Chamas da insensatez
De acordo com o Corpo de Bombeiros, MG já registrou o maior número de ocorrências de focos de incêndio da última década
Eduardo Costa|Eduardo Costa
Não importa qual o seu destino. Evite viajar até que papai do céu nos mande uma chuva. Não, não é apenas porque está difícil respirar, os bancos dos carros literalmente pegam fogo ou pelo perigo de chamas invadirem a estrada e provocarem um acidente. Embora considere gravíssimo, neste momento nem priorizo a dor pelos prejuízos ao solo. Falo, sobretudo, para poupar seus olhos e seu coração, pois, o que se vê é destruição, mortandade, omissão, falta de cuidado, maldade, insensatez humana.
É impressionante o que estamos fazendo com o meio ambiente, com o nosso ambiente. Labaredas por todo lado, ar irrespirável, fumaça tóxica e comprometimento definitivo de fontes de vida. As nascentes estão secando, as espécies da nossa flora dizimadas – com destaque especial para as árvores que, com seus troncos em cinzas, parecem feridos de guerra – e o que me entristece mais: o massacre da fauna, a morte dos animais. Não me refiro aos que são encurralados pelo fogo e acabam carbonizadas longe dos holofotes... Infelizmente, o que os olhos não vêm o coração não sente. Mas, aqueles que conseguem correr até algum porto seguro, com pés em brasa, morrendo de sede, arrebentam nossas estruturas emocionais.
E os bichinhos que fogem desesperados, chegam às rodovias sem saber que lá estão e acabam atropelados e mortos? Fui com a família a Tiradentes no fim de semana e toda a alegria do Festival Gastronômico ficou menor com o ir e vir. Saguis, cobras, gambás e outros animais esmagados no meio da pista e motoristas sem tempo para ver porque estão atentos às chamas que podem se aproximar a qualquer momento.
Sei que acontece todo ano; que é fruto da combinação de tempo seco e ventos fortes. Sei que a maioria absoluta acontece por conta de ação humana, maldade melhor dizendo, quando o cidadão simplesmente põe fogo para prejudicar alguém ou espera conseguir com o incêndio liberar um terreno para fins indecentes. Sei de todas as agravantes.
Só queria saber por que a gente não faz trabalho preventivo de verdade? Nos meses que antecedem esse período chamar a atenção das pessoas, alertar para as denúncias e, principalmente, tomar algumas atitudes que me parecem simples. Uma delas é fazer aceiro, isso mesmo, retirar parte da vegetação para evitar a continuidade, a propagação das chamas... Não vejo a Copasa fazendo isso na reserva do Mutuca nem a Prefeitura na Serra do Curral. Estou pedindo muito?
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