Agenda liberal patina e Guedes perde apoio
Saída simultânea de dois secretários da equipe econômica sinaliza para frustração de expectativas nas privatizações e na reforma administrativa
Christina Lemos|Do R7
Não foi bem vista por aliados do Planalto e até setores do núcleo do governo a entrevista dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quando, em tom de alerta, o comandante da área econômica chegou a sinalizar com “impeachment” em caso de adoção do caminho do aumento de gastos. Para alguns, Guedes avançou o sinal e errou no tom, ao “pressionar publicamente” o presidente.
A questão divide o governo, apesar do momento crítico das finanças públicas. São identificados como defensores da “ala desenvolvimentista” do governo, o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, hoje desafeto de Guedes, e representantes do núcleo militar próximo ao presidente. A “debandada” na equipe econômica - termo adotado pelo próprio Guedes - indica fragilidade do projeto liberal diante do apelo desenvolvimentista.
O presidente Bolsonaro oscila entre as duas alas de auxiliares, e, na prática, não apoiou duas importantes agendas do projeto de Guedes, que não avançaram: a das privatizações e da reforma administrativa. Ambas parecem não ter convencido o presidente, que cada vez mais foca suas ações em 2022. As baixas simultâneas de Salim Mattar, Secretário Especial de Desestatização e Privatização, e de Paulo Uebel, Secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital dão a medida da desistência destes projetos.
O ambiente lança dúvidas sobre a própria permanência de Guedes no governo, o que gera incertezas no mercado. A agenda oficial desta quarta não prevê encontro do dirigente da área econômica com o presidente Bolsonaro.
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