Da destruição de Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial até o atual conflito na Ucrânia, envolvendo um país com o maior arsenal nuclear do mundo, a Rússia, a bomba atômica tem povoado o nosso imaginário.Há quase um século vivemos com o temor de uma grande destruição, que pode significar a devastação completa de uma nação ou até mesmo o fim da vida no planeta. Exagero? Veja qual é a situação atual sobre a produção, uso e manutenção desse material bélico.Atualmente, nove países possuem arsenais nucleares:A Rússia e os Estados Unidos são as potências com maior número de ogivas: a Rússia possui cerca de 6.000, enquanto os EUA têm aproximadamente 5.500.Em seguida, vêm China (410), França (290) e Reino Unido (225).Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte possuem armas nucleares em menor quantidade, embora seus números exatos não sejam divulgados.A posse dessas armas coloca as nações citadas acima em uma posição estratégica diferenciada no cenário internacional, influenciando diretamente a geopolítica global e a segurança do planeta.A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, é um exemplo.“A Rússia, na guerra contra a Ucrânia, tendo o maior número de ogivas ativas do mundo, consegue manter as suas fronteiras distantes de ataques da Otan”, diz Pedro Rennó, professor de história e influenciador digital com mais de 80 mil seguidores.A existência de armas nucleares exerce uma forte influência na geopolítica global.Um dos principais conceitos que rege o equilíbrio nuclear é o da “Destruição Mútua Assegurada” (MAD, na sigla em inglês).“A MAD é uma teoria pela qual as potências nucleares não se atacam diretamente, com medo de uma guerra devastadora. Isso reduz fortemente os riscos de ameaças diretas entre elas”, diz Emanuel Pessoa, advogado especializado em direito internacional.No entanto, a busca pela modernização dos arsenais e o desenvolvimento de armas mais ágeis e letais impulsionam uma constante corrida armamentista, especialmente entre Estados Unidos, China e Rússia.Um fator que gera preocupação é a possibilidade de que novos atores globais adquiram ogivas nucleares, como o Irã. Embora o governo iraniano alegue que seu programa nuclear tem fins pacíficos, há suspeitas de que o país possa desenvolver armamento atômico.O temor também se estende a grupos terroristas, que poderiam obter material atômico por meio de mercados ilegais.“Há medo que certos atores globais adquiram ogivas, como o Irã e os grupos terroristas, o que poderia gerar ataques devastadores. Isso leva a diversas sanções econômicas à Coreia do Norte e ao Irã, por exemplo”, diz Pessoa.Diante dos riscos inerentes à proliferação nuclear, foram estabelecidos tratados internacionais para tentar limitar sua disseminação.O principal acordo é o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), assinado em 1968 e que atualmente conta com 189 países signatários — incluindo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França.O tratado busca impedir a disseminação de armas nucleares, promover o desarmamento e incentivar o uso pacífico da energia nuclear. No entanto, países como Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte não aderiram ao TNP ou se retiraram dele, como foi o caso da Coreia do Norte, em 2003.Outro acordo relevante é o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), de 1996, que proíbe todos os testes nucleares. No entanto, ele ainda não entrou em vigor devido à falta de ratificação por países-chaves, como Estados Unidos, China, Irã, Índia, Israel, Paquistão e Coreia do Norte.Já o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN), de 2017, tem como objetivo banir completamente o uso, o desenvolvimento e a posse de armas nucleares, mas não conta com a adesão das potências nucleares.Além desses tratados multilaterais, acordos bilaterais entre Estados Unidos e Rússia foram firmados para limitar o número de armas estratégicas, como o Novo START — que busca reduzir os arsenais das duas maiores potências nucleares do mundo.“O primeiro e único país a desenvolver e utilizar uma bomba atômica em um conflito foi os Estados Unidos. Os EUA lançaram duas bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial”, diz Diego Amaro de Almeida, professor de História do Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo), em Lorena (SP).Há indícios de que a Alemanha nazista também desenvolvia pesquisas para a criação de armas nucleares, mas seus projetos foram desmantelados com a derrota do regime.A União Soviética desenvolveu sua própria bomba atômica em 1949, dando início à corrida armamentista da Guerra Fria. Posteriormente, outros países passaram a integrar o grupo de nações detentoras dessa tecnologia, consolidando o atual cenário de potências nucleares.