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Sequestro de estrangeiros no Saara dá caráter global a guerra no Mali

Ataque da Argélia hoje pode ter deixado vários reféns estrangeiros mortos

Internacional|com R7

Imagem sem data mostra o campo de gás em Titantourine, local do cativeiro
Imagem sem data mostra o campo de gás em Titantourine, local do cativeiro

O sequestro de dezenas de reféns ocidentais em um complexo de gás no deserto da Argélia, realizado ontem por combatentes islâmicos, abriu uma frente internacional na guerra civil do Mali, com o potencial para envolver potências como Grã-Bretanha, Estados Unidos e Japão — além da França, que já atua no Mali.

Desde o fim de semana, tropas francesas avançam sobre o norte do Mali, região sob controle de rebeldes islâmicos. O objetivo de Paris, que atua ao lado do Exército do Mali, é retomar o domínio do norte do país e impedir o avanço dos grupos rebeldes, que são ligados à rede islamita Al Shabab, braço da Al Qaeda no norte da África.

Como resposta à operação francesa no Mali, um grupo que se autointitula "Batalhão de Sangue" invadiu um complexo de gás na vizinha Argélia. Os rebeldes anunciaram ter feito 41 estrangeiros como reféns, inclusive japoneses, norte-americanos e europeus, na localidade de Titantourine, nas profundezas do Saara.

Mais de 24 horas depois da invasão de homens armados na instalação de extração de gás e no alojamento anexo, na madrugada de quarta-feira (16), pouco se sabe além do grupo sequestrador, que exigiu ontem a saída da França do Mali como condição para libertar os reféns.


A emissora de TV France 24 disse, citando um dos reféns com quem falou por telefone, que os sequestradores estão fortemente armados e que ameaçaram explodir a instalação se o Exército argelino tentar libertar os reféns. De acordo com a emissora, citando o refém que pediu anonimato, alguns deles foram obrigados a vestir cinturões com explosivos.

Mas a situação se complicou hoje após uma ação perpetrada pelo Exército argelino no local para tentar libertar os reféns. Segundo os sequestradores, um bombardeio argelino deixou mais de 40 pessoas mortas. A informação ainda não foi confirmada pelo governo da Argélia, que se limitou a anunciar a libertação de quatro reféns estrangeiros após a operação.


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Os militantes disseram ontem ter sete norte-americanos em seu poder — cifra que autoridades dos EUA afirmaram não ter como confirmar. A estatal petrolífera norueguesa Statoil disse que nove funcionários noruegueses e três argelinos foram sequestrados. A imprensa do Japão informou que cinco japoneses a serviço da firma de engenharia JGC também foram feitos reféns.

"Essa é uma situação perigosa e que se desenvolve rapidamente", disse o chanceler britânico William Hague a jornalistas em Sydney nesta quinta-feira, acrescentando que funcionários diplomáticos no país estão sob segurança reforçada.

O secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, tratou de "assegurar ao povo norte-americano que os Estados Unidos vão tomar todas as medidas necessárias e adequadas para lidar com essa situação".

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, disse durante visita ao Vietnã que seu país "nunca irá tolerar tal ato", segundo a agência de notícias Jiji. Seu governo realizou uma reunião emergencial e disse estar trabalhando com outros países para liberar os reféns japoneses.

Uma coisa está clara: a chamativa reação à intervenção militar francesa iniciada na semana passada no Mali obriga o presidente da França, François Hollande, a tomar decisões difíceis, e espalha esse conflito para bem além do continente africano, desafiando os EUA e a Europa.

Liderado por argelinos com atuação anterior em guerrilhas no Afeganistão, o "Batalhão de Sangue" exigiu que a França suspenda a ação militar contra militantes islâmicos no norte do Mali, uma operação que tem o aval de aliados ocidentais e africanos que temem que a Al Qaeda esteja construindo um refúgio no Saara, aproveitando os inúmeros combatentes e armas que entram no norte do continente, em 2011, durante a guerra entre rebeldes e as forças do regime líbio de Muammar Gaddafi.

Hollande não se manifestou especificamente sobre o sequestro, mas já disse que a intervenção francesa no Mali será longa e árdua, e que alvos franceses e ocidentais como um todo passam a correr mais riscos, dentro e fora da África.

O governo argelino descartou negociar com os sequestradores, que paralisaram a instalação responsável por 10% da produção argelina de gás, da qual grande parte é bombeada para a Europa.

Os militantes, que se comunicam por meio de contatos estabelecidos com a imprensa da vizinha Mauritânia, disseram ter dezenas de homens armados com morteiros e mísseis antiaéreos na base, que fica nos arredores da cidade de Amenas, a cerca de 100 km da fronteira com a Líbia.

Eles disseram ter repelido um avanço de forças argelinas na noite de quarta-feira, algo que o governo não comentou. Antes, autoridades disseram que cerca de 20 homens realizavam o sequestro.

Os militantes não fizeram nenhuma ameaça explícita, mas deixaram claro que a vida dos reféns corre risco. "Responsabilizamos completamente o governo argelino, o governo francês e os países dos reféns se nossas exigências não forem cumpridas, e cabe a eles conter a brutal agressão contra o povo do Mali", disse nota divulgada pela imprensa mauritana.

Eles condenaram o governo laico da Argélia por permitir que aviões franceses sobrevoem seu território a caminho do Mali, e também acusaram Argel de fechar sua fronteira para refugiados malineses.

A imprensa francesa disse que os militantes também estão exigindo a libertação de companheiros presos na Argélia, cujo governo travou uma sangrenta guerra contra grupos islâmicos na década de 1990.

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