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Acorda, brasileiro!

A Ford não está indo embora porque é má ou porque não gosta do Brasil: quer é entrar no novo jogo para lucrar mais e mais

Eduardo Costa|Eduardo Costa

Ford anunciou o fim da produção no Brasil
Ford anunciou o fim da produção no Brasil Ford anunciou o fim da produção no Brasil

Quando o Uber chegou a Belo Horizonte eu disse: “Veio para ficar”. Alguns taxistas ficaram irritadíssimos comigo, um chegou a me ofender na rua Alagoas. O presidente do sindicato deles na época, em vez de conversar – quem sabe ouvir minha sugestão de criar aplicativo semelhante e imediatamente – me cancelou de suas relações. Quando veio a polêmica de cobradores de ônibus e disse que eram tempos modernos, ouvi reclamações de que estava contra o trabalhador mais humilde. Agora, que a Ford está deixando o Brasil vejo gente ilustre, supostamente bem informada, acusar o presidente da República, buscar outros culpados, sem enxergar a simples, nua e crua realidade: o mundo está mudando e a Ford sabe disso.

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Primeiro, é preciso lembrar que a montadora é uma multinacional. Parte do que chamam de mercado, ou seja, o sistema que rege as relações econômicas no tal mundo globalizado. Dependendo da ideologia e do que pensam as pessoas, o poder de uma empresa como a Ford pode ter duas finalidades: investir em países em desenvolvimento, em busca de grande público consumidor, ajudando na oferta de empregos e arrecadação de impostos, ou, simplesmente, é uma espécie de capital vagabundo, que vai aonde o lucro está maior, suga todos os benefícios fiscais e incentivos possíveis e, no dia que a atividade estiver ameaçada, simplesmente vai embora.

No caso da Ford, ao abandonar o Brasil depois de um século, é preciso lembrar que a indústria automobilística se prepara para um novo tempo, quando, provavelmente, não mais produzirá o volume de veículos que já experimentou. Mais e mais pessoas estão descobrindo que ir de aplicativo é mais em conta, evita investimento alto no carro, gasolina, óleo, estacionamento, seguro, imposto. Além disso, para sobreviver é preciso mudar a linha de montagem: estão chegando os carros elétricos, mais seguros, dentro das normas de preservação ambiental e mais e mais automatizados.

Dias desses escutei que autoridades nacionais de trânsito constatam um número cada vez menor de jovens interessados em obter a carteira de motorista e também redução na renovação do documento. É um novo tempo. Ir de aplicativo é mais em conta. Só quem não frequenta o Mercado Central não sabe o quanto seu estacionamento ficou mais vazio. Tem ainda a turma que está alugando o carro e se livrando dos aborrecimentos inerentes à manutenção.Então, a Ford não está indo embora porque é má, porque não gosta do Brasil ou do Bolsonaro: quer é entrar no novo jogo para lucrar mais e mais. Como é no mundo que chamam de liberal.

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