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Banco Central vai justificar em carta estouro da meta de inflação pela segunda vez neste ano

A inflação oficial deve fechar o sexto mês consecutivo acima do teto da meta estipulada pelo próprio governo, de 4,5%

Conta em Dia|Ana VinhasOpens in new window

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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO - 04.06.2025

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, deverá justificar o estouro da meta da inflação em carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela segunda vez neste ano.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de junho, que mede a inflação oficial do país, será divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira (10) e deverá ficar pelo sexto mês seguido acima do teto da meta, que é de 4,5%.


O valor da meta estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, podendo variar entre 1,5% e 4,5%.

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Galípolo, que assumiu o comando do BC no começo deste ano, já enviou uma carta em janeiro para justificar o estouro da meta de 2024, que fechou em 4,83%.


No entanto, a partir deste ano, mudou o sistema de intervalo. Antes, era anual, chamado ano-calendário. Agora passou a comparar a inflação acumulada em 12 meses, apurada mês a mês, chamado “meta-contínua”.

Com isso, toda vez que o índice completa seis meses consecutivos acima da meta, o BC deve justificar em carta.


“Na prática, isso significa que o Banco Central terá de emitir uma nota no seu Relatório de Política Monetária e uma carta aberta ao Ministério da Fazenda detalhando por que a inflação fugiu do intervalo e o que será feito para corrigir o rumo”, afirma Fabricio Tonegutti, especialista em direito tributário e diretor da Mix Fiscal.

Para controlar a inflação, o BC tem aumentado a taxa básica de juros, a Selic, desde setembro de 2024. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em junho, a Selic atingiu 15%.


“A mensagem da autoridade monetária tem sido clara: enquanto a inflação não mostrar trajetória firme de convergência para 3%, não há espaço para cortes duradouros de juros. Isso significa que planos de estímulo ao crescimento terão de conviver com uma política monetária restritiva no curto prazo”, acrescenta Tonegutti.

Previsão

Para Gustavo Sung, economista chefe da Sung Research, a expectativa é de uma alta mensal de 0,26% para o IPCA de junho, com o acumulado de 12 meses atingindo o patamar de 5,37%.

Já a Warren Investimento projeta alta de 0,17% no mês, equivalente a 5,24% em 12 meses. A expectativa dos analistas da Warren é que a inflação feche 2025 5% e só volte para o teto da meta em 2026.

O IPCA-15, que é a prévia da inflação, desacelerou em junho, em 0,26%. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,06% e, em 12 meses, de 5,27%.

Prévia da inflação oficial Luce Costa/Arte R7

“Nosso olhar estará sobre alguns itens como, por exemplo, o grupo habitação, por conta da mudança da bandeira tarifária que deve pesar no IPCA de junho, mas, em contrapartida, nós teremos efeitos do reajuste em 5,6% para baixo no preço da gasolina realizado no início do mês pela Petrobras”, afirma Sung.

Para ele, haverá uma melhora na margem dos índices de inflação, como visto no IPCA-15.

Ele explica que o preço dos alimentos, que impactou de forma relevante, principalmente no início de ano, a inflação, e a atividade econômica, puxada pelo mercado de trabalho resiliente, com massa salarial em recordes históricos, taxa de desemprego também uma das menores da série, contribuem para termos ainda uma economia resiliente, que impacta diretamente nos preços de serviços, muito correlacionados, por exemplo, com os salários.

“Como nós temos ainda um hiato do produto positivo, uma economia ainda resiliente, isso mantém a inflação acima da meta”, avalia Sung.

O câmbio no final do ano para esse início de ano também foi um fator importante, mas agora passou a ter um menor repasse cambial para custos de produto dos produtores de bens industriais e bens agrícolas.

“Acho que esse é o cenário geral que nós estamos observando na inflação, e que de fato o Galípolo vai ter que escrever uma nova carta para o ministro da Fazenda.”

(Gustavo Sung)

Para Fabricio Tonegutti, o estouro da meta pelo sexto mês consecutivo escancara os desafios macroeconômicos atuais do Brasil.

“O momento pede coordenação – uma sintonia fina entre o Banco Central, mantendo o rigor técnico, e o governo, ajustando sua política fiscal, para que ambos caminhem na direção de entregar ao país uma inflação baixa e estável, dentro da meta, nos próximos anos", afirma o especialista em direito tributário.

O que é meta-contínua

Todo mês, a inflação acumulada em doze meses é comparada com a meta e seu intervalo de tolerância. Assim, a verificação não fica mais restrita ao mês de dezembro de cada ano.

“A utilização desse período evita a caracterização de descumprimento em situações de variações temporárias na inflação. Esse é o caso, por exemplo, de um choque em preços de alimentos que faça com que a inflação fique fora do intervalo de tolerância por apenas alguns meses”, afirma o BC, em nota .

No Brasil, a meta para a inflação e o índice de preços utilizado são definidos pelo Conselho Monetário Nacional e cabe ao Banco Central adotar as medidas necessárias para alcançá-la. O índice de preços defi​nido é o IPCA, calculado pelo IBGE.

O CMN também define um intervalo de tolerância ao redor da meta de inflação, que funciona como uma referência para a caracterização de seu cumprimento ou não.

A meta é considerada descumprida se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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