Transtornos podem se estender até quinta, após bloqueios de estradas
Ordem nos mais de 380 grupos de mensagem de caminhoneiros é resistir. Demora na resposta imediata da polícia agravou quadro
Christina Lemos|Do R7
A completa regularização da circulação de pessoas e mercadorias pelas estradas do país em mais de 200 pontos de bloqueio por caminhões deve ocorrer apenas a partir desta quinta-feira (3) — é o que mostra a experiência brasileira desde as primeiras paralisações do tipo, há duas décadas. A velocidade de mobilização da categoria e a demora na resposta das forças de segurança, desta vez, agravaram o quadro em apenas 32 horas após o resultado das urnas, gerando o acúmulo nas pistas, com reflexos principalmente nas grandes capitais.
A mobilização dos caminhoneiros se dá tradicionalmente por meio de grupos de troca de mensagens por meio do celular — atualmente, são mais de 380 desse tipo. A rede permite a comunicação instantânea entre centenas de caminhoneiros autônomos, simultaneamente, em vários estados do país. A ordem nesses grupos, na manhã desta terça, era resistir e retardar o desbloqueio. O blog teve acesso a prints dessa interação, sob o compromisso de preservar a identidade dos interlocutores.
Desta vez, líderes de organizações de caminhoneiros constituídas formalmente negaram participação e até repudiaram o protesto, que no entanto ocorre nacionalmente, sem qualquer reivindicação relacionada às causas trabalhistas ou econômicas da categoria. A motivação da paralisação é declarada como recusa ao resultado das urnas, que deram a vitória eleitoral ao ex-presidente Lula da Silva.
No Estado de Santa Catarina, um dos mais afetados por bloqueios, um vídeo documenta a participação do dono de uma das maiores transportadoras regionais, com uma frota de mais de 600 caminhões. Emílio Dalçóquio Neto, horas depois do resultado eleitoral, defendeu a mobilização nacional em discurso inflamado à base de caminhoneiros. Horas depois, rodovias do estado, onde Bolsonaro obteve a sua maior votação, já estavam interditadas.
Há, no entanto, caminhoneiros retidos das rodovias que não concordam com a mobilização mas temem represálias. O blog recebeu depoimento em áudio do caminhoneiro Fabiano Ribeiro Machado, que teve o veículo bloqueado na BR-101, próximo ao trevo de Içara, em Santa Catarina. “Estou parado em cima da rodovia contra a minha vontade! Eu e vários aqui, estamos sendo usados!”, declarou. “Isso é uma farsa!”, insistiu, em tom indignado. “Liberem uma pista, e o movimento acaba", completou.
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