Saiba como renegociar suas dívidas e quais cuidados você deve tomar
Acordo deve começar por gastos essenciais, como água, luz e gás, que podem afetar o dia a dia. Contas com juro alto vem depois
Renda Extra|Márcia Rodrigues, do R7
Sair do endividamento não é uma tarefa muito fácil. Quando se vive um período de crise, como a gerada pela pandemia do novo coronavírus, a situação pode se agravar ainda mais.
Uma pesquisa divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), nesta quinta-feira (18), apontou que dois em cada três brasileiros tinham dívidas em janeiro.
Com os boletos se acumulando e os débitos com o cartão de crédito e empréstimos pessoais se triplicando por causa das elevadas taxas de juros, como desatar este nó para arrumar a casa e começar a colocar as contas em dia?
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A prioridade é pagar as contas de serviços essenciais: água, luz, gás e aluguel, diz Marcel Solimeo, economista chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), para a situação não se agravar ainda mais.
Com os serviços essenciais garantidos, o negócio é renegociar as dívidas que detêm os maiores juros do mercado: cartão de crédito e cheque especial.
Antes de iniciar esse processo de procurar o credor e tentar fechar um acordo, é preciso organizar todas as finanças da casa.
Não adianta assumir uma renegociação e não conseguir honrar os pagamentos depois. Marcel Solimeo.
A educadora financeira Teresa Tayra lembra que é importante certificar-se que a parcela negociada cabe no seu orçamento, pois a dívida pode aumentar caso o acordo não seja cumprido.
Em muitos casos%2C se você não honrar o pagamento de todas as parcelas%2C o valor da dívida volta ao valor total%2C ignorando as parcelas já pagas. Uma vez feito um acordo%2C se planeje para pagar todas. Teresa Tayra
O primeiro passo é elaborar um fluxo de caixa, que é a anotação de receitas líquidas (sem impostos) e despesas em planilha eletrônica, aplicativo ou caderno, orienta Rejane Tamoto, planejadora financeira.
Nesse processo é legal categorizar os gastos dentro de cada um dos grupos%3A moradia%2C alimentação%2C comunicação%2C saúde%2C educação%2C transporte%2C lazer e despesas pessoais. Depois%2C escolha de quais despesas podem ser renegociadas ou trocadas por outras de menor valor. Rejane Tamoto
Confira 9 dicas dos três especialistas:
1) Organize a casa
Faça as contas e elabore um orçamento rigoroso para saber qual é o seu rendimento mensal, suas despesas e veja quanto dispõe para começar a pagar as dívidas.
Para isso, elabore um fluxo de caixa – que é a anotação de receitas líquidas (sem impostos) e despesas – em planilha eletrônica, aplicativo ou caderno.
Ao anotar, é necessário categorizá-las dentro de cada um dos grupos: moradia, alimentação, comunicação, saúde, educação, transporte, lazer e despesas pessoais.
2) Corte os gastos
O próximo passo consiste na escolha de quais despesas podem ser renegociadas ou trocadas por outras de menor valor.
É o caso de planos de internet, telefone e TV. Se você acha que está pagando muito caro, consulte outras operadoras e peça a portabilidade. O nome pode assustar, mas é uma forma de reduzir os gastos mensais.
3) Fuja do desperdício
Para colocar as contas em dia, todo corte de gasto é válido. Por isso, deve ser levada em conta a redução da conta de energia com uma possível adesão à tarifa branca.
O mesmo vale para a conta de água, que todos devem colaborar com a economia, inclusive, por causa do período de estiagem.
O desperdício de alimentos também é uma realidade nas casas de muitas famílias. Para evitar gastos desnecessários com alimentação, elabore um cardápio semanal e vá ao supermercado ou feira com uma lista e siga à risca suas anotações.
4) Converse com a família
Antes de pagar as dívidas, é preciso reunir a família (inclusive as crianças), apresentar o problema e discutir as alternativas.
Para pagar as dívidas atrasadas, a família terá de repensar o seu padrão de vida, pois a sua força de pagamento será reduzida nos próximos meses, com o início do pagamento das parcelas.
5) Por onde começar?
A etapa seguinte é renegociar suas dívidas e reduzir a taxa de juros que paga atualmente. Se essas dívidas estão concentradas em modalidades como o rotativo do cartão de crédito e/ou cheque especial, deve-se, o quanto antes, tomar outro empréstimo a uma taxa de juros menor para quitá-las.
Quem atua como servidor público, trabalhador do setor privado ou é beneficiário do INSS pode ainda usar o crédito consignado, que tem taxa de juros menor, para refinanciar as dívidas.
Para os que não se enquadram nas regras acima, mas que tem algum bem que possa ser colocado em garantia, pode buscar o crédito com garantia de imóvel ou veículo.
A taxa de juros costuma ser menor do que a do crédito consignado, mas isso dependerá do perfil de cada um.
Em geral, é mais barato porque o imóvel ou veículo quitado fica em garantia para o banco. O risco de contratar o crédito é o de perder o imóvel ou o veículo se não conseguir pagar as parcelas.
Por isso é muito importante seguir as etapas iniciais e montar o fluxo de caixa e orçamento. Esse trabalho ajudará a entender a real capacidade financeira de pagar parcelas da sua dívida e fazer uma renegociação sem ter prejuízos no futuro.
6) Reúna os credores
Se as dívidas envolverem várias lojas, o consumidor pode procurar a ACSP para ajudar na negociação.
O departamento jurídico da associação junta todos os credores para negociar. Ele verifica quanto o devedor pode dispor por mês para pagar a dívida e rateia entre os credores.
Outra opção é usar serviços como o programa super endividados do Procon-SP para renegociar junto aos seus credores. Talvez o tipo de dívida que você tenha, cabe a avaliação sobre juros abusivos. E com isso, o programa pode te ajudar.
Se os débitos forem com bancos, a recomendação é somar todas as dívidas e tentar negociar tudo em um único pagamento por mês.
7) Hora de desapegar
Separe objetos que não utiliza e que estejam em bom estado. Anuncie tudo em sites de vendas online ou para os amigos pelo WhatsApp.
Faça uma faxina geral em casa e veja do que é possível desapegar: roupas, eletros-eletrônicos, jogos, sapatos e outros produtos que não utiliza mais.
8) Busque renda extra
É hora de resgatar aquele talento que você expõe somente para a família e amigos e transforma-lo em uma fonte de renda extra.
Talvez algo que você julgue pontual para enfrentar a crise, possa virar a fonte de renda da família.
9) Identifique o gatilho
Para sair do endividamento de vez e não ter nenhuma recaída, é importante identificar os motivos que o levaram a essa situação. Os maiores causadores das dívidas são:
• Falta de controle no orçamento
• Uso sem consciência de crédito (exemplo cartão de crédito, cheque especial)
• Viver em um padrão de vida acima que seu orçamento permite
• Emprestar cartões de crédito ou o ser fiador de parente e amigos.
• Falta de reserva de emergência
Saber a causa raiz de sua dívida é o maior aprendizado que se possa ter. Pois tão importante que sair das dívidas, é não entrar mais nelas.