No trânsito, rodovia ou track day: 2 mil km´s com a polivalente Yamaha MT-07
Alternativa de mobilidade urbana MT-07 surpreende
Moto Segurança e Trânsito|André Garcia, do R7
Em 2016 quando avaliei o modelo, sinceramente fiquei com a MT-07 entalada na garganta, porque o pouco que rodei (um tanque de gasolina) para meu gosto, percebi ser uma baita moto, mas, só afirmo aquilo que constato.
Duas palavras que casam com a MT-07: polivalência e jovialidade.
Polivalência porque você pode usá-la no dia a dia, viajar e curtir um track day. Fiz os três!
Dos exatos 2.111,6 km percorridos, 70% foi no uso urbano e sua utilização no trânsito, especialmente quando se trata de um pesado tráfego como o paulistano, a segunda palavra que me vem a mente é a de jovialidade que significa: qualidade jovial, alegria, prazenteiro (manifesta grande satisfação), bom humor.
Impossível você ficar irritado no trânsito em cima de uma MT-07, salvo quando o motorista te fecha porque está no celular, mas...ela é tão na mão, que basta estar atento. Pena que a buzina está no lugar errado. Espero que a Yamaha volte o punho ao padrão.
A facilidade que o piloto sente na tocada com a MT-07 com ou sem garupa começa pelo chassi projetado em viga única de aço de alta resistência que usa o motor como estrutura do chassi, aumentando a rigidez, melhorando o centro de gravidade e reduzindo a massa, colaborando com leveza e agilidade.
Com um chassi leve, a distância entre eixos de apenas 1.400mm, com rodas de alumínio com aros de 10 pontas, a suspensão traseira é do tipo Monocross com link progressivo com 130mm de curso, o que, também colabora com a leveza da motocicleta, dispensando o uso de outras peças. O amortecedor é posicionado em alinhamento quase horizontal. Essa posição única, também, contribuindo com a centralização de massa e uma estrutura mais estreita. O sistema conta com nove posições de ajustes.
A suspensão dianteira é do tipo garfo telescópico, com as mesas em alumínio, 130mm de curso e 35mm de diâmetro interno. E aqui, também foi pensando em agregar leveza ao conjunto. Apesar da suspensão não oferecer regulagem, na minha opinião, para o uso comum e civilizado é mais do que suficiente, copia bem o nosso péssimo asfalto, ficando bem no meio termo entre o conforto e a necessária esportividade em uma tocada mais nervosa em um trecho de serra ou para brincar em um autódromo, por exemplo.
Até aqui, percebeu a preocupação que houve com peso no projeto MT-07? Resultado: 182 Kg na versão com ABS. Com isso, é a naked mais leve da categoria e do mercado.
Não tem tempo ruim com a MT-07 no trânsito, ela passa por onde as pequenas utilitárias passarem, evidentemente com a vantagem de ter um motor sempre disposto de 2 cilindros paralelos CP2 (Crossplane) de 689cc, DOHC , 4 tempos, 8 válvulas, refrigerado a líquido que gera 74,8 cv à 9000 RPM de potência e 6,9 Kgfm de torque à 6500 RPM, com uma ciclística, como já disse acima, que sobra com ou sem garupa.
Difícil contextualizar esse motor. É um dos motores bicilindricos que mais me conquistou nos últimos tempos. O som mexe com os sentidos, mesmo de quem é fã dos 4 cilindros. Ao ligar a máquina vem um som rouco e pouco grave emanado do belo e curto escapamento. O conceito utilizado pela Yamaha é denominado Crossplane, o mesmo utilizado na M1 da MotoGP que já se sagrou campeão do mundo com Valentino Rossi e Jorge Lorenzo(hoje na Ducati). O virabrequim conta com um ângulo de 270º o que cria um intervalo irregular nas explosões que movem os pistões, promovendo um movimento continuo em seus respectivos ciclos. Isso cria um som característico que estimula o piloto. O movimento e inércia interna do motor entrega torque em qualquer marcha engatada. Isso permite você rodar, por exemplo na cidade em 4ª marcha a 50 km/h, sem vibração, sem engasgo, sem a moto pedindo redução...e basta girar o punho direito para o giro subir rápido. Quer explosão? mais rapidez? Desce duas e sinta a patada.
E conforme o giro vai subindo, é difícil segurar o juízo, o som fica alucinante e me remete as apresentações de Taiko, quando meu filho primogênito estudava em escola japonesa.
Nota: Fica a critério do piloto subir o giro rápido ou não. Ela pode te tratar como uma Queixa ou como um Samurai.
Por falar em marcha engatada, o câmbio é preciso como um relógio suíço e a embreagem macia e nem leve e nem pesada, mas perfeita no conjunto. Podia a Yamaha entregar com o manete com possibilidade de ajuste como no manete direito do freio.
Freios com dois discos flutuantes de 282mm e 4 pistões hidráulicos em cada pinça na roda dianteira e um disco de 245mm na traseira, são suficientes, mas na minha opinião faltou uma mordida inicial, entenda, potência na alicatada, depois a frenagem flui bem progressivo. O modelo contava com o importante e insubstituível sistema ABS.
