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Procurador afirma que Aécio não explicou motivo de receber R$ 2 milhões de Joesley em dinheiro

Parecer está em recurso contra a absolvição do tucano no caso das malas de dinheiro; defesa alega que valor era de empréstimo

Minas Gerais|Ezequiel Fagundes, da Record TV Minas

Aécio Neves e a irmã Andrea Neves são acusados na denúncia do MPF
Aécio Neves e a irmã Andrea Neves são acusados na denúncia do MPF

A Procuradoria Regional da República em São Paulo emitiu um parecer em que declara que o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, deixou claro em seu depoimento que os R$ 2 milhões repassados em dinheiro ao deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) eram propina. O documento, do último dia 16 de agosto, assinado pelo procurador regional da República, Marcos José Gomes Corrêa, é um recurso contra a absolvição de Aécio e outras três pessoas pelo crime de corrupção passiva no caso das malas de dinheiro.

Em seu parecer, o procurador afirmou que Aécio e a jornalista Andrea Neves, irmã do tucano, "não souberam explicar em seus interrogatórios o motivo de o suposto empréstimo ou o alegado adiantamento de compra de imóvel não ter sido formalizado por meio de contrato ou pago por vias convencionais e mais seguras, como transferência bancária, muito embora ambos tenham definido suas respectivas relações com Joesley Batista como superficiais e esporádicas. Limitaram-se em seus interrogatórios a lamentar que à época não cogitaram formalizar a transação, em relato de inverossímil ingenuidade".

Em outro trecho, Corrêa citou depoimento de Joesley, que, ao ser questionado sobre a forma pela qual foi combinada a entrega dos valores — em espécie e sem formalização de qualquer contrato —, "explicou que teria que ser assim porque os métodos anteriores de pagamento a políticos, a exemplo de uso de notas frias de prestação de serviços de advocacia, estavam “dando problema”. Para o membro do MP, Joesley deixou "claro que se tratava de propina". "Fica evidente que os R$ 2 milhões não são empréstimo, tampouco adiantamento da compra de apartamento", avaliou o procurador.

O parecer da Procuradoria cita ainda depoimento do ex-executivo da J&F Ricardo Saud. "Era esperada contrapartida por parte de Aécio Neves da Cunha em razão de uma expectativa de poder, lamentando ao final de sua fala que muitas das contrapartidas combinadas não chegavam a se concretizar por falta de empenho dos políticos corrompidos".


“Assim, na verdade, doutor, era mais uma expectativa de poder, né, era uma eleição presidencial muito difícil, muito disputada, nós acompanhávamos diuturnamente com pesquisas, com tudo, pelos investimentos que estávamos fazendo, e naquele momento seria muito importante apoiar também ele pela expectativa de poder muito grande que tinha", afirmou Saud em depoimento.

O recurso da Procuradoria será julgado pela 11ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, formada pelos desembargadores José Lunardelli, Fausto de Sanctis e Nino Toldo.


Absolvição

Em março deste ano, o juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal de São Paulo, absolveu Aécio, Andrea, o ex-assessor do ex-senador Zezé Perrella, Mendherson Lima, e o ex-diretor da Cemig, Frederico Pacheco, primo do tucano.


Para o juiz, a gravação não comprova que houve um esquema de corrupção. "Ao que tudo indica, na realidade, foi apenas o protagonista Aécio inconsciente de uma comédia, nas palavras de Nelson Hungria", escreveu.

A defesa de Aécio sustenta se tratar de um empréstimo para pagar despesas com advogados. Em 2017, a operação Lava Jato, da Polícia Federal, filmou as malas de dinheiro. Antes, Andrea Neves havia sido gravada solicitando a Joesley o valor, a pedido de Aécio.

Outro lado

As defesas de Aécio e Andrea Neves foram contatadas para comentar o parecer da Procuradoria, mas não se manifestaram. O advogado de Mendherson Lima afirma que a sentença de primeira instância deve ser mantida porque "não houve crime". O advogado de Frederico Pacheco não foi localizado.

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