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Caso Eduardo: professora diz que ele era o primeiro a correr de tiroteios no Alemão

Clima é de dor na escola onde menino estudava desde os cinco anos de idade

Rio de Janeiro|Bruna Oliveira, do R7

Colegas de Eduardo fizeram homenagem para menino morto; cartazes pedem paz no Complexo do Alemão
Colegas de Eduardo fizeram homenagem para menino morto; cartazes pedem paz no Complexo do Alemão

O Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Maestro Francisco Mignone, em Olaria, zona norte do Rio, ainda não retomou a rotina uma semana após a morte de Eduardo de Jesus Ferreira, de dez anos, vítima da violência no Complexo do Alemão. Alunos e professores estão abalados com a perda do menino que era considerado nota dez. No pátio, na sala de aula e nos murais, há diversas mensagens e homenagens para Eduardo. A reportagem do R7 foi à escola e ouviu da professora que a criança, morta por um tiro de fuzil, se queixava dos frequentes confrontos na comunidade em que morava. (assista ao vídeo abaixo)

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Da janela da sala 14, onde Eduardo estudava, é possível ver a Vila Cruzeiro, que integra o Complexo da Penha. Do outro lado, fica a localidade conhecida como Areal, no Complexo do Alemão, onde o menino morava. Apesar das comunidades contarem com UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), a região sofre com a violência. Tiroteios entre policiais e criminosos se intensificaram dias antes de o menino ser morto. Segundo a professora Bianca Dantas, ele já havia demonstrado receio por viver numa área de risco. Ela contou que Eduardo falava sobre a violência na escola. 


— Eduardo sempre teve muito medo. Ele contava para os professores o que via e ficava chateado com as cenas que presenciava. Ele sempre era o primeiro a correr em momentos como esse. Eduardo era um menino da paz. Eu dizia para ele rezar e ter fé. Os pais dele eram muito presentes. A mãe, Teresinha, ficava muito preocupada com os confrontos na comunidade. Ela me ligava para saber como o filho estava e vinha buscá-lo. Eles não mereciam passar por isso.

No pátio da escola, estão espalhados cartazes que lembram a tragédia. Os amigos de Eduardo desenharam anjos, escreveram mensagens saudosas e pediram paz. A homenagem foi organizada pela professora Bianca no primeiro dia de aula após a morte do menino, na última segunda-feira (6). Além disso, todos fizeram um minuto de silêncio e participaram de uma oração.


Desde os cinco anos de idade, Eduardo estudava no Ciep Maestro Francisco Mignone. Ele cursava o 5º ano do ensino fundamental e tinha aulas em tempo integral — das 7h30 até as 14h30. Um dos melhores alunos da classe, o menino gostava ler e escrever. O estudante tirava boas notas nas redações. Em um dos últimos textos que produziu, ele contou uma historinha sobre a música.

— Eduardo sempre foi questionador, queria saber o porquê de tudo. Gostava de escrever, fazia teatro e tocava flauta. Os melhores alunos fazem flauta, porque precisa ter um cuidado com instrumento e levá-lo para casa.


Carteira de Eduardo tem cadernos, lancheira e foto do menino
Carteira de Eduardo tem cadernos, lancheira e foto do menino

Na turma 1501, a carteira, que Eduardo sentava, ainda permanece na sala. Sobre a mesa estão cadernos, trabalhos e uma lancheira. Os amiguinhos colaram uma foto do menino na cadeira. Para superar o momento de dor, a professora quer desenvolver atividades pedagógicas com os colegas de sala de Eduardo. Bianca quer evitar que as crianças fiquem traumatizadas.

— Pretendo fazer trabalhos por escrito, poemas. O clima é de muita tristeza. Quero que os alunos coloquem para fora o que estão sentido. Para criança, é muito difícil lidar com a perda.

Todos na escola guardam boas recordações de Eduardo. Para o diretor-adjunto Carlos de Lima, a imagem que fica é do último dia do garoto no colégio, na quarta-feira (1º), às vésperas da Páscoa. Nesse dia, o menino foi o encarregado de distribuir os chocolates aos funcionários da escola.

— Estou aqui há poucos meses e não o conhecia, não tinha muito contato. Quando me falaram que o menino que tinha morrido era o mesmo que tinha distribuído o chocolate, nesse momento, me lembrei do rosto dele. O que deixou nos últimos dias foi esse ato de carinho.

A diretora-adjunta, Valéria Salgado, lamentou que Eduardo tenha sido o primeiro aluno da escola vítima da violência.

— Esperamos que ele tenha sido a primeira vítima e a última. Nosso colégio fica próximo à comunidade, mas procuramos trabalhar com tranquilidade para ofercer um ambiente seguro para os alunos. Eduardo era muito participativo e amoroso. Nosso coração está muito triste.

Assista ao vídeo:

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