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Se a Otan é uma aliança defensiva, qual o temor de Vladimir Putin?

Governo russo não concorda com possível adesão das vizinhas Finlândia e Suécia ao grupo militar chefiado pelos Estados Unidos

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Vladimir Putin em conversa com o diretor da Corporação de Energia Atômica Russa
Vladimir Putin em conversa com o diretor da Corporação de Energia Atômica Russa Vladimir Putin em conversa com o diretor da Corporação de Energia Atômica Russa

O assunto dos últimos dias na política internacional é a candidatura da Finlândia e da Suécia à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A Rússia já demonstrou seu descontentamento com o movimento dos países nórdicos e a situação aumenta ainda mais a atenção na Europa. Porém, se a aliança militar atlântica é um grupo de defesa mútua, qual o temor de Vladimir Putin?

Especialistas entrevistados pelo R7 afirmam que a Otan, mesmo com a premissa defensiva, pode ser ao mesmo tempo ofensiva. O professor de relações internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Luiz Felipe Osório destaca o caráter expansionista e intervencionista da aliança militar atlântica.

“A Otan é uma aliança de defesa mútua que não é apenas defensiva. Desde os anos 1990 ela tem se mostrado muito ativa e intervencionista”, diz Osório, citando como exemplo os conflitos na região dos Balcãs, no Afeganistão e na Líbia.

O cientista político e doutorando do programa de pós-graduação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Boris Zabolotsky ressalta a força diplomática da Otan, muitas vezes ignorando os acordos firmados em reuniões das Nações Unidas.

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“A Otan estava sobrepondo as decisões do Conselho de Segurança da ONU. Os russos passaram a ver ou interpretar a aliança como uma espécie de substituta do conselho, uma vez que os acordos não tinham mais validade no campo estratégico e militar”, explica.

A expansão da Otan para a Rússia, logo, significa uma derrota política e uma ameaça, já que os territórios dos Estados-membros da aliança contam com bases militares que possuem diferentes tipos de armamento.

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“A Rússia de hoje não é um oponente do porte da outrora União Soviética, mas ainda rivaliza com o bloco imperialista”, explica Osório. “Em uma posição tão relevante para a segurança de Moscou, como é a da Ucrânia, é inadmissível para os russos [a adesão do país à Aliança]”.

Interesses econômicos

Presidente da Finlândia e primeira-ministra da Suécia foram aos EUA após candidatura à Otan
Presidente da Finlândia e primeira-ministra da Suécia foram aos EUA após candidatura à Otan Presidente da Finlândia e primeira-ministra da Suécia foram aos EUA após candidatura à Otan

Apesar de ser um grupo de defesa militar, a aliança atlântica tem laços econômicos bem estreitos entre seus integrantes. Quando o assunto é venda e compra de equipamentos bélicos, esse comércio interno do grupo é intensificado.

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“A Otan significa não apenas o controle militar, mas também, e fundamentalmente, a garantia de uma reserva de mercado para a compra de produtos bélicos estadunidenses, fomentando o complexo industrial-militar dos norte-americanos”, diz o professor da UFRRJ.

Zabolotsky destaca a importância do equilíbrio nuclear mundial, embaralhado pela expansão da Otan, encurtando a distância entre países, por mais que estejam em continentes distintos.

“O equilíbrio estratégico nuclear é a certeza de que aquele que atacar nuclearmente um país nuclear, vai receber um segundo ataque muito mais devastador do que o primeiro. Há uma lógica meio escatológica nisso porque o que formula o princípio desse equilíbrio nuclear é a chamada destruição mútua assegurada”, explica o cientista político da UFRGS.

Esses acordos nucleares fechados sobretudo durante a Guerra Fria foram sendo desfeitos ao longo dos anos pelos Estados Unidos, país que sempre indica o comandante militar da Otan.

“A intenção norte-americana de perseguir a adesão da Ucrânia à Otan possibilitaria a instalação desses misseis de curto alcance ali no Mar Negro e na Ucrânia, de modo que isso aumentaria esses temores da Rússia porque um míssil disparado da Ucrânia atingiria Moscou em uma questão de 5 a 6 minutos”, afirma Zabolotsky.

Finlândia na Otan

Primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, garante que Otan não colocará armas na Finlândia
Primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, garante que Otan não colocará armas na Finlândia Primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, garante que Otan não colocará armas na Finlândia

Um dos motivos pelos quais a Rússia invadiu a Ucrânia foi o relacionamento estreito de Kiev com a Otan, flertando com uma candidatura à aliança em um futuro próximo. Porém, segundo Osório e Zabolotsky o mesmo pode não acontecer com a Finlândia e a Suécia.

“Ainda é cedo para fazer qualquer prognóstico sobre a reação da Rússia que não seja o protesto diplomático. Em abstrato, não necessariamente a adesão da Finlândia levará ao rompimento das relações comerciais”, diz Osório.

“A Finlândia sempre foi vinculada à Otan, ao Ocidente. Não havia de fato essa associação, ela não era oficial, mas era uma associação que apenas agora vai, caso haja de fato essa entrada da Finlândia na Otan, ratificar algo que já estava basicamente tido como dado”, destaca Zabolotsky.

Para ambos, o que determinará uma ação mais enérgica russa são os termos pelos quais a Finlândia entrará na Otan. O país, que divide mais de 1.300 km de fronteira com a Rússia, pode, por exemplo, permitir a instalação de equipamentos militares dos aliados em seu território.

Zabolotsky não acredita que esse tipo de situação aconteça, uma vez que a Finlândia sempre buscou se posicionar de maneira imparcial diante dos conflitos mundiais, assim como a Suécia.

Outro fator que diferencia a possível adesão finlandesa e sueca à Otan da candidatura ucraniana é o histórico entre os países. Enquanto Oslo e Estocolmo têm rusgas mais antigas com a Rússia, Kiev vive um processo interno atual de ruptura com os laços históricos com Moscou.

“A Ucrânia tem um fomento de uma identidade contra a Rússia bastante presente em toda sociedade, uma maneira de formatar a nacionalidade ucraniana enquanto algo oposto ao que a Rússia representa”, explica Zabolotsky. “Por isso que a adesão da Ucrânia à Otan é uma ameaça à segurança russa.”

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Os especialistas também concordam que a aliança militar atlântica tem responsabilidade no atual conflito na Ucrânia, devido ao caráter expansionista da organização, que cada vez mais encurrala a Rússia — geografica e politicamente.

“A Otan, representando seu membro dominante, os Estados Unidos, que esticaram a corda até ela arrebentar, fornece os suportes das mais variadas ordens para a manutenção prolongada do conflito”, diz Osório.

“A Otan, utilizando a Ucrânia, forçou uma espécie de palco para provocações contra a Rússia ao longo dos anos, ao longo de décadas. Para atraí-la para a influência ocidental e, assim, se apropriar da Ucrânia e utilizar a Ucrânia como um terreno para ameaças constantes à Rússia”, conclui Zabolotsky.

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