados compatriotas”, acrescentou.O termo “fantoches” é frequentemente usado pelo regime para descrever o governo sul-coreano, sugerindo que o país está sob influência dos Estados Unidos.A expectativa do governo norte-coreano é que, ao adotar nomes patrióticos, os cidadãos deixem de compartilhar nomes comuns com os sul-coreanos, reforçando ainda mais a separação ideológica entre os dois países. Apesar da imposição, a medida tem gerado resistência. “Muitas pessoas estão descontentes, dizendo que dar nome a uma criança deveria ser uma decisão dos pais, não do partido”, relatou um morador. Em alguns casos, até mesmo nomes considerados aceitáveis precisam ser alterados devido ao sobrenome. Um morador da província de Pyongan do Norte relatou que seu vizinho nomeou o filho como Chung Song (lealdade), mas precisou mudar porque seu sobrenome era An. Em coreano, “An” significa “paz”, mas também pode soar como “não”, fazendo com que o nome da criança fosse interpretado como “não leal”.O episódio gerou reações irônicas entre a população, segundo a rádio. “As pessoas começaram a sugerir sarcasticamente nomes negativos para aqueles com o sobrenome An”, disse o morador. “Talvez Chung Song devesse se chamar Byon Jol (traiçoeiro), assim ele seria An Byon Jol (não traiçoeiro). Estão rindo da situação”, relatou um morador. “Se o socialismo pode ser abalado apenas por um nome, onde está a suposta invencibilidade do sistema norte-coreano?”, questionou outro morador.