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O que um escândalo sexual no Reino Unido nos ensina sobre o valor das marcas

Como mostra o caso do príncipe Andrew, a vida pessoal não nos pertence. Ainda mais quando somos pessoas públicas

Além do Marketing|Murilo MorenoOpens in new window

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Príncipe Andrew renuncia aos seus títulos? Gerado por Inteligência Artificial. Prompt do autor

A família real britânica não é uma família comum. Ela representa os valores do Reino Unido e funciona como um dos seus símbolos. Por isso, a perda do título de duque de York é mais do que simplesmente um problema interno, familiar, entre o rei Charles III e o, agora, ex-príncipe Andrew. É um problema de Imagem de Marca.

Quando se fala de marca, temos o hábito de pensar naquele desenho que representa uma empresa. Sabe o M do McDonald’s? Normalmente nos referimos a ele como marca. Só que, na verdade, marca é tudo aquilo que nos faz ter uma sensação, um sentimento, quando a gente vê o M vermelho e amarelo numa placa qualquer. A gente sente o gosto do sanduíche, a embalagem nos remete à empresa, o uniforme do atendente, o prédio do restaurante, tudo nos faz ter um sentimento, positivo ou negativo.


Pois é isso que é a família real britânica: talvez a mais importante marca do Reino Unido. Tipo o Big Ben, aquele relógio enorme que existe em Londres. Ou o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Só que mais representativa dos valores britânicos. Cada um dos integrantes da família precisa ser um exemplo da seriedade, confiabilidade, honestidade, serenidade.

É isso que se via na rainha Elizabeth, toda vez que aparecia com seus vestidos monocromáticos e a bolsinha à tiracolo. Inclusive, esse é um reino em que, já nas escolas, se ensina os valores da nação: democracia, estado de direito, liberdade individual, respeito mútuo e tolerância.


Aí, de repente, vem um dos príncipes e se envolve num escândalo sexual. Todo portal de internet, todo telejornal, toda a população inglesa passou a discutir a questão, como se fosse final de Copa aqui no Brasil. Andrew, que agora é tratado pela imprensa como Mountbatten Windsor, tem sido acusado de ter tido relações com o criminoso, condenado por prostituição, Jeffrey Epstein.

Inclusive um livro recém-publicado, a autobiografia da inglesa Virginia Giuffre, conta como Andrew a forçou a ter relações sexuais em três ocasiões, desde que ela tinha 17 anos. Epstein, preso, suicidou-se. Giuffre, que havia se mudado pra Austrália, fugindo da confusão, também. E o ex-duque entrou num buraco existencial difícil de sair.


E o governo britânico agiu, para conter uma de suas maiores crises, como toda grande empresa faz quando vê suas marcas e produtos ameaçados. O rei tirou o título de duque, de príncipe e o tornou um plebeu (parece conto de fadas, mas é assim que ele é chamado na imprensa britânica).

A Marinha foi atrás e cancelou sua patente de vice-almirante. Todos estão deixando claro que não concordam com o comportamento do Sr. Mountbatten Windsor, como se ele fosse uma doença contagiosa. E aí, vem o irmão Charles e decide pagar do próprio bolso a nova moradia do irmão, já que ele perdeu, também, o direito à residência oficial em que morava. Uma coisa é o rei, que representa os valores da sociedade. Outra é o irmão, símbolo da relação familiar, do amor de sangue.


O rei, que é o monarca absoluto, é também um empregado do povo. Ele é o rei supremo, mas precisa prestar contas aos moradores de cada um dos países do seu reino. Como as marcas, ele não é mais dono de si próprio. Cada ato que faz precisa ser milimetricamente pensado, para não ferir a opinião pública. Tanto ele, quanto todos da família real. E isso é muito o que acontece nas empresas.

Marcas são como filhos, depois de lançadas não pertencem mais às empresas, mas aos consumidores, os verdadeiros responsáveis pelo seu sucesso ou fracasso. A monarquia britânica é uma marca, que pertence aos súditos e não aos seus reis e príncipes. Como dizia o imperador romano Júlio César sobre sua esposa Pompéia, não basta ser honesta, é preciso parecer honesta. Pelo jeito, Andrew faltou à essa aula...

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