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Médico não sabia causa ao atestar morte de Lorenza, indica conversa

Troca de mensagens aponta que o socorrista cogitou acionar o IML, mas desistiu ao ver "sofrimento" dos filhos da mulher de promotor

Minas Gerais|Shirley Barroso, da Record TV Minas

Laudo diz que Lorenza foi intoxicada e asfixiada
Laudo diz que Lorenza foi intoxicada e asfixiada

Mensagens coletadas pelo Ministério Público de Minas Gerais e pela Polícia Civil indicam que o médico que atestou a morte de Lorenza Maria Silva de Pinho, esposa de um promotor em Belo Horizonte, não tinha certeza sobre a causa da morte ao atestar o óbito da mulher, no último dia 2 de abril.

As conversas, às quais a Record TV Minas teve acesso, apontam que Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso encontrou Lorenza morta ao chegar ao apartamento da família e que cogitou a acionar o IML (Instituto Médico Legal), mas desistiu ao ver o "sofrimento" dos cinco filhos de Lorenza com o promotor André Luís Garcia de Pinho e a "confusão" que estava no local.

André Luís de Pinho foi denunciado e segue preso como acusado de matar a esposa. A investigação concluiu que Lorenza foi intoxicada e asfixiada. Cardoso foi denunciado por falsidade ideológica por supostamente ter fraudado o atestado de óbito.

O inquérito sobre o caso mostra uma mensagem que o médico Cardoso mandou para a esposa, às 6h35, avisando que está a caminho de um atendimento. "Estou saindo na ambulância agora, amor", escreveu.


Menos de uma hora depois, ele recebe a mensagem de uma colega médica, que pergunta se ele tinha ido à casa de Lorenza de Pinho. "Ana me disse que você saiu na ambulância para buscar a Lorenza. Está grave?"

Ele responde com uma palavra: "óbito".


A médica parece chocada e pergunta se ele acredita que pode ter sido por overdose de medicamentos. “Será que foi abuso? Será que ela estava fazendo uso de opioide em casa?”

Cardoso responde que não sabe. “Cheguei já estava morta”. “Você deu a d.o para o IML?”, pergunta a colega sobre a declaração de óbito.


Cardoso diz que ainda não sabe a causa da morte. Depois, ele manda uma mensagem de áudio para a médica:

"Eu acho que ela deve ter tomado remédio para mais ontem à noite e ela misturou com bebida alcoólica. Até fiquei pensando se mandava ela para o IML, mas aquele sofrimento, dos cinco meninos, aquela confusão. Aí, eu atestei normal" sic.

Suspeitas

Na tarde do dia 2 de abril, horas após o atendimento, o médico manda outro áudio para a colega em que afirma que apesar de ter encontrado Lorenza já morta quando chegou ao apartamento do casal, ele tentou ressuscitá-la.

"É claro que tentei, reanimei. Eu não vou chegar lá e não fazer nada, né. Mas eu achei a situação meio estranha mesmo, sabe. Até fiquei na dúvida, liguei pro Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência], também pela declaração de óbito. Eles falaram que o IML não está nem recebendo essas coisas, só morte violenta. Aí, eu acabei fazendo a declaração. Eu fiquei pensando nos meninos também, para resolver o negócio, porque até chamar o IML iam chegar no final da noite, que eles falaram. Ia demorar muito”, relata.

O médico Itamar Cardoso ainda diz que estranhou o comportamento do promotor André Luís Garcia de Pinho. "Ele não demonstrou muita supresa, assim, com o quadro, não tava muito emotivo", observou.

A médica escreve na resposta que achou o comportamento do promotor estranho.

"Você pensar uma pessoa igual à Lorenza, que já devia tomar um tanto de remédio, morfina em dose alta e tal, chegar ao ponto de fazer uma overdose dessa de não dar tempo de socorrer, entendeu? Acho esquisito. É um cara que está sempre presente, está sempre com ela. Mas um cara que ela morreu e ele não chorou", avalia a profissional.

Em outro áudio, a médica faz referência à ligação do promotor para o hospital, pedindo socorro para a mulher dele.

"Você chega lá, ela já está dura, tipo assim cadavérica, entendeu? Ele viu isso 6:30 da manhã. Está medindo a saturação de cadáver. A gente vê que está morto, entendeu? Uma coisa é chamar e falar assim: acho que está morta, gelada e tal. Outra coisa é falar que não tava funcionando o oxímetro, ou não tava achando a saturação", conclui.

Procurada, a defesa de Itamar Cardoso disse que não irá se pronunciar sobre o caso. A defesa de André Pinho afirma que o cliente é inocente e que não há indícios que confirmem que Lorenza foi assassinada pelo marido.

O caso

Lorenza morreu no apartamento do casal, no bairro Buritis, região Oeste de Belo Horizonte, no dia 2 de abril. Os investigadores não detalharam como a vítima pode ter sido asfixiada, mas explicaram que foram encontradas marcas no pescoço dela que não condizem com as ações de socorro que poderiam ter sido prestadas pelos atendentes da ambulância acionada no dia da morte.

Já a intoxicação aconteceu pelo uso de medicamentos em dosagem elevada e alto consumo de bebida alcoólica. A perícia do IML (Instituto Médico Legal) constatou que ela havia ingerido um opioide, medicamento analgésico, em quantidade maior que a indicada pelo médico dela.

De acordo com o Ministério Público, o promotor também teria comprado uma garrafa de cachaça, ingerida pela esposa, como uma estratégia de intoxicar Lorenza.

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