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‘Tios’ das vans escolares viram entregadores na pandemia

Sem aulas presenciais, motoristas tiveram de buscar alternativas para levantar renda e sustentar a família no último ano

Renda Extra|Márcia Rodrigues, do R7

Motorista de transporte escolar em carreata por apoio à categoria
Motorista de transporte escolar em carreata por apoio à categoria Motorista de transporte escolar em carreata por apoio à categoria

Todos os dias, debaixo de chuva ou de sol, Hemerson Luiz Campos (o Tio Hemerson, como gosta de ser chamado), levava e buscava estudantes em três horários: manhã, tarde e noite.

A rotina, seguida durante 14 anos, foi interrompida em março do ano passado quando a pandemia do novo coronavírus chegou fortemente no Brasil.

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De lá para cá, foram várias tentativas para sobreviver. Ele se desfez de bens para conseguir manter as contas em dia, tentou atuar como motorista de aplicativo e, há dois meses, vem fazendo entregas de compras de supermercados.

Eu que trabalhava 8 horas por dia contando os intervalos entre os turnos escolares%2C hoje fico até 10 horas na rua para ganhar menos da metade do que ganhava com o transporte de crianças%2C carregando peso sem expectativa da situação melhorar até 2022.

(Tio Hemerson)

O caso de Campos é compartilhado por toda a categoria que viu sua atividade remunerada – que exige curso especial, documentação específica e uma rotina de inspeção veicular – ser interrompida de uma hora para outra.

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Pandemia atinge 12 mil motoristas só em SP

A estimativa da Ugetesp (União Geral do Transporte Escolar de São Paulo) é de que 12 mil profissionais tiveram seus contratos de prestação de serviços – assinados com pais e prefeitura – suspensos só no estado de São Paulo.

Muitos tiveram de se desfazer do carro%2C que era seu instrumento de trabalho%2C ou se reinventar vendendo frutas ou qualquer outro produto para ter algum rendimento.

(Anderson Malafaia presidente da Ugetesp)

Malafaia disse que, como entidade representativa da categoria, foi até o Mercado Livre e a Direct oferecer o serviço dos motoristas.

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“O comércio eletrônico cresceu muito no período e podíamos fazer o serviço de transportes de produtos. Cerca de 100 motoristas realizam esse tipo de trabalho no momento.”

Além desse grupo, Malafaia diz que há motoristas inscritos na prefeitura para realizar o transporte de crianças que foram direcionados para prestar serviço em outras autarquias do município.

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“Quem aceitou o serviço vem recebendo integralmente o que ganhava para transportar crianças. Quem não aceitou, está em casa recebendo 50% do que tirava por mês.”

‘Fomos esquecidos’, lamenta motorista

Marcos Roberto Ferreira, o Tio Marcos, como prefere ser chamado, começou a atuar com o transporte escolar em 2019.

Tio Marcos sempre sonhou em ser motorista de transporte escolar
Tio Marcos sempre sonhou em ser motorista de transporte escolar Tio Marcos sempre sonhou em ser motorista de transporte escolar

"Era um sonho antigo, comprar minha van, tirar a licença e começar a transportar crianças. É muito gratificante ver a carinha delas, ver que elas te reconhecem e ouvir o tio Marcos saindo da boca delas", diz.

Ferreira diz que, além de reduzir os gastos na sua casa, precisou se desfazer do carro, da moto dos seus sonhos e manter apenas a van para trabalhar.

Das 7h ou 8h de trabalho que tinha com o transporte escolar, incluindo os intervalos que tinha para tomar café, almoçar, jantar e desfrutar de momentos com a família, desde julho do ano passado Ferreira trabalha mais de 12 horas por dia, sem intervalos e ver a família como gostaria.

“O que mais nos entristece é que fomos esquecidos e não tivemos nenhum apoio do governo para nos mantermos nesse período. Muitos motoristas tiveram de vender as vans porque não conseguiriam terminar de pagar o financiamento”, lamenta.

Monitora comprou van 2 meses antes da pandemia

Depois de atuar por um longo período como monitora na van escolar do seu irmão, Marcia Souza Cruz finalmente realizou o sonho de ter a sua própria van no início do ano passado.

Estava feliz e realizada por ter uma atividade que me permitia cuidar dos meus filhos%2C da casa%2C ir ao supermercado ou banco. Hoje eu não ganho 25% do que recebia com o transporte de crianças. Minha família só não passou fome porque meus irmãos nos ajudaram.

(Tia Marcia)

Assim como Campos e Ferreira, Marcia também reclama da falta de auxílio do governo. “Não estou pedindo dinheiro para ficar em casa. Eu quero trabalhar, mas quero uma atividade digna”, ressalta.

Márcia continua: “Fiz curso para atuar com o transporte escolar, paguei todas as licenças exigidas, além dos exames. Sou mãe solo e preciso de uma remuneração digna para sustentar minha família”.

A motorista e os colegas chegaram a participar de manifestações para pedir ajuda do governo, mas desanimaram com a falta de apoio para a categoria.

"Os políticos até que nos recebiam, mas nada saiu do papel até hoje", diz Ferreira.

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