O que esperar do segundo mandato de Ramaphosa na África do Sul
Presidente terá que lidar com uma crise no setor elétrico, a mais alta taxa de desemprego juvenil do mundo e polêmica reforma agrária
Internacional|Beatriz Sanz, do R7
A abertura das urnas na África do Sul comprovou a vitória de Cyril Ramaphosa, que deve governar o país pelos próximos 5 anos.
Ramaphosa assumiu a presidência em 2018 após seu antecessor, Jacob Zuma, renunciar por denúncias de envolvimento em diversos escândalos de corrupção.
O desgaste de Zuma atingiu o CNA (Congresso Nacional Africano), maior partido do país, e o perfil técnico de Ramaphosa foi a resposta à crise. Ainda assim, pela primeira vez na história, o partido venceu com menos de 62% de aprovação popular.
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Para a professora de Relações Internacionais da USJT (Universidade São Judas) Carolina Ferreira Galdino, essa eleição foi muito personalista e focada no candidato. “Os sul-africanos votaram na figura técnica do presidente e não no partido”, afirma.
Galdino ainda destaca que se não houver uma reformulação das práticas de alguns candidatos e do CNA como um todo, o trabalho desenvolvido por Ramaphosa pode ser afetado.
Os desafios do presidente
Atualmente, a África do Sul está vivendo uma crise no setor elétrico. A estatal responsável pela distribuição está sucateada e envolvida em escândalos de corrupção.
Uma das propostas de Ramaphosa é a privatização, mas essa ideia enfrenta muita resistência até mesmo dentro do governo.
Os escândalos de corrupção também afetaram os investimentos externos no país africano e este é um cenário que o presidente tem se esforçado para mudar.
Para isso, Ramaphosa também precisa incluir os jovens no mercado de trabalho. Segundo um relatório publicado pela revista The Economist e publicado no fim do ano passado, cerca de 52% dos jovens com idades entre 15 e 24 anos estão desempregados no país. É a mais alta taxa de desemprego juvenil de todo o mundo.
A batata quente da reforma agrária
Enquanto isso, Ramaphosa espera os ares se acalmarem para colocar em andamento a proposta de reforma agrária que existe desde os tempos em que Nelson Mandela era presidente.
Galdino avalia que o presidente tem a qualidade mais importante para tirar a ideia do papel: vontade política. “Existe muita confiança na habilidade técnica do presidente em executar as medidas que são necessárias, entre elas, a reforma agrária.”
Ainda assim, Ramaphosa pode encontrar algumas barreiras. Uma reforma a todo custo poderia afastar investidores estrangeiros e prolongar ainda mais a crise econômica do país.
Por outro lado, a demanda é uma reivindicação da população negra que é maioria no país e viveu por séculos afastada dos direitos políticos.