Por trás da troca de Derrite por Nico na Segurança Pública de SP há uma cortina de fumaça
A nova estrutura pode produzir resultados, que é exatamente o que o governador Tarciso de Freitas quer
Arquivo Vivo|Percival de Souza e Percival de Souza
Ascensão e queda: Guilherme Derrite deixa o comando da Secretaria de Segurança Pública, assume a pasta seu adjunto, Osvaldo Nico Gonçalves. No que implica a mudança para o interesse imediato da população, que é simplesmente poder viver em paz? É o que vamos começar a assistir.
Por trás da troca, Derrite sai e Nico entra, há uma cortina de fumaça nos bastidores, procurando ocultar o que realmente está acontecendo. E isso, porém, está distante do que se tenta justificar.
Claro que um retorno (amargo) para a Câmara dos Deputados, não quer dizer que Derrite tenha um peso que possa ser decisivo para se aprovar um projeto que restringe as chamadas “saidinhas”, a liberação temporária de presos em regime semiaberto, que muitas vezes se transforma perigosamente em definitivas.
Está provado. Derrite já tinha a sua cadeira na Câmara. Saiu, derretido pelos ácidos das cobranças e necessidades, e está voltando. Seria ele quem vai decidir pelo fim das saidinhas, por sinal defendidas abertamente pelo ministro das Justiça e Segurança, Ricardo Lewandowski, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal?
Difícil, convenhamos, porque ele é o ex-ministro quem dá o aval para o presidente da República sancionar, ou não, a nova e restritiva lei.
Mas, no caso da Segurança Pública, não é bem este o punctum saliens, o ponto central da questão. Nossos problemas estão bem além das saidinhas.
Aos bastidores, portanto. Derrite é capitão reformado da Polícia Militar. Na reserva, portanto. Ainda é jovem para vestir pijama. Ascensão: foi a primeira vez que um oficial, mesmo reformado, assumiu a pasta da Segurança. Nunca, ao longo da história, havia acontecido isso antes.
As razões habitam a caserna: causa um mal-estar, em muitos dos oficiais superiores, ficarem subordinados a um capitão. Inclusive batendo continência para ele. Um coronel, por exemplo, passou por cursos que um capitão não tem. Já pensou, nas Forças Armadas, um general ficar subordinado a um capitão? Inviável. Jamais.
Queda: exoneração, mas por motivos diversos. Não agradou. Agora, o secretário é Osvaldo Nico, um delegado de polícia super-experiente, com longa carreira no Garra, o grupo da Polícia Civil contra roubos e assaltos, e primeiro diretor do recém-criado Dope, o Departamento de Operações Estratégicas.
É do ramo. Faz polícia por paixão. Tem vocação. Muita vontade. É melhor. Detesta o que chama de “vagabundos”. Ninguém gosta. Mas também esta é a primeira vez que um delegado da polícia assume o comando da pasta.
Aqui um pequeno entrave, mas administrável: um delegado com poderes sobre oficiais da PM e por sua vez prestigiado pela sua classe, da qual é líder inconteste. Sabe e é aberto ao diálogo.
A nova estrutura pode produzir resultados, que é exatamente o que o governador Tarciso de Freitas quer, pois seus horizontes políticos são amplos. De uma tacada só, ele movimentou nada menos do que 53 coronéis da PM. Recentemente, fez a mesma coisa com trinta capitães.
O chefe do Executivo já havia declarado sua insatisfação com a situação da segurança pública. A carapuça adquiriu formatos bem ostensivos, até porque na Polícia Civil não se mexeu com ninguém.
CHEGOU A HORA
O que deve ser tratado com objetividade diante de uma necessidade que é uma das principais prioridades para a população, que se sente insegurança diante de tantas coisas ruins, selvagens até, que estão acontecendo.
Nesse quadro, é preciso, o que está política e ideologicamente difícil, que não se confunda a realidade das ruas com meras interpretações, como muitos ignorantes estão fazendo. Opinião sobre o assunto é uma coisa, os fatos são outros, atualmente escancarados.
Sem Maquiavel, é como se ficássemos divididos entre o que queremos e as forças poderosas do mal, entre eles o crime organizado que manda e desmanda. Mentira jamais foi sinônimo de verdade. Violência extremada nada tem a ver com Justiça.
Ficou necessário entender que se a força sem a lei é prática de estupidez e a lei sem força é simplesmente uma palavra inútil. Saber é preciso. Se não for assim, não é possível ensinar como fazer acontecer.
A propósito: sobre tais necessidades, insofismáveis, não cabem palpites. Estranhamente, porém, as forças policiais nunca são consultadas a respeito. É como se falar de hospitais sem consultar os médicos.
Pululam, entretanto, os curiosos, os amadores palpiteiros, os especialistas em nada, os que já tiveram a mão na massa e nada fizeram, a não ser expor ideias mirabolantes que jamais foram concretizadas.
No geral, a polícia não é compreendida, muitas vezes nem é bem vista, embora dela não se possa prescindir. Quando um policial tomba, não se derrama uma lágrima. Vítimas não importam, choram sozinhas suas dores.
Existem causas e fatores. Não sabe à polícia resolver tudo. Os ausentes do todo, embora digam que de tudo entendem, lavam as mãos manchadas na varanda de Pilatos, enquanto corre o sangue dos inocentes.
A visão macroscópica é indispensável. Não se confunda árvore com a floresta. Mais do que nunca, precisamos olhos de ver e ouvidor de ouvir.
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