Anuário do peixe brasileiro traça um raio-x do cultivo no país
A tilápia representa 70% da piscicultura e somos o 4º maior produtor mundial

A Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) estima que, até 2030, o Brasil deve superar o Egito — atualmente o terceiro colocado no ranking global — responsável pela produção de 1,25 milhão de toneladas de tilápia por ano.
Atualmente, a China, a Indonésia e o Egito estão à frente do Brasil. A tilápia representa quase 70% da piscicultura brasileira, que também inclui peixes nativos como o tambaqui e o pirarucu.
O Paraná é o estado que mais produz peixes de cultivo no Brasil, seguido por São Paulo, Minas Gerais, Rondônia e Santa Catarina.
Esses e outros dados do mercado global de peixes de cultivo constam no “Anuário PeixeBR 2025”, que será lançado hoje, em São Paulo, na Fiesp.
O Mundo Agro conversou com Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).

Mundo Agro: Como está o mercado hoje de piscicultura no Brasil?
Francisco Medeiros: No Brasil, quase 70% de tudo o que cultivamos hoje é tilápia. No entanto, temos outras espécies, principalmente peixes nativos. Também temos uma produção significativa de truta no sul de Minas e, na região sul, além da truta, a carpa. No Nordeste, a produção de panga também tem crescido. Existem outras espécies que se destacam, mas com oscilações na produção. No geral, nossa estrela principal continua sendo a tilápia. Trabalhamos para que outras espécies também cresçam, diversificando a oferta de produtos para o consumidor.
Mundo Agro: Quais os desafios do setor para este ano?
Francisco Medeiros: O grande desafio para 2025 é o mercado. Estamos enfrentando uma perda de poder aquisitivo por parte do consumidor, além de um aumento significativo nos custos de produção. A taxa de juros mais alta, devido aos subsídios dos juros agrícolas, também impacta o setor. É um ano desafiador, e o foco deve ser a redução de custos e a busca por novos mercados e consumidores em outras regiões, para manter o crescimento anual do negócio.
Mundo Agro: Como foi 2024?
Francisco Medeiros: 2024 foi um ano bem diferente. Tivemos uma grande produção, especialmente de tilápia. O aumento da oferta resultou em uma redução nos preços pagos ao produtor. Por outro lado, a produção de peixes nativos, como tambaqui e pintado, teve uma redução nos últimos anos, o que acabou resultando em um aumento nos preços pagos aos produtores em 2023. Ou seja, duas realidades diferentes dentro do mesmo setor. Mas, no geral, foi um ano positivo, pois continuamos a crescer tanto no mercado interno quanto no externo.
Mundo Agro: De que forma as mudanças climáticas afetam a produção e o produto final ?
Francisco Medeiros: Na piscicultura, lidamos com o clima, que é a única variável que não é estável. Cada ano traz um desafio diferente, e já estamos acostumados com essa variabilidade. Especificamente, em 2024, o clima nas regiões Sul e Sudeste foi mais ameno, o que permitiu que a tilápia continuasse crescendo, aumentando o peso médio de abate e a oferta para o consumidor. Isso teve um impacto negativo nos preços, mas esses processos climáticos são normais. A cada ano, é uma surpresa diferente.
Mundo Agro: O Anuário traz um raio-x do setor. Somos o 4º maior produtor de tilápia. A Tilápia é nossa “estrela”...
Francisco Medeiros: O Anuário da Piscicultura 2025 é a nona edição e tem sido fundamental para a piscicultura brasileira, pois gera dados e indicadores. Antes dele, não sabíamos quem produzia, quanto produzia, o que produzia ou onde produzia. Sem essas informações, não é possível planejar de forma eficaz. O sucesso da piscicultura brasileira não é obra do acaso, mas fruto de um trabalho consistente desde a base. Hoje, temos indicadores como o CPI Peixe BR, o monitoramento de importação e exportação de peixes, realizado pela Embrapa Pescas e Aquicultura, e o governo com o Peixe BR. Esses dados fornecem subsídios para que os empresários façam investimentos mais seguros e bem planejados.
Mundo Agro: Quais são os países que mais compram de nós? Quanto da produção fica para consumo e quanto vai para fora?
Francisco Medeiros: As exportações brasileiras cresceram mais de 100% em 2024, em comparação a 2023. Mais de 90% das nossas exportações vão para os Estados Unidos, que é o maior importador mundial, principalmente de filé de tilápia. Exportamos também para o Canadá, países da América do Sul, países árabes e para a Ásia. Atualmente, vendemos para mais de 40 países. Em 2023, éramos o 4º maior exportador de filé fresco para os Estados Unidos, e em 2024 já passamos para o 2º lugar. Ainda temos muito a conquistar nos mercados próximos. Também estamos explorando novos mercados, especialmente na União Europeia, que ainda não pode ser acessada devido a questões relacionadas à pesca, não à piscicultura. Esperamos que esse mercado se abra mais nos próximos anos. As exportações brasileiras ainda são pequenas em comparação com o mercado interno. Em média, cerca de 3% da produção vai para o mercado externo, mas as empresas estão trabalhando para aumentar essa participação, e acreditamos que, na próxima década, cerca de 20% a 25% da produção será destinada à exportação.
Mundo Agro: O brasileiro não tem hábito de comer muito peixe em comparação com outros países. E, quando come, é mais peixe de água salgada, não? Qual seria o percentual de consumo de peixe de água doce e salgada?
Francisco Medeiros: Hoje, no Brasil, a maioria do consumo de peixe é de água doce. Até 15 anos atrás, o peixe de água salgada predominava. No entanto, hoje a maioria é de peixe de cultivo, como tilápia, tambaqui, pintado e tambatinga — em parte devido à importação de panga do Vietnã. Isso reflete uma mudança nos hábitos alimentares e uma nova cultura na sociedade brasileira. O consumo de peixes de cultivo, como os de fazenda, está aumentando. Esses peixes são mais seguros, saborosos, competitivos e saudáveis.