Desmatamento é recorde às vésperas da saída de militares da Amazônia
Alta do mês de março compromete resultados positivos da Verde Brasil 2, com aceleração do desmatamento em mais de 12%. Militares deixam área no fim do mês. Ministro Salles segue na defesa de "extração legal"
Christina Lemos|Do R7
O ministério da Defesa prepara para esta tarde uma prestação de contas sobre os 11 meses de atuação no combate ao desmatamento da região amazônica - à qual este blog teve acesso em primeira mão -, mas os últimos números do INPE sobre desmatamento, divulgados nesta sexta-feira, impedem qualquer comemoração. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento de março foi o maior de toda a série histórica, iniciada em 2015, e alcançou 367 km2. (Veja gráfico ao final do post.)
A Operação Verde Brasil 2, que empregou 2,5 mil militares e agentes de órgãos de controle ambiental, estima ter reduzido em quase 20% os avisos de desmatamento na Amazônia Legal, com operações preventivas e repressivas. A ação termina formalmente em 30 de abril. Mesmo durante o período, os índices de floresta derrubada seguiram altos, com recordes importantes em 2020. A partir de maio deste ano, os militares tiveram sua ação garantida inclusive por GLO – decreto de Garantia da Lei e da Ordem, instrumento excepcional de segurança pública.
O quadro de aceleração do desmatamento coincide também com o início da temporada da seca, que tradicionalmente acentua o problema. O cenário preocupa ambientalistas, críticos à atuação do ministro Ricardo Salles. O chefe da pasta do Meio Ambiente trava neste momento uma queda de braço com a Polícia Federal do Pará, e assumiu a defesa do grupo de empresários alvo de apreensão recorde de madeira. Para a polícia, trata-se de uma “organização criminosa”. Salles deu prazo de uma semana para a liberação da madeira apreendida pela PF. O prazo expira na semana que vem.
No informe oficial do Ministério da Defesa, a ser distribuído neste sábado, o novo chefe da pasta, general Braga Neto, em tom de despedida da missão, declara que daqui para frente a atuação militar volta ao papel de “apoio logístico”. “O Ministério da Defesa, por meio das Forças Armadas, continuará prestando todo apoio logístico necessário aos órgãos ambientais e de segurança na proteção da maior floresta tropical do mundo”, afirma o ministro.
Questionado pelo blog, o Ministério da Defesa, por meio do Censipam, Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, encaminhou a explicação a seguir.
“Embora a alta nos dados de alertas de desmatamento observada para o mês de março represente um sinal de alerta, a comparação mais adequada envolve períodos maiores que tendem a sofrer menor interferência na estatística por questões climáticas. O dado acumulado desde agosto de 2020 demonstra uma redução superior a 19% nos oito meses quando comparados ao ciclo anterior. Essa redução representa uma área maior que 1000km2. O aumento observado em março é de 41km2, aproximadamente 12% superior a março de 2020. Além disso, historicamente os alertas registrados para mês de março compõem uma porção pouco significativa do total registrado para o ciclo. Em 2020 o mês de março representou menos de 4% da área de alertas total do período de 12 meses.”
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