Cansaço, suor e silêncio: o trabalho dos bombeiros em buscas de vítimas
Equipes se revezam a cada 24h no local dos escombros, em turnos de 40 minutos de descanso e 40 minutos de trabalho
São Paulo|Márcio Neves, do R7
A cada 40 minutos uma equipe, entre sete e dez bombeiros, sai da 'zona quente' - nome atríbuído pelo Corpo de Bombeiros para o local onde onde estão os escombros do Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou no dia 1º após um incêndio causado por um curto circuito. A reportagem do R7 acompanhou nesta terça-feira (8) o perído de descanso das equipes que trabalham no local.
"É um serviço pesado, retirar partes de concreto, partes de metal. É um trabalho muito árduo. Como o acesso ao local é complicado, com muitos escombros, a atenção tem que ser redobrada", afirma o 1º tenente do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Diego Rodrigues dos Santos, que é o líder de uma das equipes dos 51 homens.
Eles caminham em fila, e na maioria das vezes em silêncio. Nenhum sinal e nenhuma reação é esboçada. Aos poucos, quando passam pela zona morna, local intermediário e de acesso das equipes de resgate, são registrados movimentos lentos, quase que em câmera lenta, feitos para retirar parte dos equipamentos de segurança que utilizam, como o capacete, cintos e máscaras.
Removido o aparato, os olhos denunciam o cansaço e certa sensação de alívio.
"Hoje nós estamos nos revezando em turno de 40 por 40. São 40 minutos trabalhando e 40 minutos de descanso que segue em uma jornada de 24 horas de trabalho", explica Diego.
Sem reclamações a equipe caminha para uma tenda que fica na zona fria, local onde se concentra as equipes de comando, imprensa, e locais de descanso das equipes que trabalham no resgate. No local eles tem a disposição água, sucos e lanches.
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De maneira quase unânime todos pegam copos de água e bebem em um gole único. O cansaço fica evidente quando sentam nos bancos e esticam as pernas, quase como se quisessem deitar. Nas roupas, muita terra e suor. O silêncio é rompido por alguma conversa de amigos, mas quase imperceptível.
"A tensão sempre existe, é cansativo, mas a gente dá 100% de nós para dar respaldo aos familiares. Nesse momento de descanso é a hora de repor as energias, pois ainda temos mais trabalho", diz o tenente, representando sua equipe.
Passado os 40 minutos de descanso, a equipe inicia o ritual inverso. Se esticam, alongam e novamente em silêncio vão caminhando da "zona fria" para a "zona morna".
No percurso, aos poucos, vão recolocando seus equipamentos de segurança, para uma nova rodada de buscas.
"A esperança é que a cada turno, encontremos uma vítima ou até mesmo um sobrevivente", diz Diego pouco antes de iniciar a nova jornada de trabalho nos escombros.
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A equipe do tenente Diego entra na "zona quente" e instantes depois uma outra equipe saí do local e segue o mesmo rito, em um ciclo que já dura 8 dias de buscas por vítimas e, talvez, sobreviventes deste desabamento.