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Pode estar certo... Mas, tá esquisito!

A grande vantagem de nós jornalistas – e receita para sucesso ou fracasso de qualquer profissional da área – é que não devemos concluir, mas, perguntar

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Tragédia matou centenas de pessoas
Tragédia matou centenas de pessoas

Vivo a vigiar-me para não dar razão aos que dizem “jornalista é o cara que fala sobre tudo sem saber de nada”. De fato, como tratamos de assuntos de toda natureza, somos seres da superficialidade: jamais saberemos detalhes da construção e do monitoramento de barragem de rejeitos de minério ou o que deve garantir a segurança de jovens atletas em um alojamento de centro de treinamento de um time de futebol profissional.

Leia também: Canalhices que matam


A Suíça e a Previdência

Mas, a grande vantagem nossa – e receita para sucesso ou fracasso de qualquer profissional da área – é que não devemos concluir, mas, perguntar. Qualquer curso de jornalismo começa com a orientação de professores do caminho a seguir, para a construção do “lead” – que, no caso do impresso, é o primeiro parágrafo e no qual você deve responder a seis perguntas para que o leitor tenha ideia geral do assunto e, se interessar, leia o conteúdo, em detalhes. Para profissionais de rádio e TV o bom professor ensina que ele deve caprichar porque este não é o começo, mas, a essência da informação. Assim é que o repórter ou redator tem de responder O que? Quem? Quando? Onde? Como? Por que?


Outra coisa, básica, que aprendi e repasso para os mais novos, especialmente os que fazem estágio nas empresas que trabalho: todo fato tem, no mínimo, duas versões. Então, não devemos publicar nada sem, antes, procurar o outro lado, a pessoa ou empresa acusada, e oferecer a oportunidade de resposta. Não é favor; é obrigação de quem trabalha com informação. Cumprida esta etapa de ouvir o outro lado e responder as perguntas básicas, a gente pode ir para casa, se não tranquilo pelo menos de consciência leve.

O difícil é administrar esses caminhos do jornalismo no ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2019. A turma do Lula continua pedindo a liberdade dele, como se fosse vítima de uma grande injustiça; os torcedores de Bolsonaro estão convencidos de que as denúncias contra Flávio, um dos filhos, são coisas menores, pequenas diante da oportunidade de um Brasil melhor. O Gilmar Mendes, figura nefasta do mundo jurídico, por suas decisões que contrapõem o bom senso e sua indisfarçável arrogância, acha um absurdo que a Receita Federal o investigue, como se não fosse legítimo ao Leão checar a vida de todo cidadão brasileiro.


Poderia enumerar centenas de outras bizarrices, mas, ficarei em duas, as mais escandalosas: a Vale, que já matou cinco em Nova Lima, 19 em Mariana e agora centenas em Brumadinho é quem dá assistência aos familiares, providencia transporte para os alunos; contrata psicólogo para os produtores rurais e enterra as vítimas – as que os bombeiros conseguem resgatar das profundezas da lama. Mas, a Vale não é ré?

Ai, vem a tragédia do Ninho do Urubu. O Flamengo, maior clube de futebol profissional do país, que está gastando 100 milhões de reais com reforços, coloca os meninos dentro de containers, sem aprovação da Prefeitura, e, quando dez deles são incinerados, desconversa. Ainda vejo gente publicando #ForçaFlamengo... Mas, não seria Forca? 


E a Vale, não deveria ser proibida de se aproximar de Brumadinho, enquanto seus diretores e gerentes ficariam à espera das multas e prisões?

Perguntar não ofende. E este é meu ofício.

#pronto, falei!

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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