Polêmica e Insegurança na Motovelocidade Brasileira
Contrato com SPTuris é descumprido e entidade máxima do motociclismo - FIM é envolvida em polêmica
Moto Segurança e Trânsito|André Garcia, do R7
O mercado brasileiro apesar de todas as dificuldades por culpa das desastrosas ações políticas para economia e devido a corrupção, tem mostrado força e merece respeito.
O brasileiro está ávido por duas rodas, seja para locomoção, seja para lazer, entenda-se mototurismo, seja para motovelocidade.
No entanto, apesar do Brasil contar com vários autódromos, nenhum deles está preparado para motovelocidade.
Vale ressaltar que o fato de um autódromo não estar adequado para motovelocidade, em nada obsta a realização do esporte a motor, vide Mazda Raceway Laguna Seca construído em 1957, até bem pouco tempo atrás recebia provas da categoria rainha MOTOGP, todavia, dentro de critérios rígidos de segurança da FIM - Federação Internacional de Motociclismo. O autódromo ainda utilizado para cursos de escolas de motovelocidade e de campeonato de motovelocidade, repito: dentro de critérios rígidos de segurança da FIM.
Infelizmente no Brasil sem fazer qualquer juízo de valor, vamos aos fatos: é verdade que tem ocorrido acidentes graves no campeonato denominado SuperBike ou SBK e pior com óbito.
Também é fato, de que nenhuma autoridade Policial ou do Ministério Público, até onde se sabe, tem investigado civil e criminalmente os episódios. O fato de um piloto assinar um termo de responsabilidade, onde exime a organização de tudo, não quer dizer que a organização nada tenha a fazer.
Em um país sério, tal termo de responsabilidade apesar de assinado, só exime o organizador desde que ele tenha provas de que fez tudo que era necessário para evitar o resultado: lesão corporal grave e ou morte.
A última ou penúltima polêmica envolvendo segurança, se deu devido acidente em Interlagos na curva do Café, sempre ela que já vitimou muita gente experiente e principalmente sem experiência.
Na imagem do vídeo um piloto toca o outro e ambos vão para a tal barreira que não poderia invadir a pista.
A polêmica começou porque uns achavam o “Airfence” salvador e outros uma “m@#$ por ter invadido a pista e não ter aliviado muito o resultado para um dos pilotos.
Léo Pereira que trabalha para Airfence e a representa no Brasil, muito experiente com dezenas de eventos de motovelocidade pela FIM, soltou uma nota informando que tal dispositivo não era Airfence.
Para responder a nota, o organizador do SBK - Bruno Corano fez um vídeo onde fez uma série de esclarecimentos que, sinceramente, me deixou estarrecido.
- aos 1:51 minutos, afirma ser o campeonato homologado pela FIM;
- aos 3 minutos: “ninguém usa” se referido as barreiras Airfence. Estranho, pois já estive em alguns eventos com tais barreiras, como do MotorsCo, PKM Pneus que lembrei de bate pronto;
- aos 3:35 minutos: volta afirma vínculo com a FIM e com Franck Vayssié;
- aos 5 minutos: “nossas barreiras foram construídas dentro dos padrões técnicos da FIM”.
Logo que esse vídeo de Bruno Corano apareceu nas redes sociais, o Presidente da CBM - Sr. Firmo Alves, fez um vídeo desmentindo a informação de que o SBK fosse homologado.
Leia a carta clicando aqui. E leia a diferença de campeonatos organizados pela CBM e independentes, clicando aqui
Diante de tantas informações estranhas, já que tinha certeza que o campeonato brasileiro não era, como não é homologado pela FIM, entrei em contato com Franck Vayssié, Diretor de Segurança da FIM que respondeu duas perguntas:
1- Ele disse que o seu campeonato é afiliado e homologado pela FIM?
R: “Esta informação foi negada pelo Sr. Vito Hipolito com uma carta que ele emitiu para CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo) Como por CBM, ele não pode ser FIM porque ele não é afiliado pela Confederação Brasileira. certo? É fácil para todos irem ao site e calendário do FIM e ver que esta série não tem nada a ver com o FIM. Isso é totalmente gratuito e público.”
2- Ele disse no vídeo que sua barreira foi desenvolvida sob supervisão da FIM e informou uma foto dizendo que você o ajudou a desenvolvê-la. Ele também disse que tem um relacionamento muito próximo com a FIM e que ele teve uma reunião com você em setembro passado discutir sobre barreiras de segurança. Isso é verdade?
