UE exige saber os países do Mercosul que participarão das negociações para futuro acordo de livre comércio
Os dois blocos retomaram em 2010 as negociações, após uma longa suspensão de seis anos
Internacional|Do R7
Os membros da União Europeia exigem que seja esclarecido quantos países do Mercosul participarão do acordo de livre comércio com o bloco sul-americano antes de continuar as negociações, várias vezes adiadas.
Embora oficialmente "a UE e o Mercosul estejam na etapa final da preparação de suas respectivas ofertas", segundo a Comissão Europeia, elas estão longe do fim. O prazo para apresentá-las já tinha sido estendido até janeiro.
A UE quer saber com quem negocia, se com o Mercosul como bloco, com seus quatro membros fundadores (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), com três membros da união alfandegária sul-americana sem contar a Argentina, ou com cada país separadamente.
Ambas as partes "devem moldar o volume da oferta em função do formato de negociação", informou uma fonte diplomática à AFP. Este volume "não será o mesmo se negociam com três ou quatro países", acrescentou.
Esta incógnita gera incerteza entre os europeus, apesar das declarações sobre a unidade do Mercosul nesta negociação, como a do ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, no fórum de Davos, afirmando que o Brasil "não pensa em excluir a Argentina".
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Na semana passada os representantes dos 28 países membros da UE pediram à Comissão, que tem o mandato de negociação, que esclarecesse com quem negociam exatamente, informaram, separadamente, duas fontes diplomáticas.
Para a UE, o interesse do Brasil de alcançar um acordo é claro. O presidente da Comissão o destacou no começo de dezembro em uma entrevista: "o Brasil quer um acordo (...) deve decidir se quer junto ao Mercosul e os outros países também".
Barroso, que termina seu mandato à frente da Comissão Europeia em outubro, tem pressa para selar o acordo de livre comércio e acrescentá-lo a seu legado.
"Cada país (do Mercosul) fez sua oferta, o problema é que a sensibilidade dos setores é diferente entre os países", informou uma fonte diplomática. Isso leva a que, quando se cruzam as ofertas, a porcentagem total é baixa.
"Tecnicamente as discussões mostraram que é muito difícil ter uma oferta única (do Mercosul) por isso precisa de uma decisão política (dos presidentes dos países sul-americanos envolvidos) para fazer quatro ofertas", acrescentou, destacando a "dificuldade de ter ofertas separadas" que tornaria sem efeito a união aduaneira nascida do Tratado de Assunção.
Esta "decisão política" deve surgir de uma reunião dos líderes do Mercosul, cúpula adiada três vezes e que deve ser realizada agora em fevereiro.
Os presidentes da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, assim como a Venezuela, último país a se incorporar ao bloco, devem decidir, paralelo à cúpula de Havana da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), uma data para o próximo encontro do Mercosul.
O Mercosul e a UE retomaram em 2010 as negociações - após uma suspensão de seis anos - para fechar um acordo de livre comércio entre ambos os blocos.
Contudo, as medidas protecionistas adotadas pela Argentina — denunciadas pelos Estados Unidos e a UE na Organização Mundial do Comércio (OMC) — e a suspensão, no ano passado, do Paraguai da união aduaneira sul-americana pela destituição do então presidente Fernando Lugo atrasaram as conversas.
A Venezuela, último sócio a se integrar ao bloco, ainda está adaptando suas normas e tarifas às do Mercosul e, por isso, não participará nas negociações com a UE.