Professores da rede estadual mantêm greve e protestam na frente da Alerj
Categoria acompanha votação de lei previdenciária para servidores estaduais
Rio de Janeiro|Do R7, com Agência Estado
Professores da rede estadual de ensino, em greve desde o início do mês, fazem uma nova manifestação nesta quarta-feira (30) no centro do Rio. O grupo se reunia no começo da tarde de hoje em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) para acompanhar a votação de um projeto de lei que modifica o regime previdenciário dos servidores do Estado.
A vigília estava prevista para começar após a assembleia do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro) realizada na manhã desta quarta, que decidiu manter a greve, iniciada no último dia 2.
Segundo a assessoria do sindicato, um professor foi agredido pelos seguranças da Alerj, quando tentava entrar no plenário. O Sepe deve se reunir novamente no dia 6 de abril.
Escolas ocupadas
Na tarde de ontem, o secretário estadual de Educação, Antônio Vieira Neto, se reuniu com alunos que ocupam duas escolas no Rio, mas o encontro terminou sem acordo. Estudantes que representam o movimento, apoiado pelo Sepe, apresentaram reivindicações e levaram contrapropostas para serem debatidas em assembleias que devem ser realizadas hoje.
A Escola Estadual Prefeito Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, foi ocupada no último dia 21. Já a Gomes Freire, na Penha, foi ocupada na segunda-feira (28). Um pedido de reintegração de posse foi feito pela pasta, que informou que vai retirar o pedido quando o movimento terminar. No comunicado, a secretaria disse que após o fim da ocupação serão tomadas medidas como "conversar com a direção das duas unidades para que organizem o grêmio estudantil e fortaleçam os conselhos escolares". Também foi prometido verificar a necessidade de melhorias na infraestrutura das escolas. Os alunos reclamam que elas alagam quando chove.
Cerca de 100 estudantes estão no colégio da Ilha, na zona norte. Eles, que reclamam de cortes na educação, da superlotação das salas e da falta de professores, porteiros, inspetores e vigias, se solidarizam com a greve dos docentes, iniciada no último dia 2, e reivindicam a utilização de toda a infraestrutura da escola nos três turnos, o corte do currículo mínimo (conjunto de competências e habilidades básicas que devem estar contidas nos planos de curso e nas aulas) e o fim do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (Saerj), realizada anualmente.
O colégio tem sala de dança e laboratório de informática, mas, segundo os alunos, nunca foram abertos para eles. Nos fundos da escola, há um amontoado com centenas de livros didáticos, ainda empacotados, que foram molhados porque ficaram ao relento. Também há dezenas de carteiras quebradas.
A secretaria argumentou que há discussão nacional em andamento sobre o currículo escolar, que prevê a elaboração da Base Nacional Comum Curricular, e alegou ter contratado, desde 2007, 71 mil professores concursados.
Ana Clara Alves, de 16 anos, disse que os estudantes participaram de atos do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação em frente à Assembleia Legislativa e no Largo do Machado. "Depois disso, fizemos algumas assembleias e decidimos que faríamos a ocupação", disse.
O grupo também tem apoio da Associação Nacional dos Estudantes Livre! (Anel), criada como oposição à União Nacional dos Estudantes (UNE), apontada como governista e ligada ao PCdoB. A Anel é formada, majoritariamente, por partidários do PSTU. Os alunos sustentam que a ocupação não tem motivação partidária. "Cada um tem a liberdade para escolher um partido, mas, do portão para dentro, a única política que a gente discute é a educacional", afirmou Ana Clara.
Os ocupantes dormem em três salas de aula no segundo pavimento, com meninas separadas dos rapazes. A terceira sala é usada pelos estudantes da "ronda de segurança" no período noturno. Os alimentos, colchonetes e produtos de limpeza foram doados por entidades como o Sepe, a ONG Redes da Maré e por estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Os universitários têm dado aulas para os estudantes. Nesta terça, eles tiveram reuniões com acadêmicos de História e Geografia da UFRJ para tratar de geopolítica. "Vamos falar sobre a 2ª Guerra Mundial e relacionar com o discurso de ódio presente hoje na sociedade", disse a universitária Bruna Aguiar, de 28 anos.
Ex-aluno da escola, hoje estudante de geografia da UFRJ, Matheus Tavares, de 21 anos, disse que colabora com o grupo que promove a ocupação porque na sua época também faltavam professores. "Fico emocionado com o exemplo de autogestão. Eles são organizados e fazem a própria comida." O cardápio desta terça era arroz, purê e frango empanado.
O Colégio Estadual Gomes Freire, na zona norte, é mantido trancado com cadeado. O grupo só permite a entrada de outros alunos. Ninguém deu entrevista.