O medo está no ar
Uma aeronave de pequeno porte caiu no bairro Caiçara, em Belo Horizonte, e matou pelo menos três pessoas; outros três ficaram feridos no acidente
Eduardo Costa|Eduardo Costa
Um novo acidente, lamentável, e vem de novo a conversa sobre retirar o aeroporto do bairro Carlos Prates para pouparmos vidas. Faz sentido. Quem mora nas imediações convive com o medo permanente e até arrepios durante cada decolagem ou aterrisagem. Com o devido respeito aos moradores, devo dizer, mais uma vez, que não acredito em interdição do campo de voo ou mesmo retirada do serviço de aprendizagem.
Vejamos: além do campo de Marte, onde houve acidente grave meses atrás, São Paulo tem Congonhas, segundo mais movimentado do país. O Rio tem o Santos Dumont; existem outros, no meio das moradias, em cidades como Chicago, Nova Iorque, Las Vegas e San Diego. Na verdade, o que se constata em todas as metrópoles é que os aeroportos destinados a voos internacionais estão longe, porque foram construídos mais recentemente, enquanto os outros, feitos em lugares remotos (à sua época) e que tiveram suas imediações adensadas, normalmente são reservados para aeronaves menores, que fazem menos barulho e transportes rápidos.
Essa realidade é tão bem sucedida que a cidade de Londres foi no caminho inverso: em 1987 fez um campo de pouso às margens do rio Tâmisa para facilitar o deslocamento ao centro da capital do Reino Unido. E olha que ele recebeu, segundo o blog Todos a Bordo, em 2017, 4,5 milhões de passageiros que voaram para mais de 40 destinos. O London City Airport foi eleito ano passado pela Syktrax, considerado o "Oscar" da aviação, o melhor aeroporto do mundo na categoria de até 5 milhões de passageiros...
Então, não se deve esperar que a Prefeitura, a Agência Nacional de Aviação ou qualquer governo vá simplesmente acabar com voos no Carlos Prates. Acredito que seja difícil também impedir aulas. E, a menos que esteja errado, tanto o aparelho de hoje como o que caiu recentemente não estavam em atividade de ensino – o que será justificativa dos que não querem sofrer com os desgastes que mudanças exigem.
O que pode e deve acontecer é conversa. As autoridades têm obrigação de se reunir com os moradores, os comerciantes, enfim a comunidade do Caiçara e adjacências. Ouvir críticas, sugestões, trocar ideias e, de repente, descobrir saídas. Mas, convenhamos, isto também é necessário para tratar do tráfego de veículos na Pedro II e na Catalão... Sem falar no Anel Rodoviário, este sim um palco de sangue que representa um dos nossos maiores exemplos de incompetência e omissão na gestão pública.
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