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Peru: famílias recebem restos mortais de vítimas de massacre em universidade após 31 anos

Militares invadiram instituição em 1992 e prenderam nove estudantes e um professor, que foram torturados e assassinados

Internacional|Do R7

Dora Oyague foi uma das dez vítimas do massacre na Universidade La Cantuta
Dora Oyague foi uma das dez vítimas do massacre na Universidade La Cantuta

Pilar Fierro encerrou um capítulo muito difícil de sua vida ao receber do Ministério Público do Peru uma pequena urna de madeira com os restos mortais de sua filha Dora, uma estudante universitária sequestrada e assassinada há 31 anos em uma operação militar em Lima.

"Agora posso descansar por ter encontrado os ossos da minha filha", declarou à AFP, sem conter as lágrimas, a mãe abnegada, de 72 anos. Dora Oyague foi uma das dez vítimas do massacre na Universidade La Cantuta, um caso emblemático pelo qual o ex-presidente Alberto Fujimori foi condenado.

O MP entregou na sexta-feira (1º) aos parentes os restos mortais de cinco estudantes, depois de comprovar sua identidade com testes de DNA, uma tarefa complexa que demorou três décadas.

"Eles nos entregaram alguns pedaços do cóccix e do fêmur em que conseguiram uma identificação positiva de DNA", disse Carolina Oyague, irmã de Dora.


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Raida Cóndor, mãe de Amaro Cóndor
Raida Cóndor, mãe de Amaro Cóndor

O enterro está programado para este sábado (2). Duas vítimas serão sepultadas em Lima e três em sua província de origem.

Entre os restos mortais identificados estão os de Armando Amaro Cóndor, cuja mãe, Raida Cóndor, foi uma das faces da longa luta por justiça das famílias.


"Não há corpo inteiro, apenas alguns pedaços do corpo dele [um cotovelo]. Sempre vou chorar pelo meu filho", disse Cóndor.

Os promotores e os legistas devem retomar a busca e a identificação dos restos mortais dos outros cinco estudantes universitários assassinados no caso La Cantuta, em uma área já delimitada.

Fujimori e La Cantuta

Promotores e legistas devem retomar a busca e a identificação dos restos mortais dos outros cinco estudantes
Promotores e legistas devem retomar a busca e a identificação dos restos mortais dos outros cinco estudantes

Em 18 de julho de 1992, militares da unidade Colina invadiram, durante a noite, a Universidade Nacional Enrique Guzmán y Valle, localizada em La Cantuta, 30 km ao leste de Lima, onde prenderam nove estudantes e um professor, acusados de integrar o grupo armado Sendero Luminoso.

Os dez detidos de La Cantuta foram torturados, assassinados e tiveram os corpos queimados com querosene, segundo o julgamento do esquadrão militar de operações especiais.

Em 1993, os promotores encontraram os primeiros restos humanos numa vala comum. E em agosto de 2022 foi encontrado o osso do cotovelo de Armando Amaro Cóndor, que tinha 25 anos na ocasião do massacre.

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O Chile extraditou em 2007 o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) por acusações relativas aos massacres de La Cantuta e de Barrios Altos, considerados os crimes mais graves contra os direitos humanos cometidos no Peru durante as duas décadas de conflito interno (1980-2000).

A Justiça peruana condenou Fujimori a 25 anos de prisão, em 2009, por coautoria de homicídio qualificado, tortura e desaparecimento forçado de pessoas, nos dois casos. O tribunal considerou ainda que nenhuma das dez vítimas de La Cantuta integrava grupos terroristas.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou, em 2006, a responsabilidade do Estado peruano no caso de La Cantuta por violação dos direitos do professor e dos nove estudantes.

"Agora haverá mais tranquilidade. Enterrá-los encerra um luto tão longo, e, de alguma forma, nós estivemos com eles nessa busca", declarou à AFP a ex-ministra da Cultura Gisela Ortiz, que perdeu o irmão Luis Enrique Ortiz, que tinha 22 anos, na operação repressiva.

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