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Quais as condições de Rússia e Ucrânia para um cessar-fogo?

Invasão russa completou três meses no último dia 24 de maio; negociação entre os países está parada há algumas semanas

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Bombeiros apagam incêndio em fábrica de Bakhmut, na Ucrânia
Bombeiros apagam incêndio em fábrica de Bakhmut, na Ucrânia

Desde que a Guerra na Ucrânia iniciou com a invasão Russaa, em 24 de fevereiro, busca-se um acordo de cessar-fogo entre as partes. A escalada do conflito, porém, afasta os países da possibilidade de assinar um tratado que agrade às duas partes.

As negociações estão paralisadas há semanas, com Moscou e Kiev sendo irredutíveis em suas demandas. O R7 entrevistou dois especialistas que apontam o que a Rússia e a Ucrânia buscam para alcançar o fim da guerra.

Rússia

Vladimir Putin não dá sinais de que pretende interromper ofensiva contra a Ucrânia
Vladimir Putin não dá sinais de que pretende interromper ofensiva contra a Ucrânia

O historiador Rodrigo Ianhez, especialista em Rússia, afirma que é difícil determinar quais são as propostas russas na mesa de negociação com a Ucrânia.

“Um dos problemas de avaliar essa questão é que os próprios russos não têm sido muito claros em quais são seus objetivos. Quando havia negociação em andamento, eles haviam diminuído o escopo das condições”, conta Ianhez.


De acordo com o historiador, entre as principais demandas de Moscou estão a manutenção do território da Crimeia, anexado em 2014, e o status de neutralidade ucraniana diante da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), além do reconhecimento da independência e separação de Donetsk e Lugansk, regiões da Ucrânia que são pró-Rússia.

À medida que a guerra avança e a Rússia é bem-sucedida em sua ofensiva no leste da Ucrânia e domina mais territórios, entre eles Kherson, cresce a lista de objetivos de Putin.


“Dificilmente [a Rússia] abriria mão dessas conquistas e de um corredor que conecte por terra até o território da própria Rússia”, disse Ianhez, referindo-se à península da Crimeia.

“Para os russos, a situação na Crimeia, principalmente, é uma situação sem volta. Quer dizer, a Crimeia já está integrada à Federação Russa, e a própria população da península seria contrária a um retorno à Ucrânia.”


Ucrânia

Apesar de exigir paz, Volodmir Zelenski não apresenta conduta conciliadora
Apesar de exigir paz, Volodmir Zelenski não apresenta conduta conciliadora

O professor de relações internacionais da ESPM Vitor Alessandri Ribeiro afirma que a principal demanda de Kiev é a restauração integral do território com base no cenário de antes do início da invasão, algo com que a Rússia não concorda. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, também deseja negociar diretamente com o líder russo Vladimir Putin.

“Zelenski exige que a conversa para a paz ocorra diretamente entre ele e Vladimir Putin, recusando-se a tratar com emissários do governo russo”, afirma Ribeiro em entrevista ao R7.

Para o professor de relações internacionais, alguns movimentos do presidente ucraniano são contraditórios, já que os pedidos de paz são sucedidos por ações que promovem a escalada da guerra.

“Zelenski tem evidenciado uma combinação de gestos contraditórios, com acenos favoráveis à paz mas mantendo uma postura de confronto. Evidencia sentir o impacto das mortes e da destruição do país dizendo ser hora de buscar a paz, mas sem adotar uma linguagem que admita derrota.”

O que é plausível para o cessar-fogo?

Bandeiras da Ucrânia e da Rússia em uma mesa, antes de negociações entre os dois países
Bandeiras da Ucrânia e da Rússia em uma mesa, antes de negociações entre os dois países

Tanto Ribeiro quanto Ianhez concordam que os avanços russos no campo de batalha enfraquecem o poder de Kiev na mesa de negociações. Apesar da lentidão, a ofensiva de Moscou no leste da Ucrânia tem sido favorável às tropas de Putin.

“Os russos, nas últimas semanas, vêm fazendo avanços lentos mas constantes nas regiões separatistas. Nessas condições, os próprios russos falaram que, com essa exigência [de devolver territórios], apenas para sentar à mesa, não há sequer condições de as conversas serem retomadas”, comenta Ianhez.

“Se é verdade que as tropas russas falharam em tomar a capital Kiev, não é menos verdade que mudaram a estratégia militar focando no leste e que agora a situação militar é mais favorável aos russos”, declara Ribeiro. “A dificuldade para os ucranianos terem suas condições aceitas agora está no sucesso russo em campo militar.”

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A retórica do governo dos dois países assegura que as premissas de cada lado para a retomada das negociações são plausíveis, o que impossibilita o reinício das conversas em um futuro próximo.

“Se a Rússia adentrar negociações de paz em tal condição, dificilmente irá concordar em reverter sua tomada desses territórios ucranianos. Nenhum dos lados dá mostras de aceitar ceder ao outro, e isso apresenta um cenário muito provável de que o conflito ainda se estenda por bastante tempo”, diz o professor da ESPM.

“Já faz oito anos que [Donetsk e Lugansk] declaram independência, e se lançaram em uma guerra civil. As condições russas são plausíveis na visão de Moscou, por mais que Zelenski tenha colocado como inaceitáveis para os ucranianos”, conclui Ianhez.

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