R: “Novamente no site da FIM há um documento chamado "2018 standards for circuit" que define claramente todos os requisitos em termos de segurança para obter uma homologação da FIM. (a propósito, a Interlagos não é homologada pela FIM e está muito longe do padrão mínimo) O Artigo 4.1 do documento indica o nome de todos os fabricantes e os modelos de dispositivos de proteção adicionais que são homologados pela FIM. O Sr. Bruno Corano não faz parte dessa lista e, até onde eu sei, a FIM não tem um relacionamento próximo com ele. Eu o conheci muitos anos atrás em Imola (acho que há quatro anos) durante um evento de Superbike, ele estava presente como jornalista e me pediu uma entrevista falando sobre todos os tópicos gerais da superbike, como todo jornalista pode fazer. Não houve nada de surpreendente, falamos de corridas, segurança, penalidades, estas coisas. Mas NUNCA eu da FIM trabalhei com ele para desenvolver qualquer tipo de dispositivo de proteção adicional (passagem aérea). E desde essa velha entrevista eu nunca mais falo com o Bruno Corano. As fotos que ele está usando foram tiradas durante esta entrevista antiga”
Feito tais esclarecimentos, necessário transcrever parte do que um amigo, piloto experiente, que correu ao lado de Eric Granado, nossa maior esperança no Mundial de Motovelocidade, este ano participando da categoria MOTO2, desabafou em sua página no Facebook: “É péssimo voltar a este assunto, mas infelizmente mais um de nossos amigos faleceu praticando o esporte que a gente tanto ama........ Até quando? Estatística é uma ciência exata, e ela está mostrando escancaradamente que TODOS NÓS estamos ERRANDO....... E são ERROS FATAIS........ A culpa é de TODOS....... Eu, que tenho mais de 20 anos de pista, vejo que nos últimos 5 anos os graves acidentes estão acontecendo com muita frequência, e o número de acidentes fatais está em franco crescimento........ Não dá mais para tapar o sol com a peneira....... Na minha humilde opinião, deve-se PROIBIR corridas de "novatos", pilotos de "final de semana" e categorias "escola" com motos de 1000cc........ Hoje qualquer moto desta cilindrada tem mais de 170CV, ou seja, é praticamente um carro de F1 de duas rodas..... E esta categoria deveria ser RESTRITA apenas a PILOTOS PROFISSIONAIS...... Estamos assistindo AMIGOS morrerem em todos os AUTÓDROMOS do Brasil...... E a grande maioria dos acidentes são com motos de 1000cc..... E em especial nas mãos de "pilotos não profissionais"...... O que me leva a crer que o RISCO assumido em se subir numa moto de mais de 170CV, num GRID com mais de 40 motos onde existe uma ABISSAL diferença entre a capacidade técnica dos pilotos...... É a PRINCIPAL causa de GRANDES ACIDENTES........ Não dá mais........ E a CULPA É NOSSA!!!!!! O uso de equipamentos de segurança como AIR-FENCE é imprescindível sim..... Mas temos que REGULAMENTAR corretamente as categorias......... Moto de 1000cc é para PROFISSIONAIS!!!!!!! 600cc é para quem já tem EXPERIÊNCIA em categorias de BASE........ Quer correr? Vá de 500cc, ou 300cc.......... Chega, por favor!” 26/06/2018 - Sérgio de Ferreira
Vale lembrar que os fabricantes não tem poder de administração no evento. Dado a exigência do consumidor, os fabricantes querem sim investir, tem investido e cabe uma reflexão sobre o retorno que está se colhendo não só de mídia, mas da imagem do motociclismo. Há uma pesquisa que identifca que cada acidente com moto, independente do habitat, afasta sete pessoas do mundo das duas rodas.
Foi falado em custo, que também me deixou perplexo, já que algumas vezes cotei a Airfence para possíveis eventos e foi passado o valor de R$ 4 mil reais a diária, confirmado por Leo Pereira há menos de duas semanas. Se o campeonato SBK tem mais de 300 pilotos, R$ 12 mil reais (sexta, sábado e domingo) dividido por 300, resulta em custo total de R$ 40 reais por piloto, sem necessidade da organização subsidiar qualquer valor.
Bem menos do que é está sendo exigido por meio de comunicado do SBK 2018, click aqui para ler, R$ 70 por etapa dos pilotos de 300 a 500cc, R$ 100 por etapa do pilotos 600 a 1000cc, isentando os pilotos da categoria Junior Cup.
Necessários tais esclarecimentos, volto a afirmar, o mercado (fabricantes, comerciantes, consumidores) merece respeito e o Brasil que tem pleiteado muito, uma etapa do Mundial de MOTOGP não pode ter sua imagem e reputação manchada por afirmações desconexas e pior, irresponsável, ligando o nome da entidade máxima do esporte FIM e de Diretor de Segurança a episódios ou fatos que não participaram ou ainda pior, desconhecem.
Por e-mail foi perguntado a SPTURIS, responsável pelo Autódromo José Carlos Pace - Interlagos, todavia, não houve resposta:
“Estou fazendo uma matéria para publicar no R7 e lendo o contrato de cessão do autódromo, tudo indica que o cessionário não está cumprindo a cláusula 4.7.
Pergunto:
1) qual o controle exercido pela SPTURIS e Prefeitura Municipal para que seja cumprido o contrato, especialmente quando se tem acidentes cotidianamente?
1.1) Sabe informar quantos acidentes fatais teve no autódromo na última década em provas de motociclismo?
2) qual o procedimento administrativo adotado quando há acidente com morte ou que vem falecer em decorrência do acidente dentro do autódromo?
3) é de conhecimento da administração do autódromo a necessidade de barreiras de segurança homologadas pela FIM para a prática de motociclismo, especialmente quando o autódromo não é homologado pela entidade máxima mundial(FIM)?
4) é de conhecimento da administração, de que no Brasil já conta com esse dispositivo do fabricante AIRFENCE, equipamento utilizado nas provas do Mundial de MOTOGP e WSBK - Mundial de Super Bike?” Click aqui para ler o contrato 03/2018.
Por fim, o canal está aberto para alguns citados e personagens: Bruno Corano, Leo Pereira, Alexandre Barros, Eric Granado, Pirelli, Honda, BMW e demais instituições ou pessoas que de alguma forma foram mencionadas ou que patrocinam o evento.
O canal também está aberto a SPTURIS e Prefeitura Municipal de São Paulo.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.