Proibição de mototáxis e tuk-tuks expõe caos da metrópole da Nigéria
Governo diz que a circulação de okadas e kekes causa 'mortes e desordem'; população está indignada com a medida pela falta de alternativas
Internacional|Cristina Charão, do R7
O sistema de transporte da maior cidade da Nigéria, Lagos, nunca pôde ser chamado de eficiente. No caos do vai e vem da grande metrópole africana, um dos principais centros econômicos da África, os mototáxis e os tuk-tuks — conhecidos por lá como okandas e kekes — surgiram como solução para os problemas dos 22 milhões de habitantes da região metropolitana de Lagos. Mas agora eles estão proibidos de circular nas principais ruas e avenidas da cidade, e o sumiço reinstalou o caos.
A medida, oficialmente, pretende diminuir os acidentes envolvendo o transporte de passageiros (e muitas vezes, não só de passageiros, mas de qualquer tipo de carga) e começou a valer em 1º de fevereiro. O governo de Lagos afirma que a circulação de okadas e kekes causa "mortes e desordem".
Segundo dados apresentados pelas autoridades à imprensa, foram registrados mais de 10 mil acidentes e 600 mortes entre 2016 e 2019, considerado apenas as informações de um único hospital, o General Hospital de Lagos.
Mas desde o primeiro dia sem as motos e triciclos circulando, Lagos experimentou diversos dias caóticos. Filas imensas em pontos de ônibus e milhares de pessoas caminhando quilômetros são registros costumeiros nas últimas duas semanas.
Os motoristas de kekes e okadas, boa parte deles trabalhando para empresas de aplicativos de transporte, até tentaram desafiar a proibição, mas foram parados pela polícia. Só no primeiro dia, 50 foram presos e mais de mil motocicletas ou triciclos foram apreendidos.
Protestos
A indignação tomou forma em um protesto organizado no dia 8 de fevereiro, durante a Maratona de Lagos. Um grupo de pouco mais de 20 jovens invadiram as ruas do trajeto da corrida com cartazes denunciando a situação.
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"Não se pode construir uma megacidade escondendo os pobres", dizia um dos cartazes escritos pela influencer nigeriana Sally. "Muitos dos moradores de Lagos estão furiosos porque nossa população cresceu, o trânsito ficou pior e a proibição foi implementada sem qualquer tipo de alternativa imediata", registrou ela ao The Guardian Nigeria.
A Federação das Organizações de Trabalhadores Informais da Nigéria diz que a proibição das okadas e kekes é "um ataque direto ao povo trabalhador".