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Ida à OMC é novo ato político e piora ambiente de negociação para o Brasil

Setor produtivo quer ação imediata do Brasil junto ao governo americano, mas país continua no fim da fila

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Segundo Lula, os pagamentos serão feitos em parcela única, a partir de 24 de julho
Governo brasileiro apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) a reclamação contra a adoção de retaliação comercial com finalidade de interferência na política interna de países. Ricardo Stuckert / PR - 10/07/2025

O governo brasileiro efetivou medida anunciada por Lula em 10 julho, em entrevista exclusiva ao Jornal da Record. O presidente apresentou à Organização Mundial do Comércio, a OMC, reclamação contra a adoção de retaliação comercial com finalidade de interferência na política interna de países e contra a adoção unilateral de tarifas para desestabilização de relações comerciais internacionais.

Naquela data, em conversa enérgica ao telefone com o chanceler Mauro Vieira, presenciada pelo blog, o presidente deu pessoalmente este comando, ainda sob o impacto do anúncio da taxação, feito na noite da véspera.


A iniciativa, contudo, que não tem efeito prático para reverter a ameaça dos Estados Unidos de taxar em 50% todos os produtos brasileiros, vai na contramão do apelo feito pelo setor produtivo de abrir negociações imediatas com Washington.

A Casa Branca anunciou nas últimas horas acordos comerciais com países como Japão, Indonésia e Filipinas, que aceitaram taxas sob seus produtos em níveis altos (em média 19%), e fizeram amplas concessões para evitar o pior. O Brasil não obteve resposta às suas gestões comerciais e diplomáticas e permanece no fim da fila das prioridades americanas.


A OMC, com sede na Suíça, é o organismo da ONU para a arbitragem de contendas comerciais entre nações. Mas perdeu força e efetividade uma vez que os Estados Unidos sob Trump não se vêem obrigados a atender decisões da organização e nem mesmo as da própria ONU. A manifestação do governo brasileiro, embora reafirme as regras tradicionais do multilateralismo e tenha obtido o apoio de cerca de 40 países, deve piorar o ambiente político para potenciais negociações.

O presidente Lula e integrantes do governo em geral passaram a evitar o uso do termo “reciprocidade”, como resposta à ameaça de taxação, exaustivamente adotado nos dias subsequentes ao anúncio do tarifaço. Planalto, Itamaraty e área econômica, no entanto, já trabalham com a possibilidade de Trump manter congeladas as conversas até 1 de agosto, prazo para início da vigência da tarifa de 50% sobre itens vindos do Brasil.


Empresários fizeram chegar ao vice-presidente Geraldo Alckmin que a hipótese de devolver aos Estados Unidos o mesmo tratamento, taxando em 50% produtos americanos importados, além de provocar uma esperada réplica da parte de Trump, como ocorreu com a China em abril, teria efeito desastroso sobre a cadeia produtiva de vários segmentos. Inclusive na agricultura, com impacto ainda incalculável a médio prazo para a produção interna.

No entorno de Lula começa a ficar claro que o episódio é visto como trunfo inesperado, com o poder projetar a popularidade do presidente a partir do discurso de defesa da soberania. Em pouco tempo pode ser fulminado, com os efeitos em cascata da taxação sobre a economia, até alcançar o bolso e o emprego do cidadão comum. As projeções, em caso de retaliação da parte do Brasil, são de perdas de milhões de postos de trabalho de forma disseminada em vários setores, com a recusa aos produtos brasileiros.


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