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Finitude

Apresentador de TV Stanley Gusman, de 49 anos, morreu por complicações causadas pela covid-19, na noite deste domingo (10)

Eduardo Costa|Eduardo Costa

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Stanley estava internado há sete dias
Stanley estava internado há sete dias

Na madrugada dessa segunda-feira (11) mudei meu trajeto para passar pela Avenida Assis Chateaubriand e fazer uma oração de despedida do companheiro Stanley Gusman. Foi inevitável reduzir e olhar para a portaria do prédio que abrigou o Palácio do Rádio, fez história por décadas, e recebeu os maiores artistas do país e do mundo. Pois, pela primeira vez, vi um pedaço de madeira no lugar da outrora vistosa escadaria e uma placa de construtora deixando claro que, brevemente, teremos ali mais espigões.

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Foi um turbilhão de memórias. O colega apresentador recém falecido tomara café meses atrás, ali na esquina, na padaria, quando falava de dificuldades e sonhos..., Mas, agora, a imagem dele se misturava à de Felipe Drummond, Glória Lopes, Victor Couri, Vicente Gomes, Fábio Vieira e outros, tantos outros, que foram vitais na minha formação profissional e também estão no andar de cima. Que saudade!


Vida que segue. Bora trabalhar. Sem, contudo, deixar de pensar no vírus e na finitude.

A propósito, uma das lições que a covid-19 nos traz é exatamente a de que somos mortais, frágeis, que a vida é um sopro e só uma força maior é capaz de definir até quando vamos respirar. A escritora Lya Luft lembrou que estamos numa fila, sem ver o que há no final ou voltar atrás. Agora, vem a pandemia e fura a fila para muitos de nós. Pior, sabendo que a nossa consciência humana de finitude exige o ritual da despedida, do enterro, de um último evento público, corona faz questão de impedir, exige que um saco plástico preto seja o fim de tudo. O mais depressa possível.


E é uma roleta russa. Gente com 80 anos escapa, gente de 49, como Stanley não suporta; mesmo quem se safa sabe que também é montanha russa, com sintomas os mais variados e um corpo repentinamente mutilado. Agora, sabe-se que sintomas como a dificuldade de respirar – como no meu caso – podem ficar por seis meses.

Deus do céu.

Então, quando me lembro que Pan Air, Construtora Mendes Júnior, Kodac, Xerox, Blockbuster acabaram e o Palácio do Rádio está sendo demolido, penso no quanto devemos baixar a bola e preparar a despedida, quando não poderemos levar gavetas ou carteiras cheias.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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