Com o banco a altura de 805mm, o motociclista com 1,65 de altura, como este que vos escreve, coloca facilmente os dois pés no chão. Ela parece alta, mas é bem estreita, o banco oferece bom conforto, pilotei por horas e a poupança não reclamou. O garupa ou os garupas que comigo andaram, também não teceram comentários negativos, muito pelo contrário. O professor Renato da Universidade Federal de Rondônia que foi meu passageiro por uma semana inteira para o curso de instrutor da Yamaha (leia aqui), ficou surpreso com a posição e a boa densidade do banco. E foi uma semana que enfrentamos muito trânsito e chuva.
Apesar do desenho diferente do tanque, o piloto fica vestido na moto, encaixando bem as pernas, ao menos foi assim que me senti. Falando do tanque que tem capacidade para 14 litros, a Yamaha o projetou pensando na possibilidade, caso do seu cliente sofra uma queda. Ao invés de trocar todo o tanque, é trocado só o lado danificado. Bela sacada e que diminui bastante o custo de reparo que resulta em um seguro mais barato quando comparado a concorrência.
Com 14 litros é possível rodar 300 km ou pouco mais, dependendo da mão direita. Fiz médias que variaram de 17 km/l a 24,5 km/l. É possível melhorar. Difícil é segurar o tesão que essa moto propicia.
Por que dependendo da mão direita?
A MT-07 é realmente uma moto com uma personalidade que permite ser adotada por um motociclista inexperiente que saiu da classe das 250/300cc ou por motociclista experiente que a leve onde sua técnica puder, dado a agradável entrega de torque e potência do motor. Sem qualquer eletrônica, seu coração é gerenciável e amigável, por isso que somado a tudo que já foi falado de sua ciclística tem agradado a “gregos e troianos”.
O bom de ter uma MT-07 na garagem, é a possibilidade de realizar “Mototerapia”, em um sábado por volta das 12 horas, eis que você está em casa com seus 3 filhos, esposa e cachorro e prestes a matar alguém e ser notícia no “Cidade Alerta”. Peguei a chave, desci a garagem, me equipei e fui dar um voltinha de 353km.
Nota: Em trecho de serra ela obedece, anda como em trilhos, torção é minima, estabiliza fácil e rápido na curva e as mudanças de trajetoria acontecem quase que naturalmente, como se o piloto e a MT-07 fossem uma só máquina.
E constatar que essa moto na rodovia vai bem sim senhor. Para viajar basta uma mochila, se for com garupa, talvez seja necessário o acessório para prender uma mala no tanque, além da mochila. Evidentemente, que falo, do que chamo de uma viagem despojada, sem levar muita coisa, só o básico.
A convite da Yamaha fui participar do último curso do ano de 2017 do Motors Company, ministrado por Leandro Mello.
No travado circuito do ECPA em Piracicaba, a MT-07 dá um banho nas motos de 4 cilindros e não estou exagerando: leve, entre eixos curto, motor esperto...ingredientes que propicia aceleração absurda, mudança de trajetória ágil e rápida. Entra e sai das curvas com boa estabilidade...enfim...qualquer 4 canecos pena para ultrapassar uma MT-07, mesmo o piloto sendo meia boca como este que vos escreve. Se o cabra for bom, montado em uma MT-07, ninguém passa.
MT-07 em Track Day é a mais pura diversão. E Yamaha me perdoa novamente, perdi desta vez, não um, mas, os dois pinos das pedaleiras, um de cada lado.
Prova de que a MT-07 tem DNA racing na sua polivalência, foi a conquista do 2º lugar (por um pêlo, não foi 1º lugar) em 2017 pelo amigo e piloto brasileiro Rafael Paschoalin (conheça o piloto e o projeto clicando aqui) em uma das corridas mais alucinantes do planeta: Pikes Peak International Hill Climb, também conhecida como corrida da montanha.
Por fim, quem me conhece sabe o quanto sou fã dos 4 canecos, mas quando você coloca na ponta do lápis, manutenção mais barato por conta de 2 cilindros, mais economia de combustível, entrega de performance superior em baixa e média rotação dado a utilização (na maior parte do tempo de uso) que você vai fazer nos trechos urbano e rodoviário, facilidade de condução, somado a menos peso e ciclística impecável, você consegue equacionar o racional com o emocional, chega fácil a conclusão do que pode comprar e manter. Gosto muito de tocar no assunto “manter”, porque nada pior para o mercado que um consumidor que compra, não consegue “manter” e fomenta o mercado paralelo de peças, dando um tiro no próprio pé e de todos que tem o produto. O assunto foi provocado aqui. A manutenção em concessionária hoje, está muito mais acessível e todos os fabricantes estão investindo nisso para fidelizar o cliente e com a Yamaha não tem sido diferente. Não está satisfeito com determinado concessionário, reclame no SAC, faça valer seu direito de consumidor.
Depois de tudo que você leu, não acredite 100%. Faça um test drive, veja os comentários dos proprietários nas redes sociais e faça sua escolha com convicção.
Respondendo a pergunta que todos me fazem: se teria uma? com absoluta certeza!
Fotos da Lara e Bira, acesse: Sport Speed
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