CPI é relato histórico de tragédia em andamento
Sem revelações bombásticas e documentos comprometedores, comissão de inquérito pode se limitar a relato desgastante para o governo
Christina Lemos|Do R7
Os primeiros lances da CPI da Covid já deixam claro que, a seguir baseada em relatos históricos dos fatos, a investigação dos senadores estará limitada a repassar ponto a ponto fatos de conhecimento público, cujo poder de fogo já foi relativamente esgotado no passado, no momento em que o Brasil ainda vive lances dramáticos da pandemia, com uma média diária de mortos próxima aos 3 mil. Sem documentos que vinculem responsabilidades pela tragédia projetada com precisão por epidemiologistas ainda em fevereiro de 2020, a CPI terá seu impacto político restrito a expor os erros – graves – da gestão federal da pandemia.
O depoimento do ex-ministro Henrique Mandetta, além de detalhar as conhecidas discordâncias com o presidente Bolsonaro, trouxe uma única revelação, explorada à exaustão: a de que o Planalto tenha tentado incluir a Covid na bula da cloroquina. “Havia sobre a mesa um papel não-timbrado”, destacou – isto é, não há prova material. Mandetta também menciona, sem citar nomes, a influência de conselheiros do presidente, numa menção indireta aos filhos e outros auxiliares próximos, que teriam levado Bolsonaro a mudar de ideia, mesmo após convencido de medidas sugeridas pelo então ministro da Saúde.
O depoimento do ex-ministro Nelson Teich, potencialmente muito menos perigoso para o Planalto que o de Mandetta, também funcionará como uma revisão do passado recente, com a confirmação do notório negacionismo do presidente, salvo surpresa improvável.
Para completar o balanço da largada da CPI, a cúpula da comissão foi surpreendida com uma tacada certeira e elementar do general Pazuello, que, sem apresentar documentos que comprovem a contaminação de auxiliares próximos, adiou em duas semanas o depoimento que, feito agora, causaria desgaste importante para si próprio e para o governo.
A Comissão sinaliza que pretende continuar na linha de investir no desgaste político do Planalto, ao agendar depoimentos de personagens como Fábio Wajngarten e Ernesto Araújo – ambos proscritos, mas cuja participação renderá trocas de farpas e ataques, úteis à estratégia de “fazer sangrar” o governo.
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